A população do distrito de Massingir, na província de Gaza, vive numa permanente mescla de sorte e azar. Tem em mãos uma barragem, uma importante reserva de flora e fauna, e potencial
para a produção de cana-de-açúcar. Porém, a economia local continua dependente de pequenos negócios, agricultura de subsistência e da criação de gado.
Massingir é dos distritos da província de Gaza que tem tudo para se soerguer e dar grandes passos no domínio económico. Basta que as obras de reabilitação da barragem sejam dadas por concluídas com êxito, que arranque o plantio de cana-de-açúcar para a produção de etanol e açúcar e que a Administração do Parque Nacional do Limpopo domine os bandos de caçadores furtivos que atrapalham o desenvolvimento do turismo.
Alcançados estes três objectivos, a vida neste distrito pode ganhar um novo rumo, tendo em conta que só com a produção de cana é possível gerar a volta de 30 mil postos de trabalho, dos quais cerca de sete mil empregos em regime permanente.
Entretanto, há cerca de um ano e meio que a empresa Massingir Agro-Industrial (MAI) não dá o passo decisivo rumo ao seu estabelecimento material no distrito, supostamente por razões burocráticas de vária índole, conforme revelou Artur Macamo, administrador do distrito.
“O atraso resulta do facto da empresa pretender captar água na albufeira e era preciso que a Direcção Nacional de Águas (DNA) e o Ministério da Energia se pronunciassem sobre o assunto, tendo em conta as necessidades de água para a produção agrícola nos distritos à jusante, com particular destaque para Chókwè, bem como para uma eventual produção de energia naquela barragem”, disse Macamo.
Um segundo constrangimento de carácter burocrático relaciona-se com a avaliação da iniciativa que, na óptica dos investidores devia estar se situar ao nível do simples “empresa agrícola”, quando o entendimento do Ministério das Finanças é o de que aquele é um “Mega-Projecto”.
Em relação à captação da água para a irrigação dos cerca de 30 mil hectares de cana, Artur Macamo afirma que foi acordado que a MAI deverá extrair 50 por cento na albufeira e outros 50 por cento no curso normal do rio, ou seja, à jusante.
Dados em nosso poder indicam que o projecto MAI, de capitais nacionais e sul-africanos, com suposta experiência na África do Sul e Suazilândia, pretende investir um total de 700 milhões de dólares no plantio de cana sacarina e na construção de uma fábrica de produção de etanol e açúcar.
Na nossa recente visita a este distrito, constatamos que as obras de reabilitação da barragem de Massingir decorrem a bom ritmo. Ali estão a ser investidos cerca de 29 milhões de dólares pois, “trata-se de uma infra-estrutura que requer muito cuidado pois, só se compactou areia e pedra. Não é uma barragem de betão, pelo que a sua manutenção é complexa”.
No que se refere à obra agora em curso, apurámos que estão a ser instalados novos descarregadores de cheias auxiliares ao mesmo tempo que são reabilitados os descarregadores de fundo para que se possa dar início à produção de energia e um controlo efectivo do volume da água ali armazenada.
“Presentemente, o controlo da água é um exercício que exige muita complexidade porque não estão a ser usadas fórmulas científicas. Deixa-se a água passar livremente pelos descarregadores de fundo”, sublinha Macamo.
Apuramos que aquando das últimas cheias, e devido aos problemas técnicos que esta barragem apresenta, os técnicos ali afectos abriram completamente as comportas mas, mesmo assim, o caudal da albufeira subia 10 centímetros por hora, ameaçando galgar o paredão e rebentar a infra-estrutura.
Fiscais do “Limpopo”
recebem novas armas
Enquanto o projecto MAI não sai do papel e a barragem de Massingir é reabilitada, sobra ao distrito de Massingir o desejo de ver o Parque Nacional do Limpopo (PNL) reestruturado para imprimir uma maior velocidade no programa de reassentamento e no combate à caça furtiva para que o turismo e a preservação total da flora e da fauna se materializem.
Fonte da administração do PNL revelou à nossa Reportagem que vários passos têm estado a ser dados nesse sentido, sendo um dos mais significativos a devolução das armas aos fiscais, facto que está presentemente em curso. “As armas já chegaram e assim poderemos nos posicionar melhor no terreno para estancar a caça furtiva que afecta este parque e também o Kruger National Park, da África do Sul”, indicou.
Trata-se de armas importadas com o apoio financeiro da Peace Parks Foundation (PPF) e com o aval do Comando da Polícia ao nível da província de Gaza, entidade que emitiu as necessárias licenças de importação e vai monitorar o respectivo uso.
Assim, e conforme nos foi revelado pela administração desta área de conservação, o corpo de fiscais passará a operar a partir de duas bases distintas, sendo uma localizada na sede da administração do parque e outra na região de Mapai, a norte do PNL.