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Entre recordes e improvisos

Por admin

Termina hoje, na piscina Raimundo Franisse, Maputo, a disputa do Campeonato Nacional de Natação do Verão de piscina curta, marcado por trocas de palco e regulamentos à última hora. Os atletas, esses, fazem a sua parte, melhorando marcas e batendo recordes nacionais.

A piscina olímpica do Zimpeto voltou a trair a família da natação. Na verdade, são os gestores daquela infra-estrutura que teimam em não colocá-la ao dispor dos desportistas quando necessário.

Desta vez, a desculpa é de que a chuva que caiu danificou o sistema eléctrico que alimenta os motores e uma peça indispensável que só pode ser adquirida na Europa.

A avaria ditou o adiamento do Campeonato Nacional de Verão de piscina longa. Em apuros, e com as delegações provinciais já concentradas em Maputo, a federação substituiu aquela competição por outra na piscina curta, Raimundo Franisse.

Por conseguinte, foram alteradas as inscrições iniciais e os nadadores viram-se forçados a adaptarem-se à nova realidade.

Outra contrariedade prende-se com o regulamento inicialmente previsto, que determinava uma competição taco-taco entre todos atletas, separados, obviamente, pelas especialidades e respectivos escalões.

À última hora, a Comissão Técnica da Federação Moçambicana de Natação decidiu introduzir dois níveis de competição, nomeadamente Nível 1 e 2.

A federação justifica a medida como forma de elevar a competitividade e, em simultâneo, garantir o objectivo de massificação da natação.

Assim, no Nível 1 competem os atletas com mínimos e com direito a pontuar, enquanto o Nível 2 é para nadadores com menor capacidade, ganhando apenas medalhas, pelo que sua prestação não contribui na vitória final dos clubes.

Os “mínimos” são determinados na base dos recordes nacionais de categoria, determinando-se uma percentagem do melhor tempo conseguida numa determinada prova e escalão.

Alguns treinadores ouvidos pelo domingo entendem que esta fórmula elitiza a modalidade e contraria o espírito de massificação apregoado pela federação, para além de beneficiar determinados clubes, sobretudo os da capital do país.

Acusam, inclusive, a federação de estar a dar “uma mãozinha” às associações provinciais que pouco fazem para a melhoria das marcas de seus atletas.

Entretanto, longe de polémicas, na água, os atletas estão empenhados em melhorar suas marcas e estabelecer novos recordes, tendo só na primeira jornada estabelecido novos máximos (ver caixa).

Estão representados no “Nacional” clubes das três regiões do país, designadamente norte, centro e sul. A capital do norte está representada pelo Ferroviário de Nampula, que regressa a esse nível de competição após longos anos.

Do centro do país estão HCB do Songo e o Clube de Natação de Tete, que se juntam a dois clubes de Sofala, designadamente Ferroviário e Clube Náutico da Beira.

Maputo confirma ser também a capital da modalidade através das presenças dos Tubarões, Golfinhos, Nguenhas de Matendene, Desportivo, Ferroviário e Naval.

Queremos o pódio

– José Pene, Ferroviário Beira

O treinador do Ferroviário da Beira, José Pene, considera que aquela formação pode repetir o desempenho dos últimos anos, ocupando um dos lugares de pódio. Porém, queixa-se do facto dos atletas dos dois níveis (1 e 2) competirem em simultâneo.

– Viemos para fazer um campeonato e discutir em pé de igualdade com qualquer adversário. A organização é que não está bem. Dividiram os atletas em dois grupos, Nível 1 e 2, não sou contra, a nossa sugestão, como província de Sofala, é que se dividisse e os atletas competissem em momentos diferentes. Não foi aceite, o que nos prejudica. Não viemos para competir só entre nós do Ferroviário.

O técnico referiu que “em Sofala o nível está bom, pena não termos trazido todos atletas por causa dos custos. A federação não comparticipa e isso prejudicou-nos. Teríamos mais atletas aqui e o campeonato teria maior participação”.

O clube beirense participa no campeonato com nadadores iniciados a séniores em masculinos, iniciados a juniores, em femininos. “Temos mais masculinos porque a determinada hora os atletas emigram para outras cidades por causa dos estudos superiores”.

O treinador espera que no final do campeonato a Comissão Técnica da federação tenha registado atletas do Ferroviário da Beira para as próximas selecções nacionais.

– Em termos de selecção nacional, acredito que depois deste campeonato a Comissão Técnica da federação terá resultados palpáveis. Temos estado no pódio, não é possível não termos atletas para as selecções nacionais. Algo está a falhar na Comissão Técnica da federação.

Batidos recordes

Dois recordes já caíram nos Campeonatos Nacionais de Verão de piscina curta. Os tempos foram registados por atletas dos Tubarões nas provas de 50 metros costas juniores masculinos e estafetas 4×200 seniores femininos.

Edmilson da Costa fixou o novo recorde de categoria com o tempo de 20,65 segundos. A anterior marca era de 29,90 segundos, obtida em 2013, por Shakil Fakir, também nadador do Tubarões.

Em estafetas, os Tubarões estabeleceram o recorde absoluto em 9.33,00 minutos, superando os anteriores 9.53,00 dos Golfinhos, também registados em 2013.

Transformaram o “Nacional”

num desfile de banhistas

– Frederico dos Santos

Igual a si próprio, o treinador dos Tubarões, Frederico dos Santos, acusa a federação de proteger determinados clubes em prejuízo da maioria. Refere que “tentaram prejudicar meu clube, a federação quer beneficiar determinados clubes”.

– Havendo mudança de regulamentos devia haver espaço para novas inscrições, o que não nos foi permitido. Fiz inscrições com base em regras pré-definidas que alteraram, os dados na mesa são outros. Em nenhum momento estamos contra a mudança da piscina. Inscrevi os atletas com base em determinados mínimos e os dados alteraram. Devia haver espaço para novas inscrições.

O técnico está contra a introdução dos Nível 1 e 2 no campeonato e aconselha a federação a aprender a interpretar as cópias que faz da internet.

– Você não pode realizar no Estádio da Machava, à mesma hora, um jogo de Moçambola e outro de veteranos. Eles estão a fazer copy and past do que se faz noutros países, mas estão a copiar mal. Na África do Sul as provas do nível 1 não se fazem em simultâneo com as do nível 2. Deviam aprender a interpretar os copy and past que fazem.

Frederico dos Santos não esconde a sua desilusão. “Esta federação veio com o discurso de querer massificar a modalidade, mas está a elitiza-la. A elite tem de ser na selecção nacional, lá é que devemos estabelecer mínimos, para não continuarmos a levar pessoas a passear nos campeonatos do Mundo”.

– Temos que elitizar na selecção nacional, elitizar os treinadores, os dirigentes que acompanham a selecção e os nadadores, sem olhar a conveniências. A federação copia que a Unesco já considera a natação como uma parte curricular, um direito igual a aprender a ler e escrever, mas faz o contrário. Onde é que temos nível, quantidade e qualidade para elitizar e criarmos os níveis 1 e 2? O estágio actual da natação não permite.

O treinador dos Tubarões vai mais longe ao afirmar que no lugar de atletas, alguns participantes no campeonato que hoje encerra são simples banhistas que deviam ir a praia no lugar de ocupar lugares na piscina.

– Neste campeonato estão a desfilar alguns banhistas. Se quisermos assistir banhistas é arranjarmos boias e irmos a praia da Costa do Sol. Vamos dar banho a essas pessoas nas praias e não nas piscinas. Isto é um campeonato nacional! Nós votamos esta federação e esperávamos mudanças. Não vejo mudança aqui, mudou o maestro, mas a orquestra é a mesma. Compramos gato por lebre, os clubes foram enganados nesse aspecto, sei que serei perseguido por dizer as verdades, mas o que quero é o progresso da natação.

Estamos à busca de qualidade

– Fernando Miguel, presidente da federação

O presidente da Federação Moçambicana de Natação, Fernando Miguel, justifica que a divisão dos atletas em dois níveis visa promover a qualidade na competição.

Tal como sublinhou o dirigente, a  perspectiva da federação é promover a qualidade e criar um campeonato qualitativo.

– Como a federação tem também por missão a massificação, resolvemos criar uma competição para dar oportunidade aqueles atletas que não tem mínimos de pontuar para ganharem medalhas. Essas medalhas não contam para a classificação do melhor clube do campeonato e dos três melhores atletas de cada escalão que serão declarados campeões nacionais.

O dirigente aclarou que “são medalhas de classificação que vão ajudar aqueles atletas que não tem mínimos a continuarem a participar nos campeonatos nacionais”.

Fernando Miguel reconheceu que a decisão de introdução de dois níveis competitivos não foi consensual, mas a mesma é crucial para o futuro da modalidade.

– Os clubes foram devidamente informados, é um regulamento que vinha sendo praticado, o que fizemos foi dar oportunidade aos atletas sem mínimos. Em algumas coisas tivemos que definir sem o consenso dos clubes. Sentimos que os clubes tiveram oportunidade de contribuir ao regulamento e houve contribuição de todos.

Fernando Miguel regozijou-se pela participação abrangente no campeonato, lamentando apenas a ausência de dois emblemas que estiveram presentes nas últimas edições.

– Em termos daqueles que praticam a natação actualmente, faltaram apenas a Universidade Pedagógica da Beira e Açucareira de Mafambisse, que tem participado nos últimos campeonatos nacionais, mas estamos satisfeitos porque participaram alguns que há muito não vinham, como Nampula e HCB do Songo.

Disse que esforços serão envidados para que na próxima edição participem nadadores das províncias da Zambézia, Maputo e Gaza.

Os atletas deviam pontuar

– Pedro Jalane, Desportivo

Pedro Jalane, treinador do Desportivo de Maputo, defende que a indisponibilidade da piscina do Zimpeto baralhou a organização e os nadadores.

– A mudança de piscina trouxe transtornos porque estávamos a nos preparar para 50 metros, mas não temos outra solução se não competir e tentarmos melhorar a nossa classificação.

O técnico observa que a federação devia ter permitido que os atletas pontuassem, considerando que o recorde nacional absoluto é um óptimo tempo para a qualidade actual.

– Trago novos atletas e vamos tentar ter medalhas de ouro. É preciso mínimos para pontuar e são poucos os nadadores que fazem mínimos para pontuar aqui em Moçambique. A tabela está muito longe das marcas actuais, basearam-se no recorde nacional absoluto que é muito puxado, principalmente nos masculinos.

 

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