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Isto vai acabar mal!…

Por admin

Estavam em disputa quinhentos meticais (500,00Mt). A equipa do Bairro Agostinho Neto no jogo da segunda mão só precisava de um empate, depois de ter ganho o da primeira por 1-0 à equipa do povoado de Thunduzi, nesse tal jogo em que tive que intervir para terminar, já que o árbitro não queria que a formação de casa fosse derrotada.

Isso mesmo, tive que contratar um amigo, que eu julgava um sabe-tudo do futebol, para apitar o jogo decisivo do “Torneio Quinhentos Meticais.” Não sabia que o meu amigo Carlos iria me decepcionar junto da rapaziada que já entende muito do futebol, graças ao que assistem da televisão, das vezes que o sinal da TVM se faz presente em Morrumbala.  

A equipa de Thunduzi havia se preparado ao pormenor para a segunda recepção à equipa do Agostinho Neto, a qual integra jogadores frequentes da selecção distrital que tem participado no campeonato provincial de futebol recreativo da Zambézia. Até houve reunião de emergência dos “madalas” da zona na procura de qualquer coisa que permitisse a equipa de casa ganhar o segundo jogo e os quinhentos meticais em disputa.

Sentado junto doutros senhores, amigos da infância, hoje pais dos meus jogadores…Dizia, sentado ouvia os jogadores de ambas equipas a gritarem “boss, este arpiteiro não sabe nada.” Arpiteiro é como os meus conterrâneos designam o árbitro.

Aos poucos fui percebendo que Carlos estava mais a assistir ao jogo que a ajuíza-lo, mas não podia expulsá-lo do campo. Todos lamentávamos pela sua arbitragem.

A rapaziada vinha ter comigo para a substituição do árbitro a que chamavam de “barrigudo imóvel.” Mas eu não tinha alternativa e não tinha visto um árbitro a ser substituído por má arbitragem.

 Quando a equipa do Agostinho Neto marcou o primeiro golo e depois o segundo, passei a ouvir dos jogadores do Thunduzi que eu era a favor da equipa visitante, que por sinal do meu bairro lá na vila. Dizia-se que havia preferido aquele “arpiteiro” para prejudicar Thunduzi. Esqueciam-se que eu sou patrono do clube deles.

“Boss, ponha fora do jogo este arpiteiro, que para além de não saber nada, só nos prejudica”, repetiam os meus jogadores.

O 3-0 dos visitantes irritava mais aos jogadores de Thunduzi, pois a chance de ganhar quinhentos meticais estava praticamente perdida.

O jogo voltou a parar. Um jogador veio ter comigo para dizer: “ Boss, isto vai terminar mal!” De seguida assistiu-se a uma briga entre jogadores, numa altura em que o “arpiteiro” conversava com um amigo muito longe do local onde isso acontecia. Tivemos que intervir para chamar atenção do árbitro ao que estava acontecer e acalmar a situação que por pouco resultaria em pancadaria incontornável.

Cabisbaixo eu assistia ao jogo. Dizia para mim “Carlos vai-me pagar por esta vergonha de arbitragem.” Quando o jogo acabou, fingi que não estava insatisfeito pelo seu trabalho, mas já tinha decidido que não lhe pagaria por aquela péssima arbitragem. O tipo não se movia, não sabia assinalar fora de jogo e assinalou um penalte em uma jogada que não viu.

A caminho da vila, falei-lhe do que não gostei da sua actuação. Ele alegou que não se podia movimentar tanto porque o chão do campo estava torto e cheio de capim mal cortado na véspera do jogo. Disse mais, que aquilo não era futebol para uma boa arbitragem, era brincadeira. Foi quando lhe disse que não lhe pagaria por aquela brincadeira, que não lhe ofereceria a sua bebida preferida. Já na vila, ele foi quem pagou as rodadas do dia!

No dia seguinte informaram-me que com aqueles quinhentos meticais os rapazes da equipa do Agostinho Neto compraram bola de futebol, que muito lhes fazia falta. Gostei!  

Manuel Meque        

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