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Nunca disse que era candidato a presidente da FMF

Por admin

Enoque João abriu-se ao domingo sobre a sua propalada candidatura a presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), cujas eleições terão lugar este ano. O presidente da Casa de Moçambique em Portugal afirma que ainda não é candidato e nunca o foi, admitindo, todavia, vir a concorrer caso seja convidado pelas associações provinciais.

Já estamos no semestre eleitoral na FMF e, por isso, entendemos discutir com Enoque João os contornos e motivos da sua candidatura. O dirigente defende inovação na gestão da federação e assegura que tem parceiros nacionais e internacionais para apoiar o futebol. Contudo, sublinha que ainda não é candidato a suceder Feizal Sidat no trono da FMF.

Senhor Enoque João, é ou não candidato a presidente da Federação Moçambicana de Futebol?

Não sou candidato a nenhum mandato de presidente da Federação Moçambicana de Futebol. Sou sim presidente da Casa de Moçambique em Portugal, mas se as associações, se o país, se as altas individualidades deste país quiserem uma continuidade deste futebol, eles que continuem com este futebol, mas se as associações, principalmente as associações de futebol, me convidarem para dirigir o futebol, estou disponível. Mas para isso não vou lançar a minha candidatura sem suporte, não farei esse papel ridículo, terão que ser as associações a convocarem-me para esse desafio. Por outro lado, dizer que pelo tempo que vivo na Europa, pelo tempo que vejo o futebol moçambicano, é importante que este futebol não seja o mesmo que de há 20 anos. Querer futebol de há anos é dizer que não queremos ser independentes. Se pessoas dizem que querem o futebol de há 20 anos, é o mesmo que dizer que não querem ser independentes. O que queremos é o futebol actual, com visão actual, com perspectiva actual, um futebol que seja mais-valia para a economia do país.  Tenho uma visão clara do que o futebol precisa, uma visão assente numa base realística.

Está a dizer que a sua candidatura só seria lançada por uma associação provincial ou na presença de seus dirigentes?

Desde que me convidassem. Não faço candidaturas abstratas, não sou desses, não faz sentido dizer que sou candidato sem suporte de pelo menos uma associação provincial de futebol.

NÃO ESTOU EM CAMPANHA

O que lhe preocupa no futebol moçambicano? O que a sua candidatura pretende solucionar?

Disse e repito que não sou candidato. Nunca disse que era candidato a presidente da federação de futebol. Algumas pessoas é que viram meus gestos, meus apoios ao futebol, e colocaram-me como candidato. Como moçambicano, digo que o futebol precisa duma nova visão, organização, gestão, e acima de tudo uma coisa muito valiosa que se perdeu, que é o valor humano. Este futebol precisa de valor humano, de solidariedade, fraternidade, carácter. Moçambique não pode ter grandes jogadores e dirigentes sem essas bases.

Onde e como se manifesta essa falta de carácter e solidariedade?

Em todos agentes desportivos, não podemos escamotear, são todos, incluindo eu próprio. Há falta de lealdade. Quarenta anos depois da independência é que algumas associações tiverem um mini-estágio para se inteirar como são geridas as associacções desportivas noutros países. Isso foi fruto da preocupação de alguns moçambicanos, os mesmos que são criticados por pretenderem fazer melhor para o país. Afinal que desporto é que querem as pessoas? Estou grato a algumas pessoas pela sua ingratidão.

Está a referir-se a viagem dos presidentes das associações provinciais de futebol a Portugal, interpretada como sua pré-campanha?

Nunca foi campanha. A Casa de Moçambique participou nas cheias de 2000 com acções de solidariedade, queríamos tomar o lugar do presidente Chissano? Os que pensam isso são medíocres. Noutras calamidades a Casa de Moçambique participou, trazendo dinheiro e medicamentos, queríamos um lugar? Promovemos Moçambique no exterior, a Casa de Moçambique está na Cidadania Tributária, queremos um lugar na Autoridade Tributária? Oferecemos ao Fundo de Promoção Desportiva equipamento médico e bolas, será que queremos o lugar do director do fundo? Oferecemos ao atletismo material que nunca tiveram em 40 anos, queremos ser presidentes da federação de atletismo?

A viagem aconteceu num ano eleitoral. Abordou com os presidentes das associações as eleições na federação?

Em nenhum momento foi abordado isso. O que foi abordado é como podemos gerir as associações, que forma como as associações doutros países se organizam para buscar fundos para movimentar o futebol. São estas as perspectivas abordadas em Portugal. Alguns presidentes das associações provinciais estão a ser convidados para colher experiências da França e Espanha. Será que também é campanha? Desculpem-me, ninguém é candidato aqui!

FORMAÇÃO DE AGENTES

DESPORTIVOS É CRUCIAL

Como pensa que Moçambique pode exportar mais jogadores para Europa?

A Casa de Moçambique pretende contribuir para isso, através do Governo português, federação portuguesa, a nível de algumas federações europeias que temos contacto com elas. Eu sou Embaixador da Paz junto das Nações Unidas, estou ligado ao Vaticano, a Casa de Moçambique é membro Consultivo da Câmara Municipal de Lisboa, todas estas instituições estão dispostas a ajudar Moçambique a crescer. A Europa tem fundos para o desporto moçambicano, isso foi dito aos presidentes das associações provinciais, o importante é estarmos organizados para irmos buscar esses fundos. Temos fundos para virem técnicos formar treinadores, é preciso estarmos organizados.

Pensa que a formação de bons jogadores passa pela exportação para países europeus?

Olho com tristeza para a formação no país. O que vejo são mais leis, precisamos ter mais atitude. Em relação a formação tenho seis clubes europeus que estão dispostos a receber jogadores moçambicanos com 16, 17 ou 18 anos, que sejam mais-valia. Temos que exportar a matéria-prima muito cedo, não com 25 ou 26 anos como está a acontecer porque é tarde. Você só pode educar seu filho desde a base, não quando ele tiver 20 anos, é tarde. O Cristiano Ronaldo saiu da Madeira com 13 anos, houve responsáveis para cuidar dele e hoje é o Melhor Jogador do Mundo. Temos que ter infra-estruturas à altura dos nossos desafios.

O que pensa sobre infra-estruturas e outros equipamentos?

Tenho parceiros fortes para infra-estruturas, desde que os actores desportivos assim o queiram. Estou com a pessoa que ajudou o Governo de Moçambique a erguer a aldeia olímpica, numa altura que restava pouco tempo para os Jogos Africanos e só havia quatro blocos construídos. Há um clube que se vai beneficiar destas parcerias brevemente. Os dirigentes desse clube que aceitou a nossa proposta, viajam a Barcelona e Paris brevemente. É importante pensar nas diásporas, as diásporas podem fazer mudar o Mundo. Portugal conseguiu sair da crise graças às diásporas, por que não utilizá-las para o nosso futebol?

Tem receio de actos de corrupção nas eleições da FMF?

Não sou candidato, mas posso dizer que só acredito no que vejo. Por enquanto é pura falácia, não vamos acusar pessoas sem fundamentos. Eu próprio sou acusado de coisas que não fiz. A inteligência deste povo não pode ser a mediocridade, porque acusar sem provas é crime, é falácia.

João Chissano demonstra capacidade

Por que as selecções nacionais não tem bons resultados?

É importante a formação de jogadores, gestores e treinadores. Todos os pilares estão na formação, temos de começar de pequenino. O treinador João Chissano fez uma boa prestação, conquistou o segundo lugar da COSAFA, que é muito bom, devemos nos orgulhar. Esta posição leva Moçambique a outros níveis, próxima vez seremos encarados doutra forma porque sabem que jogamos para o primeiro lugar.

Aconselharia o próximo presidente a manter João Chissano como seleccionador?

João Chissano, por aquilo que conhece na selecção, o ambiente lá dentro, seria para manter, agora não sei em que posição. Quando fazemos mudanças bruscas, às vezes caímos no erro. João Chissano devia continuar na federação, se calhar com mais dois ou três técnicos, porque demonstra ser capaz de conduzir homens.

Feizal Sidat ainda

pode dar muito ao país

O que pensa do actual elenco da federação?

Há uma herança que ninguém pode escamotear. Nenhuma federação do país, desde basquetebol, atletismo, voleibol ou qualquer outra, tem infra-estrutura como a da federação. Se um homem ergue uma infra-estrutura como aquela e se diz que fez tudo mal, então essa pessoa merece perdão porque as pessoas não sabem o que dizem. Os Sidats têm conhecimento a nível internacional para ajudar Moçambique e devem continuar a fazê-lo, mesmo que não seja na direcção da federação. Se por acaso um dia fosse candidato e fosse eleito presidente da FMF, repito que não sou candidato, Feizal Sidat seria o presidente honorário internacional porque ele conhece todas áreas internacionais que o país precisa para continuar a progredir no futebol. Não podemos deitar fora o que ele e a família construíram ao longo desses anos. Não foi por acaso que o presidente Nyusi mudou vários ministros e manteve o Oldemiro Balói porque conhece as relações exteriores do país.

Como olha para os candidatos já anunciados, Manuel Chang e Alexandre Rosa. Está aberto a contribuir numa candidatura?

Só responderia se estivesse também na corrida. Enquanto presidente da Casa de Moçambique e enquanto cidadão estou sempre disposto a ajudar o país. Fui formado pela Confederação Africana de Andebol, fui treinador no Desportivo de Maputo na área de andebol, em Portugal treinei andebol e futebol, portanto, a nível de desporto ninguém me dá lições de gestão.

Sou amigo de JJ

não faço nada por intuição

Em que fase está a introdução da marca de equipamentos desportivos Joaquim João (JJ) no país?

O projecto está com Joaquim João, ele é que sabe, continuo amigo dele e da família, a marca está com ele.

Recentemente ele disse publicamente que a marca já estava na rua e ele não tinha qualquer benefício.

O senhor Joaquim João sabe perfeitamente dos benefícios que está a ter. Ele que venha a público dizer que benefícios está a ter. Eu os tenho escritos. Quando se lança uma marca há investimento primeiro, se não investe como terá lucros da marca? Tem um contrato que está com ele, que caso iniciássemos este ano, em 2016 ele ganharia mais e em 2017 ainda mais. É preciso montar uma fábrica. Você não pode ser professor se não estudou para ser professor.

Significa que a expansão da marca está hipotecada?

A fábrica vinha cá, eu gostaria de criar aqui uma identidade nacional que desse nome a estes 40 anos da independência nacional. O meu amigo Mário Coluna já não está cá, mas após a independência há uma pessoa que é o senhor Joaquim João. Temos que ter marcas de identidade nacional, um país sem memória é um país sem história. Deixo isso para o Senhor Joaquim João. Aliás, ele me deve um pedido de desculpas, quando há jornais que dizem que estou a extorquir não é bem verdade, aliás a fábrica é clara e diz que já não vem a Moçambique, são 80 postos de trabalho comprometidos. Ele disse no jornal desafio que não me traiu, seguiu sua intuição. Eu digo que continuo amigo de Joaquim João, mas estou triste, não faço nada por intuição.

Custódio Mugabe
custódiomuga@gmail.com

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