Início » Licínio de Azevedo: o coleccionador de troféus

Licínio de Azevedo: o coleccionador de troféus

Por admin

Ganhou qualquer coisa como cinquenta prémios de cinema em palcos de renome internacional. Ainda há pouco honrou-nos com a distinção da “Virgem Margarida”, uma longa-metragem de hora e meia, no festival de Argel. Estamos a falar de Licínio de Azevedo, que classifica o cinema como mescla de fotografia, montagem, jornalismo e literatura.

Define-se como cineasta e escritor. Contudo, a sua carreira profissional inicia no jornalismo, no início da década de 70, em Porto Alegre, no Brasil, em plena ditatura militar.

Como repórter calcorreou quase toda a América Latina, escrevendo sobre temas sociais. Trabalhou igualmente em Portugal e na Guiné-Bissau.

A sua paixão por Moçambique vem de longe. Radicou-se cá em 1978, três anos após a independência do país, actuando inicialmente como escritor no efervescente Instituto Nacional de Cinema, quando lá colaboravam cineastas de renome como Ruy Guerra, Jean-Luc Godard, Jean Rouch, entre inúmeros outros, de várias nacionalidades.

Desta época é o seu livro, “Relatos do Povo Armado”, episódios da guerra pela independência, usado como base para o guião da primeira longa-metragem de ficção moçambicana, “O Tempo dos Leopardos”.

A sua novela, “O Comboio de Sal e Açúcar”, ambientada na guerra civil, publicada nos Estados Unidos, já foi escolhida como livro do mês pelo Essence Book Club de Nova Iorque.

Os seus filmes, documentários e ficções, têm recebido inúmeros prémios internacionais. Destaca-se igualmente o facto de ser o único cineasta premiado por três vezes no FIPA, Festival Internacional de Produções Audiovisuais, de Biarritz, o mais importante evento europeu de obras para a televisão.

Em duas ocasiões recebeu o troféu de prata para filmes de ficção e uma vez o troféu de ouro para Grande Reportagem.

Não obstante o facto de ter nascido no Brasil, Licínio de Azevedo define-se como moçambicano “de gema”.“Sou moçambicano. Vivi no Brasil 25 anos, mas estou em Moçambique há 35”, diz ele aodomingo.

E sublinha que sente que os prémios que tem conquistado pelo mundo fora são também de Moçambique.

 

 

TRABALHO E PERSEVERANÇA

 

É nestes dois pilares que assenta o segredo de sucesso de Licínio de Azevedo que faz filmes há trinta anos. Em entrevista aodomingo, disse que é essencial, na produção cinematográfica, o conhecimento do país e da sua gente, fruto de pesquisa sócio-antropológica com vector principal na identificação profunda dos sentimentos do ser humano.

“Sem estes pressupostos, o cinema não me interessa”, sublinha.

Uma vez em Moçambique, Azevedo enveredou no caminho de documentários, percorrendo quase todas as províncias do país, num contacto cultural indescritível.

Nesse tempo toma contacto com a estrutura de ficção, pesquisando tempos de guerra. O seu filme “A Árvore dos Antepassados”, diversas vezes premiado, aborda o drama de refugiados moçambicanos que regressam do Malawi após longos anos de guerra em Moçambique.

“Foi necessário ir ao terreno pesquisar como viviam essas pessoas”, conta-nos o nosso entrevistado, ressalvando que neste aspecto é difícil estabelecer a fronteira entre jornalismo e cinema. A vantagem dele é ter vivido nos dois mundos.

Nesse filme os refugiados retornam à terra imbuídos de uma missão: reencontro com os seus ancestrais. A guerra fê-los fugir sem uma digna despedida. Sem a cerimónia de “pedido de uma boa viagem”.

Tudo isto faz no Instituto Nacional de Cinema, entretanto devorado pelas chamas, onde lado-a-lado com renomados cineastas de então recolheu estórias de camponeses nas zonas libertadas.

“Comecei pela escrita. Como escritor e  jornalista. Fazia textos para guiões”, recorda-se.

Após longa labuta no Instituto Nacional de Cinema, Azevedo passa para o Instituto de Comunicação Social nos tempos da televisão experimental. “Fiz pequenos documentários a partir de 1980 para o programa Canal Zero, onde fui várias vezes premiado”, recorda o nosso entrevistado, sublinhando que foi no cinema onde encontrou o quadro mais completo de realização profissional.

“No cinema encontras a literatura, o jornalismo, a fotografia e a montagem”, sublinha.

Você pode também gostar de:

Leave a Comment

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana