O presidente da Associação Provincial de Boxe de Nampula, Mussito Júnior, quando perguntado se estaria a preparar-se para ser candidato a presidente da Federação Moçambicana de Boxe (FMBoxe), em caso de renúncia de Benjamim Uamusse (Big-Ben) ou quando terminar seu mandato, diz que só o fará se a sede da federação mudar para Nampula.
Ele actualmente é, também, vice-presidente da FMBoxe.
“ Não sei o que dizem os Estatutos, se a sede da federação só pode estar na capital do país ou não. Se vivesse em Maputo já era presidente da federação, como sou tido em Nampula, para onde Big-Ben nunca se deslocou em trabalho de boxe. Se é possível transferir a sede da federação de Maputo para Nampula vou me candidatar para acordar o boxe que no país está a dormir”, responde Mussito Jr.
Quem conhece Mussito Júnior e Big-Ben sabe que são amigos, mas percebe que não comungam mesmas ideias sobre a gestão da modalidade de boxe.
“ O actual presidente da federação, Big-Ben, é o mais tribalista que já conheci. Desde que é presidente nenhum pugilista de Nampula é chamado para a selecção nacional, mesmo que seja campeão nacional. Para ele o boxe só existe em Maputo. Pior do que isso, é não se interessar é levar o boxe onde acha que não existe. Ele deve saber que Moçambique não é só Maputo”, afirma.
Mussito tem mais a dizer e sublinha que “para os miúdos de Nampula subirem ao ringue foi preciso eu fazer confusão, como se o atraso dos mesmos em chegar a Xai-Xai não fosse por culpa da federação.”
Diz mais, “um atleta meu ganhou combate que teve com um pugilista de Gaza, mas a mando do presidente da federação a vitória teve que ser atribuída ao da província acolhedora do campeonato, que ficaria sem medalha. Ao outro não lhe foi permitido prosseguir até à final depois de ganhar o primeiro combate, alegadamente porque finalistas já tinham sido encontrados, enquanto se discutia se Nampula participaria ou não nos combates.”
No entanto, Mussito reconhece que o grande problema de Big-Ben é o de “ ter má companhia. Está rodeado de pessoas que não o aconselham a fazer coisas boas. Estão com ele só para ganhos pessoais.”
Vice-presidente ignorado!
Coisa estranha no nosso desporto, alguns dos presidentes das associações provinciais de boxe são, em simultâneo, vice-presidentes. Um deles é Mussito Jr. de Nampula, que diz nunca lhe ter sido permitido exercer esse cargo.
“Eu sou vice-presidente da federação, mas ele (Big-Ben) me ignora. Não sei de nada dos programas e planos da federação. Tudo acontece sem que eu tenha conhecimento. Só fala comigo quando faltam três dias para o campeonato nacional. Aqui no país quando alguém quer atingir um certo cargo promete mar de rosas, mas depois não faz nada. A situação é pior no boxe, aqui onde os atletas chegam a ser tratados como porcos, sempre mal alojados e mal alimentados, quando dirigentes se acomodam em hotéis a comer de tudo bom.” A isto Mussito chama de grito de socorro.
“Os treinadores são espezinhados e humilhados. Dia que Lucas Sinóia disser chega, acabou o boxe em Moçambique. Ele faz tudo para o boxe continuar no país, mas os tipos da federação não lhe respeitam. Dia que Bebé Issufo disser adeus, acabou boxe em Nampula, igualmente não é respeitado pela federação. Outra coisa, não é necessário trazer treinadores do estrangeiro quando internamente temos bons e que melhor conhecem o pugilista nacional, casos de Lucas Sinóia, Elísio Manhiça, Bebé Issufo… O que os nossos precisam é o respeito, mais nada! E temos que valorizar o que é nosso. Não podemos deixar morrer de fome o que é nosso, só porque temos que alimentar o que é do estrangeiro.”
Não temos tido
campeonato provincial
Mussito Júnior reconhece a fragilidade da prática de boxe na província de Nampula, onde no lugar de clubes estão as academias que vão “animando” a modalidade para não morrer.
“Não é de esconder, em Nampula o boxe é acolhido por academias Bebé Issufo, Sualé, José e Lucas, todas da capital provincial. Os clubes não se interessam pela prática da modalidade. Não tempos campeonato provincial. Só fazemos torneios entre as academias, dos quais se apuram pugilistas para o campeonato nacional”, revela Mussito Jr.
Quando questionado quanto dinheiro a associação de Nampula recebe da federação para a promoção de boxe, o nosso interlocutor não se demora em dizer que nunca.
“Para o seu funcionamento, a associação que dirijo nunca recebeu dinheiro do erário público que é disponibilizado à federação anualmente. No que toca ao material, apenas recebi uma vez, desde que sou presidente há sensivelmente cinco anos.”
Por tudo que a federação não faz, Mussito conclui que “ no boxe moçambicano não há organização.”
Ainda sobre dinheiro, Mussito Jr. lamenta o facto de os pugilistas lutarem por nada, numa altura em que não bastam medalhas.
“Uma criança pensa duas vezes ou mais se deve ou não abraçar o boxe. É que, o pugilista nacional leva porrada sem que ganhe algo. As medalhas devem ser acompanhadas de envelopes contendo dinheiro. Hoje os miúdos só vão onde há estímulos. Tem de haver dinheiro para o melhor pugilista, o pugilista revelação e o melhor árbitro da prova.”
Fizemos saber ao nosso interlocutor que os fundos do Estado que são atribuídos às federações não são para prémios de atletas.
“Nada disso! Uma federação deve ter uma equipa de trabalho capaz de atrair o empresariado de modo a que a modalidade receba patrocínios. E não vale apena lamentar que o Estado não dá muito, porque as federações precisam de líderes que consigam arranjar parcerias públicas e privadas para a execução das suas actividades. Alias, é isso que quase todos propalam nas campanhas e depois não fazem nada.”
Quanto aos árbitros, Mussito lhes atribui nota negativa, menos Filipe Limónio que para ele “é o sobrevivente dos bons.”