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Financiar mulheres garante bons resultados

Por admin

O Fundo de Apoio à Reabilitação Económica (FARE) desenvolveu, recentemente, um estudo que indica que financiar projectos liderados por mulheres tem sido muito positivo, uma vez que assegura bons níveis de reembolso.

Segundo um estudo encomendado pelo FARE, a melhoria de níveis de inclusão financeira garante o melhor empandeiramento socioeconómico da mulher. Estes resultados serão objecto de análise no VIII Fórum Nacional dos Grupos de Poupança e Crédito Rotativo (PCR´s) que se realiza a partir de amanhã, na cidade de Nampula.

No quadro deste estudo desenvolvido recentemente foi concluído que 53 por cento dos clientes de instituições de microcrédito são mulheres e os restantes 47 por cento homens, o que leva esta instituição financeira a assumir que a inclusão financeira e o empondeiramento da mulher são cruciais.

O FARE vai investir em programas de capacitação de literacia financeira e desenvolvimento de planos de negócios com intuito de ligar os grupos de PCR´s, associações agro-pecuárias ao sistema financeiro formal bem como reforçar a habilidade das mulheres para agirem como consumidoras financeiras educadas e informadas”, garantiu uma fonte do FARE.

Dados em nosso poder indicam que grande parte da população moçambicana continua excluída dos produtos e serviços financeiros e vários factores socioeconómicos e infra-estruturais continuam a influenciar o acesso a estes serviços.

O que faz com que Moçambique tenha cerca de 78 por cento da população sem acesso a nenhum tipo de serviço financeiro. Perto de 12.7 por cento da população moçambicana, maioritariamente masculina, é que é servida por sistemas financeiros formais e 9.6 por sistemas informais. O que coloca o nosso país com maior taxa de exclusão ao acesso dos serviços financeiros a nível do continente africano.

Por seu turno, o crédito bancário à economia em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB), outro indicador relevante de inclusão e da intermediação financeira, incrementou ao longo dos últimos anos, tendo passado de pouco mais de 13 por cento em 2005 para 26 por cento em 2012.

A título de exemplo, a África do Sul apresenta menor taxa de exclusão financeira com cerca de 24 por cento, seguido pelo Quénia com 43 por cento. Tal como o nosso país, Zâmbia e Uganda apresentam níveis assustadores com 61 e 62 por cento, respectivamente.

Mesmo com níveis não muito animadores, Moçambique tem registado algumas melhorias como é o caso do aumento da rede bancária que abrangia apenas 27 distritos, em 2005, o que representava 21 por cento, para 63 distritos em 2012, representando um aumento para 49 por cento. O número de balcões nos distritos saiu de 41 em 2006 para 117 em 2012.  

No quadro de esforços com vista à redução do número da população sem acesso aos serviços financeiros, o FARE aprovou 105 projectos que permitiram a instalação de sete bancos comerciais, sete micro bancos e 58 operadores de micro crédito em mais de 84 distritos do país.

Até o final do ano passado, o FARE tinha aprovado 56 projectos, orçados em 9.4 milhões de dólares americanos. Entretanto, apenas 30 por cento da carteira está virada para agricultura.

A maioria dos operadores de microcrédito activos no país têm ou já tiveram algum tipo de parceria com o FARE no âmbito dos esforços para redução dos níveis de exclusão financeira.

Aliás, inicialmente estavam previstas intervenções em 13 distritos de três províncias, nomeadamente, Manica, Sofala e Nampula, contudo o FARE expandiu as suas actividades para mais duas províncias, designadamente, Niassa e Inhambane, cobrindo no total cinco províncias e 20 distritos.

Para maior eficiência, aquela instituição financeira testou com sucesso uma abordagem única e inovadora em Moçambique, que liga os grupos de PCRs para a plataforma de banca electrónica M-Kesh, que contribui para melhor segurança dos grupos de Poupança e Crédito Rotativo.

PCR´s MOVIMENTAM

MILHÕES DE METICAUIS

domingoapurou que existem mais de 12 mil grupos de Poupança e Crédito Rotativo (PCR´s), com 227.979 membros de vários extractos sociais, sendo que as mulheres representam 63 por cento deste número.

O nível de poupança indica que já foi acumulado um valor estimado em mais de 362 milhões de meticais, um crédito activo acima de 140 milhões de meticais e um fundo social de mais de 25 milhões de meticais, deste valor cerca de 99 por cento circula fora do sistema financeiro formal.

Estes grupos já produziram e continuam a produzir Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME´s), melhoria na habitação, aumento de bens das famílias, educação de vários jovens e crianças, melhoria da produtividade e segurança alimentar só para citar alguns exemplos de impactos.

As PCR´s permitem a alfabetização financeira e, por via disso, estão a contribuir para a inclusão financeira através de ligação de membros e grupos ao sistema financeiro formal incluindo “mobile banking” mediante acesso e uso de serviços e produtos financeiros.Em termos de áreas de actividade destacam-se agricultores, pescadores,artesãos, comerciantes, transportadores e construtores.

DESAFIOS

Apesar dos avanços verificados desde o início da implementação do projecto, ainda existem muitos desafios pela frente, com destaque para a melhoria de infra-estruturas como vias de acesso, tecnologias de comunicação, energia. Melhoria dos níveis de educação e literacia financeirapor parte dos membros para promover cada vez mais a inclusão financeira e uso consciente dos valores gerados nos grupos.

Por outro lado, existe a necessidade de expansão e melhoria da qualidade de rede nas zonas rurais para incremento dos utilizadores da moeda electrónica (Mkesh e M-Pesa) e outros meios utilizando telefone celular e uma melhor divulgação das potencialidades dos distritos, e promoção contínua da expansão das Instituições Financeiras Rurais.

Outro desafio, segundo apurámos, está ligado à promoção de inovações tecnológicas que permitam a obtenção de ganhos de eficiência na disponibilização de produtos e serviços financeiros, designadamente meios de pagamentos como POS, Cartões de Débito, ATM’s, entre outros. Sem contar com a promoção e massificação dos PCR’s.

Assiste-se ainda a necessidade de actualizar e mapear os grupos e seu desempenho. Resolver a questao da fraca segurança do dinheiro poupado, excesso de liquidez derivado de membros que não pretendem obter crédito, ausência de instrumentos e facilidades para legalização e formalização dos grupos.

Mais ainda, existe a necessidade de identificar e promover pacotes de oportunidades de négocio ao nivel dos membros e ajustá-los ao plano estratégico de desenvolvimento distrital, aprofundamento da capacidade analitica dos reseultados, impacto e desempenho dos grupos ao nível dos provedores de serviços, promoção de pacotes de assistencia técnica, introdução de elementos inovadores na promoção e gestão dos grupos, como por exemplo, registos e transacções electrónicas, entre outros.

O FARE tem participado e financiado a organização dos Fórum das PCR´s para discutir questões estratégicas tais como, a evolução, promoção e o desenvolvimento desta actividade promissora para o desenvolvimento social económico do país.

8º Fórum em Nampula

A reunião que vai decorrer a partir de amanhã, em Nampula, visa consolidar e promover a expansão geográfica e social, bem como o desenvolvimento estratégico das PCR ´s a nível nacional. Pretende-se, entre outros, partilhar ao nível dos parceiros e provedores, a situação actual da existência e funcionamento destes grupos em Moçambique.

O encontro vai contar com a presença decerca de 60 delegados sendo provedores das PCR’s, representantes das instituições do Governo, incluindo o FARE e o Banco de Moçambique, instituições não governamentais, doadores (BAD, FIDA, BID), entre outros.

Entre outros, serão discutidos temas como boas práticas para consolidação e expansão a baixo custo dos grupos de Poupança e Crédito Rotativo, metodologia e experiência para a inclusão financeira destes grupos em Moçambique no âmbito da alfabetização financeira, redução de assimetria de informação e resultados e pacotes e serviços complementares para promoção de negócios e temas transversais nas PCR´S e seu alinhamento com os planos estratégicos de desenvolvimento distrital.

Angelina Mahumane
vandamahumane@gmail.com

 

 

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