Economia

Algodoeira não paga salários há 20 meses

Os trabalhadores da Indústria de Processamento de Algodão, unidade fabril localizada no distrito de Jangamo, província de Inhambane, estão literalmente a comer o “pão que o diabo amassou”.

 Não auferem os seus salários há cerca de 20 meses porque os patrões simplesmente abandonaram o projecto numa altura em que eles mesmos financiavam a substituição da maquinaria antiquada por outra tida como moderna.

Conta-se que a Indústria de Processamento de Algodão de Jangamo existe desde o tempo colonial e, a sua história recente indica que esteve a operar até meados da década de 2000, altura em que as actividades terão sido suspensas devido a dificuldades financeiras resultantes da falta do mercado para a colocação da produção.

Na altura, a fabrica empregava centenas de trabalhadores efectivo e eventuais, idos de diversas partes da província de Inhambane e não só, os quais desenvolviam o seu labor nas machambas abertas em alguns pontos como Mabote e Inhassune o que permitia que a empresa tivesse matéria-prima suficiente para funcionar de forma ininterrupta.

Relatos colhidos no local indicam que, no auge do funcionamento desta fábrica, era possível produzir mais de 100 fardos de algodão por cada 24 horas e o produto era vendido a clientes posicionados em alguns países do continente africano, europeu e asiático.

Entretanto, e no quadro de um processo que escapa à compreensão dos trabalhadores, algumas áreas de cultivo terão sido vendidas para outras empresas que as transformaram em machambas de jatropha numa altura em que a algodoeira ainda funcionava.

Na mesma toada, por volta de 2003, aquela fábrica terá sido cedida a interesses empresarias sul-africanos que, à chegada, entenderam introduzir inovações tecnológicas que permitissem reduzir os custos de produção.

Trouxeram equipamento eléctrico para substituir as máquinas a deisel que usávamos porque entendiam que esta seria a melhor forma de reduzir gastos associados à aquisição de combustíveis e pensava-se que sobraria dinheiro para outras intervenções”, contam os trabalhadores.

Porém, e para a desgraça da massa laboral, a troca da maquinaria mecânica, dispendiosa e arcaica apenas começou e nunca chegou ao seu término. Alias, em conversa com um dos operários, ficamos a saber que desde que os associados tomaram a empresa nunca produziu um único fardo de algodão. “Limitaram-se a trocar parte da maquinaria”.

Os trabalhadores abordados pela nossa Reportagem contam ainda que passado algum tempo, os novos gestores, um por um, começaram a descontinuar a sua presença no local a ponto de só ficar um dos sócios que faz visitas fugazes ao local pois, hoje explora um empreendimento turístico algures na praia da Barra, na costa de Inhambane.

Vinte meses sem salário

A Reportagem do domingo apurou ainda que desde que os gestores sul-africanos entenderam largar o projecto os trabalhadores nunca mais receberam um centavo na forma de salário ou de indemnização como seria comum em circunstâncias similares. Para agravar, a comunicação entre a entidade empregadora e a massa laborar se tornou muda porque os primeiros simplesmente sumiram.

Perante este quadro negro, parte dos trabalhadores decidiu apresentar a sua preocupação à Direcção Provincial de Inspecção de Trabalho que, em contacto com o sócio ainda residente, constatou que havia uma divida de salários de aproximadamente 20 meses.

No encontro havido em Agosto do ano passado entre os trabalhadores, técnicos da Inspecção Provincial de Trabalho e o único sócio que ainda circula por Inhambane foi acordado que este, devia entrar em contacto com os seus parceiros para voltarem ao país com a finalidade de regularizarem a situação dos trabalhadores e definirem o futuro da empresa.

Volvidos vários meses, e porque “nem água ia, nem água vinha”, a equipa de Inspecção Provincial orientou este o único sócio “sobrevivente” pagasse os ordenados referentes a pelo menos oito meses, enquanto procura localizar os seus associados.

Porque o assunto começava a ganhar contornos difíceis de gerir, o referido sócio acordou em pagar os salários mas, com a ressalva de que o faria através dos ganhos vindos de outros projectos. Na mesma ocasião informou que só podia pagar a metade do último salario pago pela empresa, pelo que os valores individuais variariam entre dois mil a sete mil meticais.

Apesar de todas as desculpas arguidas pelo sócio ainda residente no país, a Inspecção Provincial de Trabalho entende que o pagamento dos salários deve ser efectuado até ao próximo mês de Junho. Um segundo prazo foi igualmente estabelecido para a apresentação dos restantes sócios, sob pena do caso ser encaminhado ao tribunal.

A nossa vontade é ver este assunto resolvido pelo que demos um prazo de oito meses para o pagamento dos salários em dívida. Por outro lado, estabelecemos que este sócio que ainda reside por aqui deve contactar os seus parceiros para definirem o futuro da empresa. Caso contrário, encaminharemos o caso ao tribunal e uma das medidas que pode ser tomada é a penhora dos bens da empresa,disse a inspectora de Trabalho da província de Inhambane, Joalina Cumbane.

Entretanto, a nossa entrevistada referiu que caso desta natureza são frequentes na província de Inhambane pois, trata-se do segundo caso no presente ano e, no ano passado ocorreram outros dois casos cuja solução foi dirimida em tribunal.

Abibo Selemane

habsulei@gmail.com

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