Economia

O fim das maletas

Poupar dinheiro é um exercício complexo, sobretudo para quem usa o colchão, lata, saco plástico ou panela como cofre. Um incêndio, enxurrada ou malfeitor pode pôr fim a anos de 

trabalho árduo e privações auto-impostas com a finalidade comprar material de construção para melhorar a casa, adquirir electrodomésticos e móveis de sonho.

Na vila de Nametil, sede do distrito de Mogovolas, em Nampula, a nossa Reportagem presenciou uma sessão de PCR, do grupo que se atribuiu o sugestivo nome de “Combate a Pobreza”, cujos membros usam também duas maletas de madeira para guardar as suas economias.

Dado curioso é que os 30 integrantes desta colectividade residem na vila, onde funciona um banco comercial, mas poucos possuem conta bancária. Por enquanto preferem ver o seu dinheiro nas maletas, porque em caso de necessidade não vão enfrentar burocracias e muito menos passar pela difícil tarefa de ter que assinar correctamente àquela papelada do banco. É só solicitar uma reunião e ter o valor pretendido na mão.

Porque quase todos os membros possuem telefones celulares e dominam minimamente as técnicas de envio de mensagens, acreditam que com o serviço que o FARE, mCel e Ophavela pretendem introduzir será possível reduzirem o risco de desaparecimento daqueles cofres de madeira.

Enquanto as novas tecnologias são adaptadas e testadas, os membros do grupo “Combate à Pobreza” vão fazendo sucesso naquela comunidade, pois cada um está empenhado em fazer o melhor que pode para que o seu negócio seja o mais rentável possível para poupar mais e, no final do ciclo, ter ganhos maiores resultantes da poupança e dos juros.

Para este ano, por exemplo, aqueles 30 homens e mulheres entenderam realizar poupanças e suspender a concessão de créditos, com o dinheiro que estão ao reunir pretendem comprar castanha de caju que depois vão revender para as empresas de processamento e, por essa via, estimam que poderão obter melhores rendimentos para redistribui-los ao final do ciclo (ano).

Fernando Muvequia é um dos fundadores do grupo e com os rendimentos acumulados investiu na compra duas cabeças de gado bovino e de uma máquina de pulverizar com a qual abriu uma nova frente de negócios. “Porque estamos numa zona de muita produção de caju, percebi que ninguém tinha uma máquina pulverizadora e decidi comprar para prestar serviços na comunidade e cobro 25 meticais por cada árvore tratada”.

Domingos Manuel é um vendedor de roupa e anda nisto de PCR´s há cerca de quatro anos, tempo suficiente para ganhar dinheiro e investir na melhoria da qualidade da sua habitação. “Construí uma casa tipo dois e cobri-a com chapas de zinco”, aponta.

Taíbo Augusto é outro membro desta agremiação que vem investindo na melhoria da qualidade da sua vida através da compra de bens que antes eram impensáveis naquele meio, como são os casos de um congelador, televisor, motorizada e ainda sobrou dinheiro para comprar 32 chapas de zinco com as quais cobriu a sua casa e, no último ciclo comprou uma cabeça de bovino.

O vizinho Sérgio Gustavo começou a fazer poupanças em 2008 comprou uma cabeça de bovino que procriou, pelo que já conta com duas, comprou uma motorizada para se movimentar e já possui 1870 blocos com os quais pretende construir a sua casa.

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