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Saudades da carolice

Por admin

A obrigatoriedade de ir às urnas para a escolha dos dirigentes desportivos aos vários níveis, que tenta reflectir (ou imitar) as novas correntes que se vivem no país, se por um lado pretende reflectir os ventos da democracia, por outro não está, em regra, a beneficiar o desporto no seu todo.

As nossas Federações, Associações e mesmo clubes, acabam quase sem dar por isso, por se transformar em pequenos “ninhos” que albergam interesses que vão bem mais longe do que fazer avançar uma colectividade, um núcleo ou mesmo uma modalidade.

As coisas acontecem assim: um empresário, para se tornar conhecido na praça, “lança” a sua candidatura. Como o seu tempo é escasso “para gerir ninharias” e pouco entende do assunto, faz-se rodear de algumas pessoas com títulos de Doutor ou Engenheiro de preferência com influências políticas, capazes de lhe servir de âncora para o principal objectivo que é ter um cargo e ser conhecido na praça.

Entre outros há o interesse supremo em posteriomente “posar” ao lado das estruturas de topo e fazer avançar o negócio nem sempre saudável das suas empresas.

Assim sendo, para o seu elenco triunfar, vai desembolsando uns trocados que garantirão a vitória nas eleições, simultaneamente servindo-se, como subalternos, de gente do “métier”, que não se importa de servir de capa, em troca da possibilidade de beneficiar de umas “benesses”, com destaque para as viagens.

UMA FESTA

QUE DURA UM DIA

O dia das eleições é de festa. Toda gente saúda a entrada de um homem de negócios na família do clube ou da modalidade e a “aquiescência” de vários doutores.

Mas a realidade, que vem logo a seguir, é a que se (re)conhece. Ficam a trabalhar os funcionários pagos pelo Estado, dirigidos por um Secretário-Geral sem poderes e com poucos meios. Isto porque os principais membros do elenco são “demasiado grandes” e ocupados, para marcarem presença regular junto aos problemas que vão surgindo.

Mas a verdade é que de fora, no lote dos derrotados, ficaram verdadeiros “carolas” – dos clubes e das modalidades – pessoas que o que não têm de dinheiro, lhes sobra vontade e interesse para trabalhar dia-a-dia ou mesmo hora-a-hora.

Esta é a “democracia” que temos no desporto. Ganha quem tem mais poder e… lábia.

Do conciliar das duas vertentes – somos tão poucos os disponíveis – talvez se unisse o útil ao necessário, isto é… o “power” ao trabalho, interesse e conhecimento!

SONHOS NO VAZIO

Há casos em que se sonha com as SAD´s – não se sabendo bem para gerir o quê – e entretanto vão-se elegendo “mecenas”, na esperança de que estes, com o seu poderio, consigam fazer engordar o minguado orçamento que o Estado vai alocando às modalidades.

E eu pergunto:

O que é que move um empresário, a quem não se (re)conhece um passado desportivo, a concorrer com toda a sua “artilharia” – influências, dinheiro e contactos – para se fazer eleger para a direcção de um clube, associação ou mesmo federação, deixando para trás gente com história e tradição?

Em tempo de eleições, vale tudo. Os cargos acabam sendo “refúgio” para gente sem tradição nem cultura desportiva.

Quem tiver dúvidas do que aqui se diz, que visite uma qualquer instituição desportiva, depois do horário adaptado pelo aparelho de Estado e tirará as suas próprias conclusões.

E quando me lembro que muitas estrelas, sobretudo das modalidades ditas mais pobres, fizeram carreiras brilhantes, acompanhadas de dirigentes dedicados e que faziam dos clubes as suas segundas casas…

Os interesses dos chamados “para-quedistas” no desporto são vários, mas a mais comum é a de poder “apanhar boleia” para as viagens do mais alto nível, que traz subjacente a possibilidade de conviver com altos dignitários abrindo portas se o recurso a infindáveis pedidos de audiências.

E é assim que as estruturas citadas começam com 20/30 pessoas e o elenco se queda, em fim de mandato à figura do Secretário-Geral, mais um ou outro membro que tentam disfarçar uma crise permanente de disponibilidade, filha de uma visível falta de paixão.

Se a Democracia aplicada ao desporto leva a isto, então eu tenho que dizer. “ai que saudades dos carolas, ainda tão presentes nas nossas vidas”! 

 

 

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