Desporto

Não comento trabalho da CNAF

Quando após o jogo, em Tete, o treinador Arnaldo Salvado se insurgiu verbalmente, de forma não correcta, contra uma vossa colega, das outras mulheres não se ouviu nada. Estavam de acordo com o técnico?

Olha, você é o único jornalista que pergunta a uma mulher do futebol sobre os insultos proferidos por Arnaldo Salvado a uma nossa colega. Palmira Pedro, da federação, acusava-nos de mandar despir uma atleta, alegadamente por parecer homem. Convidamos a ela a vir provar isso junto dos atletas na nossa presença. Não veio. Tratava-se de uma mentira. Da vez dos insultos de Salvado nenhum jornalista quis ouvir a reacção das mulheres. Os homens pensam que as mulheres estão a mais no futebol. Eu já bebi muito de futebol, pelo que, não é um treinador de futebol que me vai pôr mal disposta. Como delegada já saí do jogo escoltada pela policia, no campo 1º de Maio. Não me lembro quem era o adversário do Desportivo.

Ganhou Desportivo?

Se tivesse ganho o Desportiva não haveria problema, seria tudo normal. Aquilo me marcou bastante, porque como delegada não vejo como influenciar no resultado de jogo. Eu incentivo as outras mulheres a serem delegadas de jogos, não só de futebol, mas também de outras modalidades. É só saber ser firme no cumprimento das obrigações definidas, não ceder. Um delegado do clube CETA já partiu a bandeirola que eu tinha na mão por não concordar com uma decisão minha. Não hesitei em propor o fim do jogo, por falta de condições para o seu prosseguimento, isso no campo do Mahafil. O clube foi penalizado.

EMPREENDEDORA NA FORJA

Que mais faz, para além de delegada de jogos?

Sou uma empreendedora comercial. Temos este estabelecimento familiar de venda de bebidas e comida. Trabalho aqui com a minha irmã.

Acha positiva a participação da mulher no desporto aqui em Moçambique?

Não sei se é positiva ou se é negativa. Há poucas mulheres no futebol. Há mais no basquetebol, no volei e no andebol. Ainda bem que as mulheres começam a preencher lugares no judo, no boxe…e noutras modalidades, outrora tidas de só para homens.

A mulher é ou não respeitada no nosso desporto?

A mulher no nosso desporto não é respeitada.

Não é?!…

Não é respeitada porque muitas das vezes nos dizem que devíamos estar em causa a cuidar dos nossos filhos e maridos, isso por parte dos espectadores. Temos Palmira Pedro, temos Madalena Taju, mulheres que através de futebol demonstram que somos úteis ao desporto.

Portanto, acha que a sociedade não está preparada para ver a mulher no volante de qualquer coisa de desporto?

Quando uma mulher é dirigente, como Águeda de Sousa, que presidiu a Associação de Futebol de Nampula, dizem que é dama de ferro. Como nós procuramos fazer cumprir os instrumentos legislativos do desporto, mais que homens, é por isso que nos chamam de damas de ferro.

Tem meta a tingir no desporto ou basta ter chegado a delegada de jogos do Moçambola?

Tenho ambição de chegar mais longe. Talvez vir a pertencer a um elenco nacional.

Como ser presidente de uma federação. Vai até lá?

Presidente de federação! Não!…

Que tal, uma mulher presidente da Federação Moçambicana de Futebol?

A sociedade deve estar preparada para isso. Uma mulher pode dirigir a federação, assim como pode presidir a liga de futebol. Qual é o problema? Se temos ministras, se já tivemos uma primeira-ministra, se temos vice-presidente  e agora presidente do Parlamento, porque não ter uma presidente de federação ou da liga de futebol? Temos tido presidentes federativas de outras modalidades.

Como tem avaliado o trabalho da Comissão Nacional de Àrbitros de Futebol (CNAF)?

Não gosto de avaliar o trabalho dos outros. Cada um que faça juízo do seu trabalho.

Como encara a imprensa desportiva nacional para com a mulher desportista?

Eu como estou na liga de futebol interajo muito com os jornalistas. Posso não ser uma grande referência, mas os jornalistas estão a par do meu contributo no desporto. Olga está escondida na parte técnica da CNAF e Angélica parou na cidade. Mas no geral a mulher já merece mais espaço na imprensa desportiva nacional.

Qual é a sua tese universitária?

O tema da minha tese é o reaproveitamento, utilização, manutenção e rentabilização das infra – estruturas reabilitadas no âmbito dos X Jogos Africanos.

O que descobriu?   

Não é no jornal onde devo apresentar a tese.

Há boa utilização e manutenção dos recintos reabilitados e construídos?

Só posso-lhe adiantar que algumas infra-estruturas já exigem nova reabilitação e outras estão sendo bem conservadas.

A coisa não está bem!

Não está assim muito bem, mas também não está assim muito mal. Será que os clubes têm dinheiro para a manutenção daquilo que o Governo construiu ou reabilitou? Ou fica o elogio de que o Governo reabilitou e construiu infra-estruturas desportivas para os Jogos Africanos? Há muita coisa que ficou por construir para o nosso desporto evoluir. Que os empreiteiros contratados sejam realmente sérios. Há construções que deixam muito a desejar.

 Faz parte de alguma organização de mulheres, como a OMM?

Não. A minha organização chama-se futebol. Se tivesse que abraçar outra organização, não estaria a dar o futebol aquilo que estou a dar.

Qualquer dia ouviremos da existência da Associação Moçambicana de Mulheres do Futebol (AMMF)!

…Existe a associação de jogadores de futebol que nunca ouvi a falar das mulheres futebolistas. Será que o futebol é só aquilo que os homens praticam? Será necessário que se forme associação de jogadoras de futebol? Para mim, futebol é futebol, nada de feminino e masculino. Em algum momento nós as mulheres temos que levantar a voz para os homens nos ouvirem. Mas temos que contar com ajuda dos jornalistas. Nós também precisamos de aparecer nas televisões para expor as nossas ideais. As pessoas querem dialogar com a mulher desportista em directo pela televisão. Felizmente, a imprensa escrita nos tem dado mais espaço.

Já viu uma desportista na televisão com o bebé ao colo!

Será que as artistas que aparecem frequentemente nas televisões não têm filhos? Que se faça o mesmo com a mulher desportista.

Mais o quê?

Continuo a mesma, não mudei.

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