Viajar para o Parque do Banhine é embarcar numa aventura sem precedentes. Precisa de fôlego e quem para lá vai deve ser apreciador da natureza, ter o físico e a mente preparada para enfrentar uma distância bem longa, feita em terra batida, com solavancos de todos os calibres e ignorar o que diz o relógio. E mesmo assim… fôlego precisa-se.
Para quem decide fazer a viagem pelo Sul, entrando pelo Açude de Macarretane, que fica na divisa entre os distritos e Chókwe e Guijá, o asfalto só dura mais cinco minutos. O resto são uns 115 quilómetros de terra batida até à vila sede do distrito de Chigubo que, nestes casos funciona como último entreposto onde se pode adquirir de tudo um pouco e se vê alguma urbanização.
Este percurso tem troços “tragáveis”, graças às obras de rotina, mas também comporta pontos simplesmente aterradores. Pior porque a paisagem é repetitiva. São quilómetros que parecem duplicados. A conversa esgota. As anedotas acabam. Os estilos e poses, idem.
A vila de Chigubo por fim emerge e, geralmente é o telemóvel que sinaliza quando se está a uns 10 quilómetros. Chamadas e mensagens inundam os aparelhos de comunicação. Há que fazer uma paragem aqui. Procura-se as barracas, toma-se um líquido qualquer, come-se algo, fazem-se alguns exercícios e a verdadeira viagem começa.
Daqui em diante a floresta é a companhia infalível. Uma manada de bovinos aqui e outra de caprinos surge por ali. Depois tem uma aldeia separada da outra por muitos quilómetros. De resto é anda-se a bom andar. O piso se torna penoso. Pura aventura.
Depois de mais de 150 quilómetros, se alcança a entrada da administração do Banhine. Estamos esgotados que até prescindimos da refeição. Depois de uma noite de repouso bem merecido, juntamo-nos a um grupo de oito turistas alemães que para cá se deslocaram no quadro e um acordo existente entre o Banhine e um parque alemão para a venda da imagem deste parque moçambicano aquele país europeu.
No quadro deste entendimento, o Parque do Banhine ganhou um stand num museu construído no referido parque alemão onde são projectadas imagens e prestadas informações sobre a área de conservação moçambicana.
“São turistas voluntários que visitam a área, pagam pelo alojamento e ainda apoiam as comunidades com bens alimentares, assistência médica, entre outros”, disse Hélder Mandlate.
Com efeito, aquele grupo levava consigo cerca de três toneladas e meia de produtos alimentares que que ofereceu a alguns membros das comunidades de Catine, Hariane e Macuambe que estão a participar na construção de postos de fiscalização, numa iniciativa também denominada “comida pelo trabalho”. Em Abril deste ano, um outro grupo de 16 turistas alemães ofereceu quase quatro toneladas.
A comunidade local também beneficia de vários tipos de apoio oferecidos pelos turistas, com destaque para análises da qualidade da água captada em furos, que geralmente é salobre. Outros recebem assistência médica, como aconteceu com 10 habitantes locais que apresentavam sintomas de várias doenças.
MÁQUINA DE PROJUÍZOS
Para além de enfrentarem o calor, a seca e a caça furtiva, os fiscais do Parque Nacional de Banhine e toda a população que vive à sua volta enfrentam o drama da falta de água para o seu consumo diário. Os furos e poços dão água salobre que é consumida com a mesma alegria de quem bebe água doce.
No centro do recinto onde funciona a administração desta área de conservação foi instalada uma máquina de dessalinização da água e respectivo gerador, no quadro de um projecto de ajuda ao parque. Entretanto, pouco depois da instalação da máquina se verificou que houve exageros nos cálculos.
É que, para pôr aquele equipamento a funcionar era necessário investir em um mínimo de 100 litros de Diesel para que o gerador pudesse produzir energia suficiente para dessalinizar uns cinco mil litros de água. Como o parque ainda não produz tamanha receita e a água dessalgada não chega para tanto, o gerador foi desligado e a máquina foi dada como avariada.
Também se observa que, devido à morosidade no trâmite de processos judiciais referentes aos bens apreendidos na caça furtiva, a administração do Parque de Banhine virou parque de estacionamento de viaturas, tractores e até armazém de sacos de carvão, entre outros bens que vão deteriorando por ali.