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A caminho do 5G

Por admin

A República Popular da China é famosa por preservar sua tradição milenar que compreende o quesito cultural, político, uma estrutura económica sui generis, uma pujança militar de se lhe tirar o chapéu, vibrante produção cinematográfica, enfim.

Mas, poucos conhecem e admitem que a China “já nos deixou”. A cidade de Shenzhen é o quartel-general dos prodígios na área de telecomunicações.

Para muitos moçambicanos, e não só, China é o país do Kung Fu, pátria de Bruce Lee e de Jack Chan, onde bens originais e piratas se entrelaçam, onde se come tudo o que de move na terra, no mar e no espaço, onde todos tem os olhos puxados, vive gente que trabalha de forma incansável e a vida tem uma elasticidade maior. Tudo verdade.

Porém, há detalhes que escapam e um deles é a existência de uma cidade chamada Shenzhen, que tem cerca de 30 anos de existência, onde milhares de jovens ganham a vida estudando e inventando formas de “tornar o mundo melhor conectado”, como eles mesmos defendem.

A cidade ainda está em obras. Há gruas de construção civil aqui e ali, por vezes dezenas numa área onde se vê claramente que vai nascer um quarteirão de arranha-céus. Apesar disso, Shenzhen tem incríveis 20 milhões de habitantes. Olhando para a nossa realidade, seria como levar 90 por cento da população moçambicana para ir viver numa única cidade.

Reza a história que a área que hoje é ocupada por esta cidade, que pertence à província de Guangdong, até meados da década de 80 era uma aldeia de pescadores, virada de frente para a desenvolvida Hong Kong, que é uma região administrativa especial da China.

O governo desta República Popular entendeu declarar a então remota área de Shenzhen como Zona Económica Especial (ZEE) e milhares de chineses com projectos de investimento vieram se estabelecer por aqui, dando vida àquilo que hoje é uma das cidades mais jovens e modernas existentes no país.

O GIGANTE CHINÊS

Por detrás de toda a dinâmica que se assiste nesta urbe, pontifica a estória de vida de Ren Zhengfei, um homem maduro que por volta de 1987 acabara de se aposentar das Forças de Libertação Popular e que decidiu explorar as facilidades criadas pelo governo na ZEE de Shenzhen.

Naquela altura, Zhengfei aplicou cerca de três mil dólares num projecto de produção de componentes para telemóveis que deu origem à empresa Huawei. Segundo a imprensa norte-americana, com particular enfase para o New York Times, este homem sobreviveu no vibrante mundo dos negócios graças à sua persistência felina.

É que Zhengfei apostou num sector prenhe de gigantes que funcionavam como praga predatória para pequenas e médias empresas do ramo, pior para as que tinham origem na China, país com fama de contrafacção de marcas, entre outros. Essa capacidade de resistir e dar a volta por cima levou a imprensa ocidental a oferecer-lhe o epíteto de lobo.

Aliás, dentro da própria China, e segundo nos contam os gestores da empresa, não foi fácil convencer a população de que Huawei é uma marca para valer. Por causa disso, a aposta foi orientar a venda da sua produção para o campo, conquistando a clientela de trás para a frente. 

Quando a empresa achou que tinha ganho asas, procurou internacionalizar-se estabelecendo uma filial na Rússia. Porém, os russos estranharam a marca e a loja ficou às moscas durante dois anos. Quando o desespero já batia a porta, apareceu o primeiro cliente que pagou os primeiros 38 dólares.

Este caso fez com que Zhengfei e seus colaboradores directos percebessem que precisavam investir na área de pesquisa e no desenvolvimento de produtos pelo que contrataram a assessoria da IBM e da IPD, empresas renomadas na área”, refere fonte da empresa.

Graças a essa luz, de 1987 a esta parte, a Huawei se transformou numa multinacional chinesa de produção de equipamento de telecomunicações, e não apenas de produção de telemóveis, como muitos pensam, a ponto de se posicionar na posição 228 da lista de 500 empresas mais afortunadas do mundo.

Mas, mesmo no domínio dos telemóveis, esta empresa, que até há pouco era uma ilustre desconhecida, conseguiu se transformar no terceiro maior vendedor de smart phones no mundo e primeira na China, onde o número de habitantes roça os dois biliões.

Outro exemplo que salta à vista é que esta companhia está presente em 170 países, tem 170 mil trabalhadores espalhados pelo mundo, 76 mil dos quais afectos à área de pesquisa e desenvolvimento. Aliás, é justamente nesta componente que a Huawei mais surpreende com produtos que parecem coisas de filmes.

Um dos bens que eles fizeram questão de mostrar com garbo, para que não tivéssemos dúvidas do nível em que se encontram em matéria digital foi um servidor com oito Petabytes (acima de Terabytes) capaz de armazenas informação de 10 canais de televisão em simultâneo durante três anos consecutivos.

Graças a esse tipo de aposta, a contabilidade da empresa só fala em biliões, em milhões e milhões de dólares, tanto no que é despesa, como no que é receita. Conforme apurámos na sede da empresa, o investimento feito em 2015 em pesquisa e desenvolvimento tecnológico é de 15,4 biliões de dólares e os lucros foram estimados em 62 biliões de dólares.

Aliás, de 2009 a esta parte, o gráfico de proveitos da empresa parece uma aeronave em “take off” (a levantar voo). Não pára de crescer. Começou com 21,5 biliões e em escassos seis anos chegou a expressivos 62 bis, usando a linguagem dos nossos jovens. Com este nível de rendimento, a Huawei só aceita ser comparada a outras gigantes do ramo, nomeadamente a Ericsson, NSN, ALU e ZTE.

Sob o lema “Enriquecer a vida através da comunicação”, esta empresa está a desenvolver três ramos essenciais de negócios, a começar pelo fornecimento de equipamento de rádio, transmissão e físico para todas as empresas de telecomunicações existentes no país.

Na mesma senda esta empresa está a fornecer soluções para as comunicações governamentais (e-goverment), como é o caso do Centro de Dados do Governo que opera com 99,99 por cento de fiabilidade e segurança, segundo a própria Huawei.

Nesta mesma componente se inclui a plataforma digital conhecida por e-baú que permite que os cidadãos movimentem processos On-Line para o registo de empresas, pedidos e pagamentos de licenças, entre outros.

Na verdade, esta empresa fornece soluções e equipamentos digitais para os mais variados ramos de actividade, incluindo a indústria financeira, saúde e até mesmo para a transformação de cidades em lugares seguros para se viver. O exemplo que eles não se cansam de citar é o caso do Quénia que recentemente adquiriu equipamento de vigilância que ajudou a reduzir o índice de criminalidade nas suas cidades em 50 por cento.

A CAMINHO DO 5G

No campo das telecomunicações, a China está a progredir a uma velocidade estonteante que as comunicações por aqui são feitas a 4G (LTE/LTE-Advanced) e 4,5 G (LTE-Advanced Pro). Mas, a evolução da rede móvel e da internet das coisas (Internet of Things, ou IoT) está a avançar tanto que a Huawei começa a esfregar as mãos para ver a União Internacional de Telecomunicações (UIT) a protocolar o uso do 5G.

Note-se que na escala de desenvolvimento da rede móvel, o mundo partiu de 1G para 2G (GSM), 2,5G (GPRS), passou para 2,75G (EDGE), seguiu para 3G (UMTS) e 3,5 (HSPA/HPSA+) que é por onde nós andamos em Moçambique.

No que se refere à Internet das Coisas (IoT), a Huawei é a tal que vai deixando o mundo de queixo caído através da construção e desenvolvimento de bens cada vez mais conectados e que vão revolucionando a forma de viver no meio urbano e não só.

E mesmo a propósito de conexão, os sistemas desenvolvidos por esta empresa são utilizados para viabilizar as comunicações de seis dos 10 maiores bancos do mundo, 14 das 20 maiores empresas europeias e cobrem 140 mil quilómetros de auto-estradas e linhas férreas.

Não é por caso que 77 por cento do crescimento desta empresa resulta da venda de equipamentos mais compactos para as 50 maiores empresas do ramo de telecomunicações como são os casos da Vodafone, Portugal Telecom, MTN, Telecom e Orange.

NA UNIVERSIDADE DA HUAWEI

Moçambicanos surpreendem

Dez jovens moçambicanos que estão a beneficiar de treinamento de curta duração no quadro de um acordo existente entre o Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS) e a Huawei Technologies estão a surpreender a equipa docente destacada para sua formação pela assimilação rápida das matérias.

Conforme testemunhámos durante as sessões de formação até aqui lecionadas, para além da pontualidade, que é um requisito primário, o grupo tem alcançado êxitos e resolvido com rapidez e eficiência, a ponto de completar as metas de exercícios muito antes do tempo regulamentar.

Nos exercícios práticos realizados na semana passada nos laboratórios da Universidade da Huawei, na cidade de Shenzhen, os dez jovens moçambicanos concluíram as actividades com sucesso e com bastante tempo de antecedência, facto que encantou à equipa de formadores.

Este grupo de jovens é o segundo a frequentar uma formação do género na China e que tem como finalidade assegurar o funcionamento dos sistemas informáticos no âmbito das reformas em curso na área de gestão do trabalho e o programa é denominado “Sementes para o futuro de Moçambique”.

No quadro do referido acordo, está igualmente prevista a capacitação institucional, com ênfase para a formação dos funcionários do sector bem como na disponibilização de estágios pré-profissionais a finalistas universitários.

Para o director geral da Huawei em Moçambique, Chenglidzu, a materialização do acordo com o MITESS segue a máxima chinesa que diz “não dê peixe, ensine a pescar”, e o lema adoptado para o nosso país é “enriquecer a vida através da comunicação”.

Jorge Rungo, em Shenzhen
jorge.rungo@snoticicas.co.mz

Fotos de Jorge Rungo

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