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Apetência pelas ciências cresce com o pulsar da indústria extractiva

Por admin

Cresce em Tete o interesse pelas ciências naturais e exactas, indispensáveis para formação profissional nas engenharias. A demanda é tão expressiva que começa a ser difícil encontrar vagas nas escolas secundárias.

Tal apetência resulta da implantação e consolidação de dois institutos superiores politécnicos que formam engenheiros com um mercado de emprego à porta de casa.

O efeito catalisador da presença de mega-projectos e a abertura de vagas para o ensino superior na área das engenharias tem considerável impacto no ensino secundário médio.

Se até bem pouco tempo muitos estudantes preferiam abraçar letras, a situação pelo menos em Tete tende a ser diferente. Apuramos que vagas para o ramo de ciências são as primeiras a esgotar em quase todas as escolas secundárias em Tete, pois os alunos já sabem que os mega-projectos querem mão-de-obra considerável para as engenharias.

É o resgatar da importância das ciências exactas como ponto de partida para a industrialização de um país. O crescente interesse por este ramo acabará tendo mais eco quando o Governo concretizar a sua intenção de lançar mais três institutos superiores politécnicos no norte do país, o que aumentará a disponibilidade de vagas e a consequente formação de mão-de-obra  intensivamente procurada.

Esta preocupação se justifica, sobretudo, porque, afinal, Moçambique não é o único que vive a crise de mão-de-obra para a área das engenharias, sendo que o mesmo enfrenta o próprio Brasil, dono de grande parte dos empreendimentos de Tete.

Com efeito, desde 2012 que relatórios e análises em torno da mão-de-obra qualificada revelam que a indústria extractiva precisa de pelo menos 20 mil engenheiros quando a “capacidade instalada” do país não garantia a formação de mais de cinco mil em dez anos.

Mais precisamente, foi reportado na altura que cerca de quatro mil moçambicanos deverão ser preparados no país e no estrangeiro até 2020 nas áreas de geociências e engenharias para responder à crescente procura de mão-de-obra nacional qualificada para a indústria extractiva.

Curiosamente, o problema de falta de mão-de-obra qualificada é mais genérica e internacional do que se pode imaginar. Enquanto preparávamos esta Reportagem, espreitamos no mercado internacional, onde fomos deparar que o Brasil, país de proveniência da maioria dos investidores na indústria extractiva de Tete, enfrenta também algum deficit de engenheiros, embora tenha uma “astronómica” produção de mão-de-obra. Este país sul-americano forma em torno de 32 mil novos engenheiros por ano. Mas só a indústria automobilística e a Petrobras precisam de 34 mil. A este andar, significa que o próprio Brasil não tem engenheiros para exportar para Moçambique.

Face a este cenário, domingofoi a Tete para perceber as iniciativas locais para suprir as necessidades da indústria que floresce por ali. Era também importante perceber o que está a ser feito para que os próprios cidadãos de Tete se capacitem para tirar proveito do facto de serem “hospedeiros” das maiores reservas de carvão do mundo.

EXEMPLO QUE VEM

DO INSTITUTO DO SONGO

Face à crescente demanda na área das engenharias, o Governo optou pela criação de institutos politécnicos e pelo alargamento de especialidades em estabelecimentos como Universidade Eduardo Mondlane e Escola Superior de Ciências Náuticas, grandes fornecedores de mão-de-obra para a indústria extractiva.

Em Tete, dois institutos superiores politécnicos do sector público e iniciativas privadas (pelas Universidades Católica e A Politécnica) também abraçaram as engenharias com olhos virados ao mercado da indústria extractiva emergente.

Mas particularmente no Songo, a nossa Reportagem pôde se inteirar, com detalhes, da materialização dos esforços no campo de formação profissional em engenharia para atender à cada vez crescente demanda por mão-de-obra qualificada.

Conforme informações prestadas pelo Professor Doutor Francisco Vieira, Director-Geral do Instituto Superior Politécnico do Songo (ISPS), aquele estabelecimento de ensino superior iniciou suas actividades lectivas em 2010 com a leccionação dos cursos de engenharia eléctrica, engenharia termotécnica e engenharia hidráulica.

Para lograr arrancar com as suas actividades, o ISPS teve que construir salas provisórias nas instalações da Escola Secundária do Songo.

Embora tenha arrancado no meio de muitas dificuldades, próprias do lançamento de uma instituição daquela envergadura num distrito, o Instituto Superior Politécnico, vai lançar este ano ao mercado os seus primeiros engenheiros nas três especialidades que vinham sendo leccionadas desde 2010.

No total são 17 jovens engenheiros nas especialidades de electricidade, Termotécnica e engenharia hidráulica que deverão ser graduados. Praticamente todos estes finalistas têm emprego garantido.

O próprio ISPS, segundo o respectivo director-geral, está interessado em ficar com alguns graduados para enriquecer o corpo docente, o que poderá ser bem difícil, pois grandes empresas como a própria Hidroeléctrica de Cabora Bassa, a Electricidade de Moçambique e as mineradoras estão também de olho.

Refira-se que durante o ano lectivo de 2013, o Instituto Superior Politécnico contou com um efectivo estudantil de 266 alunos.

UM CAMPUS COMO SONHO

DE SUBIDA PARA GRUPO “A”

A nossa Reportagem teve oportunidade de visitar as obras de construção, de raiz,  do novo campus do Instituto Superior Politécnico do Songo, onde a expressão do sonho não deixa margem para dúvidas.

Com uma extraordinária vista para a Albufeira de Cabora Bassa, o novo campus do ISPS foi concebido para integrar infra-estruturas de grande valor e dimensões para integrar as cerca de dez especialidades, respectivos laboratórios, oficinas, salas de aulas, lar estudantil com vastas salas de estudos, tudo dentro de parâmetros próprios para o nível de universidade.

Este novo campus, segundo Francisco Vieira, deveria ter sido inaugurado no ano passado, mas a empreitada está atrasada, de tal sorte que a direcção do ISPS já está a pensar em avançar com algumas medidas de emergência para assegurar o aumento de ingressos para o presente ano lectivo, como é a possibilidade de encomendar pré-fabricados.

Contudo, pelo que vimos, dois grandes edifícios, sendo um para a actividade lectiva e outro para o internato, encontram-se em estado avançado de construção, fazendo crer que as obras sejam concluídas até Outubro próximo.

Para além dos edifícios para a actividade lectiva e lar dos estudantes, o campus integra ainda a construção de um motel para os professores visitantes, bem como residências do corpo docente, tudo isto no lado Norte da Vila do Songo.

Francisco Alar

f_alar@yahoo.com

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