Sempre que termina um ano se faz balanço das realizações. Somos postos a ler, a ver e a ouvir relatos de boas coisas conseguidas por estes e por aqueles. Pouco ou quase nada se fica a saber do que não se fez. Pusemo-nos ao dispor desse desafio de saber o que no desporto não se fez daquilo que estava planificado para 2013.
Não é exercício fácil buscar no ano passado o que não se cumpriu. Não queremos de forma nenhuma julgar a ninguém, queremos, isso sim, alertar sobre o que faz atrasar o nosso desporto, cientes de o que não se faz entrava qualquer processo de desenvolvimento.
Da busca que iniciamos nos apercebemos que o que se faz no nosso desporto ainda é muito pouco em relação ao que não se faz do prometido.
Dirigentes são que mais não cumprem com o que prometem, aparecendo o atleta como a principal vítima desse incumprimento, que por vezes custa dinheiro ao Estado.
E estamos certos que o nosso leitor pode conhecer mais coisas que deviam acontecer o ano passado e que não aconteceram. Contamos com a sua colaboração, através dos nossos contactos telefónicos e electrónicos.
ATLETAS NÃO SEGUIRAM PARA O BRASIL
Sílvia Panguana, corredora de 110 metros barreiras não seguiu para Brasil e Juliano Máquina, pugilista, não foi nem para Brasil nem para Cuba, em estágio, como havia sido prometido pelo Comité Olímpico de Moçambique. Ambos estiveram nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e já deviam estar em preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil.
A ideia do Comité Olímpico de Moçambique (COM) de enviar atletas para estágio no exterior visa prepararem-se melhor para os Jogos Olímpicos, permitindo o país ter participação gloriosa, melhor que simples presença. Um estágio de três anos num país como Brasil, onde o crime e os problemas são superados pelo desporto, seria mais-valia para o nosso desporto. É pena que quando os dirigentes do COM entenderem pôr os miúdos lá fora, já será tarde para essa preparação.
Internamente assistimos atletas de Matchedje de quase de todas as modalidades a serem prometidos o pagamento de salários de quatro meses em atraso, o que não se efectivou. Ao invés disso foram desejados boas festas natalícias e do fim do ano pela direcção do clube num almoço que terá custado o dobro do que ainda se deve aos atletas.
BOXE, TÉNIS E BASQUETEBOL
SEM CAMPEONATOS
Enquanto algumas modalidades procuraram fugir da letargia, a de boxe voltou a retardar-se em 2013. Benjamim Uamusse (Big-Ben) fechou-se dentro da Federação Moçambique de Boxe (FMBoxe) e sozinho quis pôr a andar uma modalidade sem rodas. De quando em vez, da janela prometia campeonato nacional para a cidade de Quelimane, para a cidade de Inhambane, para cidade de Maputo…
Em Dezembro, a poucos dias do fim de 2013, fez saber aos seus próximos que o INADE (Instituto Nacional do Desporto) já podia dar dinheiro do Fundo de Promoção Desportiva para as actividades desportivas de todo o ano que estava a terminar.
Deu um pulo para o centro do país, deixando para atrás a boa notícia de que o campeonato nacional de boxe de 2013 seria na cidade da Beira. Da Beira, já em voz muito baixa, confirmava que a prova seria naquela cidade, de 6 a 9 de Janeiro de 2014, o que nunca mais se ouviu falar.
Antes, precipitadamente assistiu-se a realização de qualquer coisa que um certo atrevido que ficou com as “chaves” da Associação de Boxe da Cidade de Maputo, de que Big-Ben foi o último presidente, chamou de campeonato da cidade.
No tal pseúdo campeonato, realizado num recinto pouco apropriado para actividades desportivas da alta competição, participaram o Ferroviário de Maputo e um tal núcleo do bairro de Jardim, onde militam alguns aprendizes de boxe. O Matchedje, crónico campeão nacional, e as academias Lucas Sinoia, e Paulo Jorge, verdadeiros viveiros de pugilistas, não participaram. É que, esse tal atrevido que se apropriou na associação entendeu à última hora cobrar dinheiro de inscrição dos clubes, em valor que para uns foi insuportável. Desse modo a federação fica com a tarefa fácil, pois só terá que transportar de avião poucos atletas de Maputo para Beira.
Lá nas províncias também só se falou. Os que tentaram organizar algo, isso não passou de justificativo de qualquer ajuda que não serviu para campeonatos.
A outra grande nódoa que manchou o nosso desporto foi a não realização dos campeonatos nacionais de basquetebol, com destaque para o de sénior masculinos. À última hora, por razões pouco convincentes, foi adiado para o próximo ano.
No meio de tanta irresponsabilidade, emergiu uma ideia infantil de às pressas se realizar a tal dita Taça da Liga Moçambicana de Basquetebol. Forma encontrada por um grupinho de gente sem vergonha que abunda na modalidade para impedir que o Ferroviário da Beira voltasse a representar o país, como o fez este ano por ter sido campeão em 2012.
A tal Taça, de que vencedor foi o Ferroviário de Maputo, que vai representar o país este ano, foi agendada sabendo-se que o Ferroviário da Beira, campeão em título, estaria na Tunísia a representar a República de Moçambique. Que aberração!
O Campeonato Nacional de Ténis foi marcado para Nampula, para logo depois a federação descobrir que lá não é possível porque os “courts” não estão em condições. Não houve campeonato.
INFRA-ESTRUTURAS “INACABÁVEIS”
No passado reportamos disponibilização de fundos de Estado para a construção de Infra-estruturas desportivas por todo este país. Por exemplo, na cidade de Xai-Xai, devia ser construído um Complexo desportivo. Bastou a colocação de uma carrada de pedras no local para que alguém tivesse como justificar o dinheiro que já estava nos cofres da Direcção da Juventude e Desportos. Nunca mais se falou dessa construção nem do novo destino desse dinheiro, que na altura era avaliado em mais de quinhentos milhões de meticais da antiga família.
O caso de Xai-Xai é apenas um exemplo. Podíamos falar de complexos idênticos que haviam sido projectados para outras cidades como Chimoio, junto ao quartel, cujo dinheiro andou nas mãos de um tal empreiteiro que se aproveitou da fragilidade da entidade desportiva governamental para come-lo à vontade.
Em 2013 deviam ser concluídas as obras do campo municipal de Pemba. Devia ter havido realização de jogos do Moçambola no Campo da Bela Vista, em Nacala.
Ainda em 2013, não houve inicio das obras de colocação da relva sintética no campo do Ferroviário de Quelimane que poderá receber os jogos daquela colectividade no Moçambola edição 2014. Não houve ainda o início de obras de construção do campo do Chingale, em Tete. Não houve conclusão das obras do Complexo Desportivo do Ferroviário de Gondola, em Manica. Os empreiteiros dos recintos que acolheram os X Jogos Africanos de 2011 não cumpriram com todas as promessas de rectificação de algumas obras e conclusão efectiva doutras.
E os jogos de preparação dos Mambas não se efectivam de modo como haviam sido planificados pela Federação Moçambicana de Futebol (FMF).
Manuel Meque