Abdul Hanane, presidente do Benfica de Nampula, considera que o próximo presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) deve ser um homem íntegro com experiência de gestão desportiva e corajoso para impor ordem canalizando o devido financiamento às iniciativas de formação de jogadores.
O prometido é devido. domingo prossegue hoje com o debate envolta do perfil e requisitos que deve reunir o sucessor de Feizal Sidat no cargo de presidente de direcção da FMF.
Abdul Hanane, presidente do histórico Benfica de Nampula (ex-Muhavire), não aponta nomes, mas é explícito quanto ao tipo de dirigente que gostaria de ver na federação.
– Para mim, o próximo presidente da federação de futebol deve ser um homem com capacidade de gestão e que possa saber gerir a federação, um homem que se identifica com o futebol, que tenha no seu CV experiência de gestão dum clube ou associação desportiva, não um pára-quedista.
No entender de Hanane, o futebol moçambicano precisa dum dirigente máximo “comprometido e empenhado em mudar o futebol, que tenha a coragem de alocar os recursos financiados pela FIFA aos fazedores de futebol, que não se limita a investir na selecção, porque o país precisa de boa formação”.
Argumenta que não faz muito sentido o país ter um campeonato publicitado e com elevados recursos financeiros quando nas províncias não se realizam campeonatos dos escalões de juniores, federados e iniciados.
CLUBES PRECISAM DE APOIO
O nosso entrevistado sustenta que os cofres dos clubes estão vazios e é necessário um presidente federativo que perceba essa realidade e que intervenha para a sua alteração.
– Nas províncias, os clubes estão esfarrapados e ainda são exigidos licenciamento com os mesmos requisitos que devem apresentar clubes como Costa do Sol, Ferroviários e Maxaquene. Queremos um presidente que vá falar com o Presidente da República, Governo e o ministro do desporto e lhes diga que no futebol não há Unidade Nacional. Fala-se de Unidade Nacional mas no futebol há discriminação.
Perguntamos-lhe como se manifesta a tal discriminação que deve alterar o próximo presidente da FMF, tendo respondido nos seguintes termos:
– Não se justifica que os Ferroviários, o Costa do Sol e o Maxaquene mamem do erário público, beneficiem-se de fundos públicos quando nós estamos de tangas. Há 40 anos que isso está assim e ninguém muda. Precisamos de um interlocutor dos clubes que são alimentados do bolso dum Hanane, João ou Fernando.
“O próximo presidente da federação deve conhecer profundamente a realidade actual dos clubes para não impor exigências sem enquadramento. O Benfica de Nampula tem infra-estruturas, sócios e simpatizantes, direcção organizada, por que não recebe patrocínio duma empresa forte como mcel ou vodacom? Por que o Costa do Sol pode receber e eu não? Há uma discriminação aberta e é isso que o presidente Samora não queria. É preciso recuperar a Unidade Nacional no futebol”, argumenta.
Para aquele dirigente, os patrocínios devem chegar às escolas de formação e academias. “O próximo presidente da federação deve perceber que neste momento não há condições de fazer alta competição em Moçambique porque não existe uma base sólida. A pirâmide está invertida”.
Por isso, sustenta, é necessário organizar o futebol a partir da localidade, do distrito e província. “Os clubes não têm formação. Nos campeonatos provinciais estão a reduzir as equipas. Não há garantia de sustentabilidade do próprio Moçambola porque as províncias não estão a produzir jogadores. Nas províncias não há formação e isso é que explica que se realizem campeonatos nacionais de juniores ou juvenis com quatro equipas para este vasto Moçambique. Não faz sentido!”.
Abdul Hanane explica que é devido a falta de formação nos clubes que em Moçambique se festejam torneios “mal paridos” como é o caso da Copa Coca-Cola.
– É por isso que surgem estas copas Coca-colas e muitos a pensarem que estão a buscar talentos quando na verdade não. Os Jogos Escolares são um espaço de falsificação de idades e de desfile de jogadores federados.
No entender do nosso entrevistado, “os jogadores jovens que estão nos clubes, devido a falta de campeonatos, são os mesmos que jogam nos festivais escolares e copas Coca-colas. É uma fantochada falar de talentos nessas copas, aliás, não foi ai onde foram descobertos os Chababes, Luís e Ramos Siquice, Rui Évora e outros”.
Na sentença de Abdul Hanane se pode ler o seguinte:
– Queremos um presidente corajoso que pode mudar isto. Um presidente que proíba de verdade a inscrição de clubes no Moçambola sem que movimentem escalões de formação.
Texto de Custódio Mugabe