Reportagem

O peso dos agro-minerais

Texto de Bento Venâncio

O conhecimento dos agro-minerais em prol de desenvolvimento agrário é, nos dias de hoje, uma alternativa saudável aos fertilizantes químicos.

Com efeito, estudos de maneio da fertilidade de solo e de nutrição animal vêm sendo desenvolvidos para a utilização de diatomite, calcário e fosfatos, tudo em prol de uma agricultura mais musculada.

Estes produtos naturais servem de elementos essenciais à nutrição de plantas e animais (como cálcio, magnésio, fósforo, nitrogénio e silício) que, nas condições agroecológicas moçambicanas, constituem o “nó de estrangulamento” para uma produção agro-pecuária sustentável.

Nas páginas que se seguem, domingo fala da importância que a diatomite, um mineral abundante no país, pode assumir no contexto de fortalecimento da agricultura, a par de melhoramento de técnicas de sementeira, de irrigação e até fertilização natural.

Adiatomite é um mineral de origem sedimentar e dispõe de recurso extraordinário para a agricultura: a silica.

O Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) tem vindo a desenvolver, nos últimos anos, actividades para a Investigação em Hortícolas e Protecção de Plantas, a par de desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis no maneio agronómico das hortícolas e no controlo de pragas nas diferentes culturas e regiões.

As actividades em referência visavam responder aos grandes problemas não apenas em hortícolas, mas também em leguminosas de grãos, cereais e batata reno. Nas diferentes regiões agro-ecológicas do país, ensaios foram levados a cabo, visando testar sistemas de controlo das pragas do tomate, couve e repolho, feijão-nhemba e vulgar, amendoim, milho e batata reno.

Das técnicas de controlo de pragas destacou-se exactamente a diatomite, cujos ensaios no Vale de Umbeluzi, em Maputo, trouxeram impacto positivo no controlo de tripis do botão em duas variedades de feijão-nhemba (vigna unguiculata) .

A mesma avaliação incidiu sobre a aplicação de diatomites em combinação com adubação mineral (NPK) no controlo da mosca branca (bemisia tabaci L.) no pepino (cucumis sativus L.).

A diatomite revelou-se, também, eficaz no controlo da mosca branca na cultura de quiabo (abelmoshus esculentus), isto na época fresca.

Facto curioso é que em todos estes ensaios, os inimigos de tomate tiveram baixa capacidade de sobrevivência, tendo a diatomite revelado igualmente acção na redução de sugadores na cultura de feijão verde.

Estudos mostraram, com clareza, que a densidade de sugadores é mais baixa ou igual nos tratamentos com diatomites, todavia em nível intermediário ou igual aos tratamentos que receberam insecticidas dimensionados com alta eficiência para o controlo da mosca branca.

A diatomite contribuiu para redução de sugadores e minadores de folhas em pepino, diminuiu também população de sugadores e desfolhadores em quiabo.

Os mesmos resultados foram encontrados na produção de repolho e milho, mostrando efectivamente que a intensidade de ataque de pragas reduziu nas parcelas onde a rocha foi aplicada.

A diatomite destaca-se, assim, como alternativa natural, de alta qualidade, amiga do ambiente e não tóxica, para o controlo de insectos e correcção de solo. É que os vários métodos de controlo destas pragas, convencionalmente usados, têm-se mostrado pouco eficientes, tóxicos, e muitas vezes inacessíveis ao sector familiar devido aos custos de aquisição que bastante altos. 

Muita riqueza mineral

zero aproveitamento tecnológico

Técnicos do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique garantiram ao domingo que é, hoje, inquestionável o efeito das diatomites no combate a diversas pragas que afectam, negativamente, a economia nacional e inviabilizam a produção interna de hortícolas, leguminosas e cereais.

E não falam em vão. Apontam para experiências no Vale do Umbelúzi, em Maputo, que incidiram em tomate, pepino, feijão verde, quiabo, feijão-nhemba e milho, que demonstraram que a emergência de um pacote tecnológico, baseado em novos procedimentos de fertilização e combate às pragas, pode elevar a fasquia de Moçambique no que toca a resultados que almeja na sua agricultura.

Com base em resultados concretos, no terreno agrícola, técnicos garantiram ao domingo que Moçambique podia ter “uma agricultura mais avançada”, caso as diatomites fossem usadas em larga escala, contudo, sublinharam, não existe até ao momento um pacote tecnológico que potencie o uso deste agro-mineral.

Sublinharam que este material até se revelou importante no controlo da mosca branca que tem atacado culturas e fruteiras no país, afectando a economia nacional.

A diatomite, serviria, igualmente, para o reforço da fertilização sem químicos, a par da compostagem orgânica, com resultados muitos bons  na qualidade de culturas.

Contudo, para a sua maior tristeza, o investimento para massificação do uso de diatomites na agricultura tarda a chegar, não obstante estudos que remontam desde 2007 apontarem para bons resultados. “O trabalho está lá. Fizemos pesquisas e entregamos ao Ministério da Ciência e Tecnologia”, diz-nos, algo contrariado, Carvalho Ecole, técnico-sénior do IIAM, acrescentando: ninguémestá a usar diatomite para agricultura. Alguém tem que partir para a massificação.

ROCHA MILAGROSA

Adiatomite é uma das riquezas minerais de Moçambique. Constituído de material pulverulento, de origem sedimentar, dispõe de recurso extraordinário: a silica.

Há escassos oitenta quilómetros de Maputo, na Manhiça, foi identificada uma mina com forte potencial em silica, contudo, subaproveitada para fins agrícolas. Estamos a apontar apenas um exemplo.

Segundo Carvalho Ecole, pesquisador sénior do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), a diatomite destaca-se, fundamentalmente, no controlo de pragas nas culturas, pois faz com que o insecto perca rapidamente água, morrendo por desidratação. Por outro lado, destrói o seu aparelho bocal, criando dificuldades de se alimentar.

Explicou que, basicamente, é aplicável nos pulverizadores misturando água. Em Mafuiane, na província de Maputo, a aplicação de diatomite demonstrou densidade baixa da mosca branca que ataca culturas e fruteiras.

E na Estação Agrária de Umbeluzi, também na província de Maputo, revelou menor intensidade de ataque observada em cerca de 41,25 por cento.

A par desta técnica, investigadores recomendaram também a rotação e eliminação de restos culturas no combate à mosca branca.

No Brasil, com temperaturas iguais às nossas, a sílica já se revelou fundamental na agricultura, tendo contribuído substancialmente para aumento da produtividade e redução da incidência de pragas e doenças de algumas gramíneas (arroz, cana-de-açúcar, sorgo, mileto, aveia, trigo, milho, grama bermuda) e em algumas espécies não gramíneas (soja, feijão, alfafa, tomate, alface, pepino, repolho).

Moçambique está a tentar caminhar na mesma direcção, embora com muitas hesitações. Diversos estudos já foram feitos para avaliar o seu uso para o controle de pragas.

Pesquisas feitas na Direcção de Agronomia e Recursos Naturais, Área de Protecção de Plantas, em torno do fomento de agro-minerais no controlo de sugadores e minadores com uso de diatomites em hortícolas e leguminosas no Vale de Umbeluzi, revelaram que a agricultura teria outros músculos caso a diatomite fosse usada em grande escala.

Com efeito, ensaios e demonstrações em diversas culturas hortícolas, leguminosas e cereais foram montados, em duas épocas de cultivo, na Estacão Agrária do Umbelúzi (EAU) do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique e na Associação de Camponeses Regantes de Mafuiane, no distrito da Namaacha.

Dados disponíveis indicam que os ensaios foram conduzidos combinando sempre o uso da adubação ou de pesticidas com a aplicação de diatomites, integrando-os ao solo ou aplicados na forma de pulverização em talhões subdivididos.

Pelos resultados dos ensaios desenvolvidos, nas duas épocas do projecto, foi possível confirmar que as diatomites, apresentam efeito sobre as principais pragas de hortícolas como o tomate, quiabo, pepino, feijão-verde, assim como leguminosas como o feijão-nhemba.

Refira-se que o esforço da equipa de investigação consistiu na criação de condições experimentais nos dois ambientes, experimentação e demonstração de tecnologias, que permitissem a confirmação do papel das diatomites, como ferramenta na nutrição das plantas e no maneio das pragas sugadoras de hortícolas e leguminosas nas duas principais épocas de produção agrícola ocorrentes no nosso país (quente e fresca).

Na época fresca e em regadio, foi incluído um ensaio para verificação do papel da diatomite no controle da broca e sugadores do milho.

Treze camponeses da Associação de Regantes de Mafuiane trabalharam com técnicos do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique para comporem a parcela experimental dos ensaios e demonstrações. As culturas eleitas foram o pepino, o feijão verde, o quiabo, o feijão-nhemba e o tomate.

Para a avaliação da população de pragas sugadoras nas culturas supra-citadas, técnicos e camponeses usaram um modelo que combinou a diatomite com adubação e/ou aplicação de pesticidas ou isoladamente.

“Os resultados de aplicação de diatomite demonstram a competitividade da produção de tomate em Moçambique, indicando que a redução das perdas pode ser uma via para que o aumento da produção resulte em maior aproveitamento do tomate que hoje é perdido na forma de tomate não comercial”, explica-nos o técnico Carvalho Ecole.

Os benefícios da silica

·Estimula a auto-resistência em plantas. Fortalece parede celular e confere resistência física contra doenças, insectos e ataques de fungos.

·Promove recuperação de solos degradados e aumenta sua fertilidade.

·Com uma correcção de solo em horticultura, melhora sua estrutura física, ajuda a reter a humidade por períodos mais longos, aumenta a circulação de água para zona da raiz e fornece uma libertação lenta de nutrientes .

Aplicar diatomites em paralelo

com melhores técnicas agrícolas    

Durante um ano, domingovisitou a Estação Agrária de Umbeluzi para aferir técnicas de fertilização orgânica e também com diatomites.

Numa área entre dois a quatro hectares, investigadores do IIAM ensinaram camponeses de Mafuiane e também de Umbeluzi a respeito das melhores práticas no sector agrário.

A fertilização orgânica ou a compostagem, por outras palavras, incide, fundamentalmente, na produção de adubos com recurso a sobras de material vegetal.

Este material “morto”, guardado durante um mês e regado com regularidade, transforma-se num poderoso adubo que nutri culturas com material que enriquece a qualidade das culturas.

Vimos, algures em Umbeluzi, cebola de cor roxeada, rico em iodo, de padrão internacional, resultado de adubação orgânica e também de mecanismos aprimorados de sementeira e conservação de culturas em evolução vegetativa.

Algures no Umbeluzi, foi agradável verificar que é possível Moçambique deixar de importar alho, desde que invista, seriamente, na limpeza da virose responsável pela mutilação vegetativa.

Técnicos do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique explicaram à nossa Reportagem que para produzir alho em grande escala os produtores devem trabalhar emestufa livres do vírus.

Na Estação Agrária de Umbeluzi, está já estão ser produzidas sementes de alho que é actualmente importado.                                                                         

O mesmo esforço está a ser feito em relação à cultura de beterraba, amplamente importada. É fácil de produzir internamente e seria fundamental para a luta contra anemia. O sumo de beterraba aumenta hemoglobina, explica Carvalho Ecole .

Disse que grande parte da cebola que consumimos é largamente importada quando podíamos ser auto-suficientes caso apostássemos na melhoria de técnicas de fertilização.

Nas faculdades os professores só falam. Não ensinam a fazer nada. Limitam-se a fazer provas difíceis aos alunos. Nós aqui ensinamos a fazer agricultura, sublinha Carvalho Ecole.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), uma instituição pública brasileira de pesquisa vinculada ao Ministério da agricultura do Brasil, está a cooperar com o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique para adopção de novas técnicas agrárias.

Francisco Vilela, engenheiro agrónomo, pesquisador da EMBRAPA, está a trabalhar na Estação Agrária de Umbeluzi, em Moçambique. Disse à nossa Reportagem que o objectivo da cooperação é transformar o nosso país um gigante na produção de hortícolas , dadas condições agro ecológicas disponíveis.

Saudou ensaios de agro-minerais (com destaque para diatomites), ressalvando que em agricultura quando menos químicos forem usados, melhor.

Disse que a grande vantagem da busca de experiência agrícola brasileira assenta também no manuseio de variedades mais adequadas ao clima de Moçambique.

Moçambique usava variedades da África do Sul,  com um clima diferente, disse o nosso entrevistado, acrescentando que as culturas ainda resistiam na época fresca, mas sucumbiam quando chegasse o calor.

“Temos variedades brasileiras para cebola e outras culturas. A sua fácil adaptação evita a infestação por pragas,salientou.

Importa referir que a vinda de técnicos brasileiros e norte-americanos à Moçambique enquadra-se na cooperação trilateral envolvendo a Agência Brasileira de Cooperação, a Universidade da Flórida e a Universidade de Mechigan.

Técnicos brasileiros e norte-americanos trabalham em parceria com Instituto Nacional de Investigação Agrária de Moçambique, transferindo em Umbeluzi e em Namaacha melhor tecnologia de irrigação.

Trata-se, segundo nos disseram, de sistemas mais baratos, aplicados a par de novos métodos de preparação do solo. Optamos por adubos orgânicos, evitamos adubos químicos, salientaram.

Henoque Ribeiro da Silva, técnico da EMBRAPA e doutorado em engenharia de irrigação, disse à nossa Reportagem que é importante, nos dias de hoje, levar as tecnologias ao produtor, por isso que produtores de Umbeluzi e Namaacha dispõem  hoje de melhores técnicas de maneio agrícola.

O nosso entrevistado sublinhou que na agricultura a componente irrigação é fundamental , sobretudo quando em causa está a produção de hortícolas e cereais. “não podemos depender só da chuva”, apontou.

Henoque Ribeiro da Silva referiu que estão a ser ensaiados no país sistemas de rega alternativos e destacou a chamada rega localizada (gota a gota), de baixo custo e com a vantagem de assegurar uniformidade de distribuição de água. “Substitui a chuva”, ajuntou.

Texto de Bento Venâncio
bentok1000©yahoo.com.br

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