O nosso país já foi o maior produtor mundial de castanha na década 70, com uma produção anual comercializada de cerca de 216 mil toneladas de castanha de caju, uma capacidade de processamento de 150 mil toneladas. O sector empregava mais de 20 mil operários.
Na época, a exportação de castanha bruta atingiu 70 mil toneladas e 24 mil toneladas de amêndoa processada. A contribuição chegou a representar 20 por cento do total de receitas de exportação do país. Aliás, entre 1972 e 1974 a amêndoa de caju chegou a contribuir com cerca de 30 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
Actualmente, mais de um milhão de famílias estão envolvidas na produção de caju, com uma média de comercialização de mais de 90 mil toneladas, sendo a capacidade de processamento de apenas 35 mil toneladas.
Aliás, este sector ainda tem muito caminho pela frente para voltar a colocar o país no topo dos produtores desta cultura. Segundo a directora do INCAJU, Filomena Maiópuè, um dos desafios é aumentar a produção e, para que isso aconteça, deve-se apostar em novos plantios, com variedades de boa produção e a amêndoa de boa qualidade.
Para além da produção, outra aposta será no aumento da capacidade de processamento com vista a evitar a exportação de amêndoa bruta. Para tal, deverão ser construídas mais fábricas em todo o território nacional. Por outro lado, este é um dos sectores mais promissores em termos de criação de novos postos de trabalho. A título de exemplo, actualmente emprega mais de 14 mil trabalhadores.
Segundo apurámos, serão desenvolvidas acções tendo em vista a organização do sector informal do processamento e comercialização da castanha e promover o aproveitamento do falso fruto e derivados.
“Vamos olhar, também, para o sector informal que deve ter melhores condições de processamento e embalagem; muitas vezes a castanha é vendida em bacias. Dentro dos informais podem ser formados grupos mais organizados de forma a contribuírem nos impostos”, disse.
Outra actividade que faz parte das perspectivas do sector está ligada a acções de investigação tendo em vista identificar clones tolerantes a pragas e doenças bem como pesticidas relativamente económicos para o controlo de pragas e doenças.
Refira-se que o INCAJU está a implementar o Plano Director 2 que determina que até 2020 o país deve produzir cerca de 170 mil toneladas de castanha de caju. Na indústria de processamento está estipulado que deverão ser processadas 100 mil toneladas contra as 30 mil toneladas que processadas actualmente.
“Tudo isto não é o INCAJU, como instituição do Governo, que deve fazer. Deve ser o sector privado, mas com nossa orientação. Se todos nós abraçarmos a causa podemos chegar a 200 mil toneladas porque terra temos, é só evitar queimadas descontroladas. Para isso, contamos com o envolvimento das autoridades locais, governos provinciais e distritais, entre outros”, referiu.
APENAS 13 FÁBRICAS
DE PROCESSAMENTO
Dados em nosso poder indicam que existem 13 fábricas no país. As fábricas existentes não estão a processar na totalidade a sua capacidade, mas mais uma será implantada em Nampula dentro em breve.
O país tem capacidade instalada de processamento de cerca de 40 mil toneladas, mas estão a ser processadas perto de 30 mil toneladas, o que significa que existe castanha que é processada informalmente e outra que é exportada em bruto.
Durante a campanha 2014-2015 foram comercializadas mais de 80 mil toneladas de castanha, dos quais cerca de 30 mil toneladas processadas industrialmente e outras 10 mil toneladas foram exportadas em bruto e o remanescente foi processado informalmente.
“Essa castanha processada informalmente é a que encontramos a venda durante todo o ano. Temos o caso da Macia, Muxúngue, Meconta, Nangade e as senhoras que circulam pelos bairros na província de Maputo. Sempre temos castanha a venda”, aludiu Filomena Maiópuè.
Por essa razão, durante a Conferência Internacional do Caju, também conhecido como Festival Mundial do Caju, que vai reunir mais de 300 peritos de todo o mundo, o INCAJU vai demonstrar as vantagens de se investir neste subsector em Moçambique, tendo em conta que temos terra e condições agro – ecológicas apropriadas.
Para tal, os responsáveis deste subsector no país serão responsáveis pela apresentação do primeiro tema designado “Caracterização do Agro-negócio do Caju e as oportunidades de investimentos em Moçambique”. A ideia é descrever o actual estágio deste sector, comparado com os anos passados, falar das oportunidades de investimentos existentes, legislação, entre outros.
A nossa Reportagem apurou que esta é a terceira vez que a reunião decorre no país. “Para nós, o facto de estar a acontecer pela terceira vez significa que há um ambiente de negócios favorável ao caju. A ACA sente-se confortável em pôr Moçambique como receptor deste evento”, sublinhou Filomena Maiópuè.
domingoapurou que os participantes do certame são provenientes de todos os países africanos produtores de caju, nomeadamente Gâmbia , Tanzânia, Ghana, Costa do Marfim , Benin, Nigéria, Burquina Faso, Senegal, Quénia e de países que intervêm na cadeia de valor, tais como Brasil, Índia, Itália, Vietname, entre outros.
Segundo a nossa fonte, o Festival do Caju, evento que antecede a IX Conferência Internacional do Caju, vai servir para divulgar o sector do caju do nosso país, pois Moçambique já foi um dos maiores produtores do mundo e esta cultura tem é importante para a economia nacional, através das exportações, embora a contribuição actual seja mínima se comparado há década 70.
A contribuição deste sector é de cerca de quatro por cento pela exportação da castanha bruta e da amêndoa do total na balança de pagamentos, o que contrasta com os 20 por cento que atingiu na década em referência.
OPORTUNIDADES DIVERSAS
O subsector do caju é um dos mais promissores tanto para recuperar o seu prestígio como em termos de criação de novos postos de trabalhos. Para atrair investidores, um dos chamarizes que o país possui é a vasta extensão de terra para esta cultura e boas condições climatéricas.
Para os interessados em investir no plantio de cajueiros existem espaços prontamente delimitados tanto na zona sul como no norte. A título de exemplo, na província de Cabo Delgado existe uma área de mais de 50 mil hectares, nos distritos de Palma, Nangade, Macomia, Balama e Chiure. Já em Nampula são cerca de 50 mil hectares, nos distritos de Meconta, Mogovolas, Muecate e Moma. Na Zambézia estão disponíveis mais de 25 mil hectares espalhados pelos distritos da Maganja da Costa, Gilé e Pebane.
Enquanto isso, na zona sul, para o caso da província de Inhambane estao disponíveis 75 mil hectares nos distritos Panda, Massinga, Funhalouro, Vilanculos e Mabote. Já em Gaza, são cerca de 70 mil hectares nos distritos de Chibuto e Chicualacuala.
Ainda existem oportunidades para investir no processamento da castanha de caju. No momento, existem apenas 13 fábricas de processamento no país, o que contribui para que uma parte da produção seja exportada em bruto, diminuindo o valor.
Segundo Filomena Maiópuè, em Nampula existem algumas fábricas, a produção também é grande, dai que ainda precise de mais unidades de processamento. “Processamento da castanha bruta é uma área de investimento. Temos apenas uma fábrica que faz amêndoa acabada, instalada no Parque de Beleluane e é a primeira experiência em África”.
A par disso, já existem países europeus que processam a amêndoa moçambicana mas embalam devidamente identificada. Tal é o caso do Governo da Noruega que lançou, recentemente, a amêndoa moçambicana e o Instituto de Fomento de Caju foi convidado para presenciar o evento. Na ocasião, representantes daquele país garantiram que a amêndoa moçambicana é uma das melhores que recebem e que iriam garantir que fosse consumida no país e além fronteiras.
Uma das vantagens desse gesto é que é possível saber a proveniência da amêndoa consumida, que no caso concreto é de Nampula. “Esta é uma situação boa para nós e constitui uma vantagem em relação a outros países africanos”.
Outra área que precisa de investimentos é no aproveitamento do falso fruto para produzir sumos, doces, vinhos, aguardentes entre outros, actualmente a produção é feita de forma artesanal. Tem ainda a indústria do óleo produzido a partir da casca, até ao momento só tem uma fábrica que está a ser montada em Nacala-a-Velha, em Nampula.
Texto de Angelina Mahumane