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Crise deixa “Zimpeto” às moscas

Por admin

O Mercado Grossista do Zimpeto está irreconhecível. Às moscas. A seca que está a afectar a zona sul do país, a chuva que está a cair ininterruptamente na vizinha África do Sul e a oscilação do rand (moeda sul africana) são apontadas como as razões para a escassez de produtos naquele recinto e consequente agravamento dos preços no maior centro de consumo do país.

O Mercado Grossista do Zimpeto está a passar por um momento atípico. Aquele movimento de compradores, quase apinhados a regatearem preços está desaparecido. É como se tivessem retirado algumas bancas ou os comerciantes tenham desistido de vender, pois tem muitos espaços desocupados. 

domingoconstatou que por ali escasseiam produtos frescos, nomeadamente batata Reno e tomate. O que há em aparente excesso é a cebola, mas os preços estão longe de lembrar bons tempos. Cheiram a proibitivos. Pior porque, com a desculpa da crise do metical face ao dólar, rand e euro, os vendedores estabelecem os valores a pagar de forma aleatória. Justificações para tal é que não lhes falta.

Por exemplo, agarram-se à seca que está a fustigar a zona sul do país para elevar este e aquele preço pois, por estas alturas, aquele mercado é abastecido de tomate produzido a nível interno, nomeadamente de Chókwè, em Gaza e Catuane, na província de Maputo, o que não está a acontecer este ano.

Entretanto, a produção de tomate nacional não está a conseguir satisfazer as necessidades reais daquele espaço que, por sua vez, abastece outros mercados da cidade e província de Maputo e toda a zona sul. Por outro lado, a qualidade dessa produção é considerada, pelos comerciantes, a pior de todos os tempos e, por essa razão, preferem pagar valores altos, mas a comprar o tomate sul-africano.

Outros motivos para o agravamento dos preços e a respectiva escassez de produtos está relacionada o excesso de chuva que está a cair na África do Sul há algumas semanas e a oscilação da moeda daquele país que chega a custar 3.750 por cada rand.

Por causa da chuva, os camionistas dizem que levam tempo muito nas farmas, chegam a ficar entre uma e duas semanas a espera de produtos frescos. A espera tem um preço, o camião, idem. E ainda correm o risco de ver o preço alterar na hora da aquisição.

Os comerciantes garantiram à nossa Reportagem que a mesma quantidade de batata, por exemplo, que compravam a 60 rands há cerca de duas semanas, hoje varia entre 80 e 100 rands, o que dita os preços finais no mercado nacional.

Por outro lado, relataram que há alguns anos, os mesmos produtos eram adquiridos na província de Mpumalanga, na África do Sul, que é mais próxima de Moçambique, o que também contribuía para uma relativa estabilidade de preços. Aliás, é preciso recordar que por estas alturas do ano, em geral, os preços dos produtos frescos e a oferta costumam estar acessíveis para todos os bolsos tendo em conta o desgaste havido na quadra festiva e o regresso à normalidade em termos de procura.

Os comerciantes consideram o cenário que hoje se vive é anormal e receiam que se agrave cada vez mais, pois não se sabe quando é que as temperaturas vão melhorar ou o rand estabilizar. Entretanto, sabem que a produção nacional não vai ajudar a solidificar os preços como tem acontecido nos outros anos por causa da seca que vai no adro.

Segundo as nossas fontes, para abastecer em pleno o Mercado Grossista do Zimpeto são necessárias 30 viaturas de tomate, 20 a 25 camiões de batata de Reno por dia, no entanto, nos últimos tempos, a situação anda crítica. É que tem dias em que simplesmente não entram camiões, noutros podem entrar apenas seis. O resultado disso é que os preços oscilam de noite para dia.

Apurámos que esta situação está a acontecer desde o passado mês de Novembro mas, nas últimas semanas tem tomado proporções alarmantes. A título de exemplo, no mês de Dezembro houve problemas de abastecimento de produtos frescos, tanto que o tomate chegou a ser comercializado a 650 meticais o quilograma, com algum oportunismo à mistura, sublinhe-se. A batata tinha preços que variavam de 220 a 300 meticais e a cebola chegou a custar 200 meticais.

Refira-se que esta situação repete-se um pouco por todos os mercados da capital do país, com destaque para os Mercados da Malanga e Fajardo, onde os preços da batata variam de 180 a 320 meticais e a cebola de 200 a 280 meticais o saco.

PREÇOS

PROIBITIVOS

Não se sabe se a situação é motivada pela alta de preço, mas o movimento de clientes no Mercado Grossista do Zimpeto anda fraco, muito fraco mesmo. Pior porque os poucos que por ali circulam procuram regatear os preços sem sucesso.

Também se observa que os espaços que habitualmente são preenchidos por camiões carregados, hoje apresentam-se vazios. Nas bancas há alguma cebola, muita quando comparada com os restantes produtos. Porém, a maior parte tem sinais evidentes de podridão. Mesmo assim, os preços não são simpáticos.

Segundo constatamos no local, o preço da batata varia entre 280 a 320 meticais o saco de dez quilogramas. Muitas vezes, a qualidade da batata de 280 meticais deixa a desejar. Enquanto isso, é possível encontrar cebola que custa 180 meticais, mas esta chama atenção pelo cheiro a podre. Os comerciantes daquele local garantiram à nossa equipa que a melhor é a que está a ser vendida ao preço de 270 e 280 meticais.

Um facto curioso que a nossa Reportagem constatou no local é em relação ao valor desembolsado por caixa de 20 quilogramas de tomate. Em geral, na caixa tem um letreiro indicativo do valor que varia entre 180, 270 e 300 meticais. No entanto, aquele não é o preço real e muitas vezes serve apenas para atrair clientes com quem se vai entrar em negociações intermináveis.

A mesma caixa, de 20 quilogramas, que tem um preço de 250 meticais, por exemplo, o cliente deve perguntar qual é o preço real e este pode chegar a 350 meticais. Quando procuramos perceber a razão desta diferença, de cerca de 100 meticais, os comerciantes responderam que 250 era para os clientes que compravam acima de dez caixas.

Segundo Júlio Pedro, comerciante, os produtos frescos estão mais caros por causa da oscilação do rand e as taxas do mercado. “No momento temos carência de batata porque está a chover na África do Sul. O que existe demais é a cebola, mas os preços são altos”.

Júlio disse ainda que o preço de 270 meticais para o saco de cebola não dá uma margem razoável de lucro, dai que não aceitam pedidos de desconto. Na sua óptica, o preço real seria 280 meticais e mesmo assim tem ouvido muitas reclamações dos clientes.

É a primeira vez que vejo um fenómeno igual, esperamos melhorias nos próximos meses. Estamos a perder e sem contar que por causa da carência acabamos por comprar produtos com sinais de deterioração”.

Por seu turno, Laura Luís disse que os produtos estão a ser comprados em Johannesburg por causa da escassez.

Enquanto isso, Bernardo Maússe referiu que os preços agravaram ainda mais desde a última segunda-feira, porque entram entre três e quatro camiões por dia. “Temos camiões parados na África do Sul a espera da vez para comprar produtos frescos. Depois de tanta espera quando chegam aqui os preços variam de acordo com a qualidade, por exemplo a batata chega a custar 300 meticais o saco de dez quilogramas”.

Jaime Mário, que também aceitou falar ao nosso jornal, disse que esta é uma situação anormal e para piorar também tem falta de clientes. Para conseguir reaver o seu dinheiro disse que adoptou a ideia de vender metade saco de batata e cebola, assim consegue angariar alguns clientes.

Em relação ao preço e qualidade do tomate, Chimido João disse que entram no mercado entre três e seis camiões de tomate, quando na mesma altura entravam dez por dia. Segundo ele, o tomate de Catuane não tem qualidade, dai que tem preferido comprar na África do Sul. “Com o preço que estamos a praticar só sai dinheiro para continuarmos a vender”.

Por seu turno, Adzito Masswanganhe, que estava a procura de produtos frescos para revender no Bairro dos Pescadores, no Bairro Costa do Sol, tanto a batata como a cebola estão caras e os preços variam quase que diariamente, por isso reduziu as quantidades que comprava antes.

Um dia os preços são relativamente mais baixos e dentro da mesma semana agravam. Assim sou obrigado a vender o quilograma de batata a 40 ou 45 meticais. Quando procuramos saber o motivo para tanta oscilação alegam problemas do rand e as chuvas. Não sabemos se é verdade”, disse.

João Paulo saiu do bairro da Coop para comprar produtos frescos no Zimpeto porque os preços saem mais em conta se comparado com outros mercados, mesmo assim comprou uma caixa de tomate a 320 meticais.

Está a chover muito na África do Sul

– Fernando Matusse

Segundo o presidente da Associação dos Micro-Importadores (AMIM), Fernando Matusse, a escassez de produtos é resultado da chuva que está a cair na vizinha África do Sul de onde provém, sobretudo a batata Reno e a cebola.

Os camiões não conseguem chegar às farmas para adquirir batata, só na quarta-feira da semana passada tivemos mais de 50 retidos a espera que a chuva abrandasse para conseguirem adquirir os produtos que vão abastecer os mercados nacionais”, disse.

Na semana passada, na zona sul de Moçambique também choveu o que tornou as estradas que chegam a Catuane intransitáveis, isto acontece numa altura em que o tomate consumido é comprado naquela zona da província de Maputo.

Por outro lado, para além das chuvas os preços aumentaram, conforme garantiu Matusse, o que tem ditado a subida no mercado grossista. “O problema de escassez de produtos poderá ser ultrapassado dentro de dias, até porque os camiões já começam a entrar de forma tímida”.

A situação é péssima

– Moisés Covane, administrador do Mercado

O administrador do Mercado Grossista do Zimpeto, Moisés Covane, disse que está cada vez mais difícil quantificar o número de camiões que tem dado entrada no mercado, pois tem dias que entram apenas dois. Ultimamente, o dia é considerado bom quando entram pelo menos oito camiões, o que mesmo assim ainda está muito longe das reais necessidades.

A situação está péssima, os preços estão muito altos. A justificação é de que os produtos vêm do interior da África do Sul. Nos anos passados compravam em Mpumalanga que é relativamente mais perto, mas este ano foi assolada pela estiagem”, disse.

Segundo a nossa fonte, em os camiões tem apenas três campos para adquirir batata e a algumas vezes os importadores saem de Moçambique sabendo que o saco de dez quilos custa 60 rands, mas quando chegam no local, já na fila, descobrirem que aumentaram 20 ou mais rands.

Este tipo de situações não tem medidas administrativas imediatas. O problema de estiagem que afecta Moçambique também afecta a África do Sul. São fenómenos naturais”.

Para piorar, os produtos que chegam no mercado além de mais caros não tem qualidade desejável devido ao tempo que levam para chegar no país e porque os importadores acabam optando pelos preços mais baixo para compensar os custos.

Angelina Mahumane

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