Desporto

Estou a ensinar futebol a custo zero

Carlos Alberto, ou simplesmente Betinho nos meandros futebolísticos, que se notabilizou ao serviço do Matchedje nos anos 80 e 90, a viver actualmente na cidade da Beira, diz estar a gostar muito daquilo que está a fazer, que é ensinar aos mais novos “como tratar a bola dentro das quatro linhas”.

 Lamenta, por outro lado, o facto de hoje não haver muitos jogadores que se interessem pelas jogadas que dão beleza ao futebol, tal como ele próprio fazia nos tempos.

Alcunhado Mbepho, que em Sena quer dizer vento, pela velocidade com que corria, acredita que a sua cidade natal, Beira, pode voltar à ribalta e produzir um novo campeão nacional, à semelhança do Têxtil do Púnguè em 1981.

“Vejo que a Beira pode voltar a superar Maputo e ser campeã de futebol”, vaticina Betinho, que vem cooperando com o Futebol Clube da Beira na área técnica.

No seu entender, os clubes da Beira não precisam de recorrer aos jogadores reformados noutros cantos, nem mesmo da capital do país, porque localmente há talentos bastantes.

“Para que a Beira consiga se impor precisa de apostar na juventude local. Não precisa de “reformados” doutros clubes. Tem talento próprio e capaz”, destaca, ele que numa tarde, num único jogo (Maxaquene-Matchedje) fintou o guarda-redes Nuro Americano três vezes para três golos, tendo sido baptizado pelos adeptos militares de “Veneno contra Nuro.”

BEIRA CHORA

PELOS FILHOS

Betinho está ciente de que a Beira sozinha, sem ajuda dos que nela nasceram e brilharam no futebol nacional e internacional, dificilmente pode progredir.

“É preciso que aqueles que emergiram cá, ganharam o país e os que foram exibir o seu talento não se esqueçam deste berço. Chiquinho, Geraldo, Elcídio e Orlando Conde, Nico “dangerman”, Zé Manuel e outros não podem pestanejar quando olham para a Beira. O seu apoio àscamadas jovens será sempre importante. Apoiar não se faz só com dinheiro, pode ser com bolas, com construção de campos e até com ensinamentos como eu estou fazendo… aliás, eu estou a ensinar futebol a custo zero. Estou a dar o que posso aos mais novos, que são os meus conhecimentos sobre as técnicas e tácticas de jogar futebol.”

A conversa com Betinho decorre no recinto do mercado de Maquinino, outrora campo de tempo futebol.

“Aqui, onde hoje ergueram estas barracas, é onde muitos dos craques que representaram o país aprenderam a jogar. Ao lado passava um dos braços do Xiveve, com o qual se evitava erosão que hoje está comendo a nossa cidade. Era o campo do Desportivo da Beira, que desapareceu.”Com esta afirmação Betinho pretende realçar a necessidade de preservação dos campos de jogos existentes e da construção de outros.

“O desenvolvimento do desporto passa por haver mais campos de jogos. No passado tivemos muitos recintos onde aprendíamos a jogar. Em muitos desses recintos foram erguidas barracas como estas que mais servem para embebedar a todo o momento jovens como estes que logo de manhã estão a cambalear de grossa. E porque não praticam nenhuma actividade física parecem mais velhos que nós. Alguns podem desculpar-se que não têm mais nada a fazer, não trabalham e não têm onde jogar a bola nos tempos livres. Os prédios, os mercados são muito importantes, tal como os campos de jogos.”  

Betinho iniciou-se no futebol a jogar pela Sá da Bandeira e Santo António. Destacou-se no Palmeiras da Beira ao lado de outras estrelas do futebol nacional, casos de Cadango, Rui Marcos, Gastão, Artur Meque (falecido). E depois veio fazer parte da grande equipa do Matchedje de Maputo com Nacir Armando, Zacarias, Nico e Filipe Chissequere (falecido). Já no fim da carreira, saltou o arame farpado para a África do Sol, tal como o fizeram tantos outros da sua geração na procura do bem-estar no futebol.

Do Matchedje de hoje quase não diz nada, limitando-se a afirmar que “devia ser de todos quantos lhe deram glórias.” 

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