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Empresas na alta competição: uma matéria para (re)estudo!

Por admin

Há uma filosofia, uma maneira de as nossas empresas e o nosso Estado encararem o desporto, que merece um reestudo. Tudo passa por uma definição mais rigorosa das funções e objectivos de cada instituição ou empresa, sobretudo daquelas que vivem dos impostos do cidadão.

Há um caminho que está a virar moda. Onde se gera dinheiro fundam-se equipas desportivas que se envolvem para lá da sua natural vocação recreativa, buscando títulos na alta competição.

Em boa verdade estamos, cada vez mais, a misturar as coisas. Não sei quando e como isto ira parar.

O TRIGO E O JOIO

Vamos por partes. O próximo Moçambola, vai ter a presença da equipa da ENH. O que quer dizer esta sigla? Empresa Nacional de Hidrocarbonetos. Ela junta-se à HCB, que significa Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Noutras modalidades, há campeões como a Autoridade Tributária que até é campeã africana em voleibol. Já tivemos (ou temos?) a Migração e o Clube da Justiça.

O que é que nos resta ver na nossa alta competição? Equipas de órgãos de Informação, representações de cooperativas ou de hospitais? Por este andar e porque nada o impede, desde que sejam financeiramente bem sucedidos, até nos poderão representar no estrangeiro.

Dizia o saudoso poeta José Craveirinha, que enquanto as bichas nas fronteiras cresciam, a equipa da Migração ia marcando golos. E que ele até estava sujeito a entrar em campo frente ao Clube da Justiça e… driblar um juiz!

O TRIGO DO JOIO

Já tivemos uma grande movimentação no desporto para trabalhadores, algo que se foi perdendo, prejudicando claramente a saúde e os momentos de confraternização entre a massa laboral.

Com a integração dos clubes em empresas, sem dúvida um mal necessário na altura, os mais “sortudos” passaram a respirar melhor financeiramente. A contrapartida menos boa, foi terem recebido em troca alguma da burocracia, o que afastou em grande parte a carolice que os mantinha.

Através das colectividades integradas, as empresas fazem a sua publicidade de várias formas, sem que ambos percam a sua personalidade e vocação. Foi o caso do Costa do Sol e Maxaquene, que se juntaram à EDM e LAM, respectivamente. Os CFM, de uma forma bem clara, desde sempre criou os Clubes ferroviários, com estatutos, nome e autonomia de gestão.

O fenómeno a que hoje se assiste é diferente. Algumas empresas ou instituições, “esquecendo-se” das principais razões da sua existência, viram as suas baterias para algo que, inevitavelmente, as vai “distrair” das funções centrais.

Será para ostentar as suas designações em permanência, ou para aparecerem junto da sociedade como capazes de serem campeões em tudo?

ORGULOSAMENTE SÓS

Quando visito a realidade de vários países, encontro muito poucos casos idênticos ao nosso. Os clubes criam a sua mística a partir de cidades ou de zonas residenciais. E quando o nome de uma empresa aparece, há um esforço para separar o trigo do joio, de forma a que os clubes tenham identidade e as pessoas se afeiçoem com a terra e, por tabela, nutram simpatia pela empresa.

 Os Bayern,s – Munique e Leverkussen – ligados a empresas de medicamentos, valem mais pelas terras de origem do que pela designação medicamentosa.

Devido a esta tendência, a carolice vai desaparecendo e os clubes passam a ter um departamento que emprega gente do desporto, mas as iniciativas e ideias terão que se enquadrar no plano quinquenal, ser objecto de auditorias, etc. A essência do associativismo, do pulsar dos corações, vai-se perdendo.

Sinceramente, não sei de que forma é que o cidadão comum se pode sentir à vontade, por ser representado além-fronteiras pela equipa da Autoridade Tributária…

Creio, muito sinceramente, que este é um tema a merecer séria atenção. Porquê? Para que não desapareça o amor à camisola, real e genuíno, pois não faz sentido alguém sofrer por um clube que volta e meia nos vai aos bolsos.

Renato Caldeira

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