Sociedade

Camponeses contra venda de suas terras

A Associação Samora Machel , formada por camponeses do bairro de Guava, distrito de Marracuene, província de Maputo, acusa o seu presidente e outros membros da direcção de estarem a negociar a venda dos seus campos de cultivo com um suposto empresário, sem o seu consentimento.

Segundo relatos dos camponeses o alegado empresário estaria interessado em uma área de cerca de 50 hectares, sendo que até ao momento desconhece-se a actividade que o mesmo pretende desenvolver.  

De acordo com declarações dos elementos daquela associação, ao exigirem satisfações, o seu presidente revelou que a venda do espaço estava calculada em 37 mil e 500 meticais, a cada fragmento de 15/30 metros. 

Entretanto, sabe-se que a manobra de venda daqueles campos de produção de comida iniciou em 2014 envolvendo os membros da direcção.

Informações avançadas ao domingo dão conta que, para conseguir os seus intentos, o presidente entrou em contacto com os sócios que constituiriam um empecilho nas pretensas negociações e prometeu-lhes valores monetários.

Mas, a verdade é que os camponeses sentem-se burlados e reafirmam seu desinteresse pelo negócio, facto reforçado por considerarem que o dinheiro a ser embolsado não responderá a todas as suas necessidades. 

Refira-se que os camponeses da Associação Samora Machel produzem no respectivo campo produtos como repolho, alface, tomate, entre outros. Uma parte da sua produção serve para o consumo e a outra é comercializada para os revendedores dos diversos mercados da cidade de Maputo, com maior destaque para o grossista do Zimpeto, assim como Xikelene e Xipamanine.

Procurado pela nossa equipa de Reportagem, o vice-presidente daquela agremiação referiu que se pronunciaria numa data oportuna e na presença de outros membros da sua direcção. De qualquer forma, domingo ficou a saber que foi marcada para amanhã, segunda-feira, uma reunião entre a direcção da associação e os restantes membros, com o objectivo de discutir o assunto da venda daquelas machambas.  

INCONFORMADOS

Para além de considerarem um negócio sem ganhos monetários consideráveis, a preocupação dos produtores de comida da Associação Samora Machel advém, igualmente, do facto de, a terem que entregar o seu campo de cultivo, verem-se obrigados a procurar outras terras para produção.

Ademais, segundo referiram, não vislumbram outra alternativa ao trabalho da machamba que pudesse servir de base para o seu sustento.

Em conversa com Salmira Mabunda, uma das agricultoras, esta manifestou o seu desespero, uma vez que, segundo declarou, a terra é a sua única fonte de sobrevivência.

“Eu não sou casada e não trabalho, vivo desta machamba há muito tempo. Não sei o que será de mim porque o que produzo aqui, uma parte serve para o meu consumo e a outra para venda. Com os ganhos compro roupa, energia e outras coisas”, disse Salmira.

Por sua vez, Francisco Cumba, também agricultor, questionou a atitude do presidente da associação “quando, paradoxalmente, afirma que a terra é do Estado não se vende, e que no dia que o Estado entender virá nos arrancar, mas a dado passo envolve-se em negociatas. Essas palavras deixam-nos confusos e não sabemos a quem recorrer para apresentar a nossa preocupação”.

Por seu turno, Francisco Chicavele referiu que por causa dos pronunciamentos do presidente da associação alguns agricultores começam a ficar fragilizados e demonstram interesse em entregar as suas machambas.

Devido a este facto, continuou Francisco Chicavele, “prevemos mais sofrimento no seio dos camponeses. Nós não sabemos fazer mais nada, senão produzir comida. Com a agricultura resolvemos muitos problemas, sem incomodar o Governo, designadamente as despesas da escola das crianças, hospital, entre várias” disse Chicavele, tendo acrescentado que, para ele “37 mil e 500 não vai resolver definitivamente o problema de fome”. 

Abibo Selemane

habsulei@gmail.com

 

One Comment

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