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Um impulso ao desporto popular

Por admin

As corridas pela Paz, que decorrem no país desde finais do ano passado, iniciadas no distrito de Morrumbala, na província da Zambézia, são uma autêntica boa forma de mobilizar as populações à prática do desporto, ao mesmo tempo que vão servindo para fazer passar a mensagem de não à guerra, viva a paz.

Apesar de a ideia inicial, de pôr gente anónima a correr pela paz, não prevalecer na totalidade, o espírito de colocar o desporto, através do atletismo, no repúdio à guerra no país está patente nos jovens atletas dos distritos abrangidos pela iniciativa.

A par do repúdio à guerra está a vertente competitiva da prova, pois ela permite aos distritos conhecer o seu potencial atlético. São crianças, jovens, adultos e veteranos que se descobrem serem talentos desportivos.

Tirando um e outro caso, os vencedores são pessoas que nunca se equiparam para fazer desporto. São estudantes que nunca fizeram desporto fora do contexto escolar em aulas de educação física que em muitos se limita à ginástica e ao futebol.

Em alguns distritos fica semeada o atletismo que para germinar vai precisar do esforço das autoridades locais, em estreita ligação com os responsáveis do desporto na província. Não se pode deitar fora o talento que vai emergindo do nada. São crianças e jovens que motivados pelas camisetes, material escolar e dinheiro expõem as suas capacidades atléticas, por eles próprios desconhecidas.

NADA ESCONDIDO

Há quem pode estar a pensar que as corridas pela paz, organizadas pela Federação Moçambicana de Atletismo, dirigidas pessoalmente pelo respectivo presidente de direcção, Shafee Sidat, são uma campanha obscura. A verdade não é essa.

As corridas pela paz são um impulso ao desporto, uma ideia pensada aquando da ida a Quelimane para a inauguração da sede da Associação Provincial de Atletismo da Zambézia. Havia a necessidade de uma escala em Morrumbala para a entrega de equipamento de futebol no povoado de Tunduzi, onde se realizaria uma partida de futebol. Chegou a informação de que não se chegava no Tunduzi de carro devido à queda, em 2014, da ponte sobre o rio Tiade.

Na impossibilidade de se chegar no Tunduzi de carro que nos levava de Maputo, nasceu a ideia de uma corrida de atletismo na sede distrital, que marcaria a primeira presença de presidente federativo da modalidade no distrito de Morrumbala.

Ao telefone foi possível obter a aceitação de realização da referida corrida por parte das autoridades governamentais do distrito. Já no terreno as pessoas foram sendo avisadas da prova nas ruas e nos mercados. Foi quando pariu a primeira corrida das Corridas pela Paz.

Importa sublinhar que onde se organiza uma corrida pela paz discursa-se, canta-se e dança-se. Os mercados quase que fecham, as escolas ficam sem alunos e professores, o movimento ambulatório pára, os pobres descansam de pedir esmola, os padres interrompem as rezas, os dirigentes abandonam os gabinetes, os políticos se juntam pela mesma causa e os militares param com os disparos. Enfim, todo mundo fica parado a ver a corrida a passar. Foi assim em Morrumbala, em Gondola, em Homoine, no Chibuto, em Namaacha, em Vanduzi e em Sussendega. Vai ser assim nos restantes distrito onde o povo aguarda pela corrida pela paz, tal como aguardava a Chama da Unidade Nacional. É o que o povo quer, é o que o povo gosta.

Menina de 12 anos

bate senhoras no Chibuto

Uma criança de 12 anos surpreendeu a todos na vila de Chibuto, província de Gaza, quando cortou a meta como a primeira das mulheres, deixando muito de longe senhoras das idades das suas irmãs mais velhas, das suas tias e da sua mãe e à frente de muitos jovens e homens.

Na distribuição de camisetes, que são o principal chamariz à corrida, Mirela Ilídio Armando foi mandada embora do local por ser pequena demais. No final da prova era ela a estrela da Corrida pela Paz de Chibuto. Pela proeza, que a valeu três mil meticais de prémio, recebeu a camisete que não pode receber na partida. Houve quem julgasse que ela teria se intrometido na corrida pelo meio do percurso, mas os policias que se faziam transportar no seu carro de serviço confirmaram que ela correu de princípio ao fim, o que as imagens fotográficas vieram a certificar.

A segunda classificada da mesma corrida, Idalia Silvano Matusse, é uma grande promessa de atletismo, que bem cuidada podia fazer sonhar com uma nova Lurdes Mutola.

Em Vanduzi podemos concluir que a província de Manica é um jazigo de talento de longas distâncias. Todos que cortaram a meta o fizeram fresquinhos. Mesmo os últimos pareciam correr para a medalha de ouro. Em Sussendega também.

Manuel Meque
malembalemba@gmail.com

 

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