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Eu também sou Antigo Combatente!

Por admin

A coisa de Morrumbala de hoje não é desportiva, é social, produzida das conversas que mantinha com os amigos, dentre Antigos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (25 de Setembro de 1964 – 7 de Setembro de 1974), enquanto gozava as minhas férias de 2014, nos dias de muita chuva e de muita incerteza quanto à produtividade agrícola de 2014-2015.

Com alguns dos antigos combatentes voltei a aprender mais sobre a nossa história, a história de Morrumbala e a história de Moçambique. Com os outros troquei experiência.

À primeira, os antigos combatentes me tinham como um “miúdo” de pouco mais de trinta anos de idade a viver na cidade de Maputo, capital do país, a que preferem designar de Nação. Aos poucos foram percebendo que estavam diante de um cinquentão, com alguma história de Morrumbala e do país na cabeça.

Ao longo de dias de confraternização, no complexo comercial do combatente X, eu já falava como um camarada antigo combatente, ao mesmo tempo que ia ouvindo coisas que não são contadas a qualquer um, que não as narro aqui. Fiquei a saber que nem todos os registados como antigos combatentes, no distrito fronteiriço de Morrumbala, terão participado na Luta de Libertação Nacional, direita ou indirectamente.

Era confidenciado que havia “infiltrados” nas listas dos antigos combatentes, mas que ninguém tinha coragem dos denunciar para não sofrer represálias, já que esses eram apadrinhados por gente grande vivendo em Morrumbala, em Quelimane e ou em Maputo, mediante pagamento de dinheiro ou ofertaria de galinhas, cabritos, porcos, etc… Por vezes me era dito “aquele ai não combateu, nem no mato nem clandestinidade” ou “ naquela família todos recebem pensão de Antigo Combatente de Luta de Libertação Nacional mas nenhum é por mérito próprio. É triste que isso esteja a acontecer envolvendo gente que devia ser exemplar e honesta para com o Estado.”

Recordei-me de um tal velho Antigo Combatente de Luta de Libertação Nacional que eu entrevistara, lá em Morrumbala, há um ano. Ele dizia que não ia tratar a documentação de beneficiação de pensão de combatente, alegadamente porque não queria se misturar com os falsos antigos combatentes.

Um dia, enquanto esperava pelos “camaradas” que vinham fazer compras na vila ou dos amigos, que nas suas casas se desfaziam de babalaza, pude ouvir uma conversa elucidativa de haver em Morrumbala falsos antigos combatentes.

“Bom dia! Meu amigo, obrigado. Graças a si já me beneficio de pensão de antigo combatente. Para começar recebi muito dinheiro. Comprei esta bicicleta. Vou comprar cimento e chapas para concluir a minha casa. Se não fosse você, eu estaria a sofrer como alguns que de verdade lutaram. Toma esta nota e continue a guardar segredo. Nunca dizer a ninguém que não participei na Luta de Libertação Nacional.” Eu fingia estar a escrever e a ler SMS. Era um ilustre desconhecido daqueles dois que também não os conhecia.

Um dia sugeri que para se combater o vírus de “Falso Combatente” , os candidatos a pensão deviam passar por um teste de montar e desmontar uma arma de guerra. E para os que já se beneficiam da pensão que fossemos à esquadra policial distrital pedir uma arma para teste de confirmação de terem lutado ou não.

Um velho que conheci nos anos setenta no centro prisional da PIDE (Polícia de Internacional e de Defesa do Estado), em Nicoadala, onde ele e meu pai cumpriam a última etapa do seu aprisionamento por ligações com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), me alertou da existência de verdadeiros antigos combatentes que não pegaram arma, mas que desempenharam papéis muito importantes na libertação do nosso país do jugo colonial, tudo na clandestinidade, o que eu sabia.

De repente, surgiu alguém com outra ideia dizendo “para mim, a solução seria o Governo decretar que todos aqueles que nasceram antes e durante a Luta Armada de Libertação Nacional são Antigos Combatentes. Esses, directa ou indirectamente, participaram na libertação do país, com arma ou sem arma na mão.”

Enquanto eu matutava sobre a ideia acima citada, eis que alguém chuta: “ Então, a ser assim, eu também sou antigo combatente.” E, no fim, falamos do desporto, com base na pergunta: Quando é que Morrumbala terá uma equipa no Moçambola?   

Manuel Meque 

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