Texto de Custódio Mugabe
A entrada em funcionamento duma discoteca e bar no Complexo Desportivo do Zimpeto está a gerar descontentamento no seio de alguns dirigentes, treinadores e atletas, os quais, acusam o Ministério da Juventude e Desporto (MJD) de privilegiar naquele empreendimento a arrecadação de dinheiro do que propriamente a busca de resultados desportivos.
Edificado por ocasião da realização dos X Jogos Africanos Maputo 2011, o Complexo Desportivo do Zimpeto abarca o estádio de futebol, a pista de atletismo e duas piscinas olímpicas, projectando-se ainda a construção doutras infra-estruturas para modalidades de salão e courts de ténis.
O estádio tem a particularidade de debaixo das bancadas possuir vários compartimentos que neste momento albergam instituições públicas e privadas, a exemplo do Fundo de Promoção Desportiva, Instituto Nacional do Desporto, um ginásio, uma escola de taekwondo, escritório duma empresa privada, um restaurante, um lounge, uma discoteca, uma lanchonete, Esquadra da PRM, um Quartel dos bombeiros, balcões da Autoridade Tributária e da Mcel, entre outros. Nos seus salões, acolhe festas de casamento e de aniversário.
CIÚMES DE DISCOTECA E BAR
Recentemente, a selecção nacional de natação viu-se contrariada para preparar a sua participação nos Jogos Africanos terminados ontem em Brazzaville, na República Democrática do Congo.
Tudo porque, uma vez mais, as piscinas estiveram indisponíveis devido a avaria do equipamento que suporta o funcionamento das mesmas.
O equipamento danificou-se por causa duma oscilação de corrente eléctrica. No entanto, na derradeira semana de preparação, o problema foi ultrapassado, o que permitiu alguns treinos à selecção nacional.
No entanto, dirigentes, treinadores e atletas das modalidades de natação e atletismo advogam que o Ministério da Juventude e Desporto dificulta o uso do parque desportivo do Zimpeto, privilegiando negócios no empreendimento.
Relataram ao domingo que na discoteca e bar nunca há falta de energia, o problema apenas atinge sistematicamente as piscinas olímpicas. Dizem haver muita burocracia para treinarem-se na pista de atletismo.
Acusam ainda a gestão do complexo em instalar empreendimentos sem perfil desportivo, nomeadamente discotecas e bares para venda de álcool, “quando as mesmas pessoas proíbem a venda de álcool em recintos desportivos”.
Como lhe competia, domingo abordou o assunto com o director adjunto do Complexo Desportivo do Zinmpeto, José Pereira, que tratou de dissipar equívocos, explicando que a abertura de discotecas e restaurantes enquadra-se na estratégia de rentabilização daquele empreendimento.
Pereira observou que a ideia de fundo é tornar o Complexo Desportivo do Zimpeto num pólo atractivo para a sociedade, um local que as pessoas encontrem respostas para várias preocupações.
“Os Complexos Desportivos do século XXI estão sendo concebidos e construídos de modo a acolherem eventos desportivos e sócio culturais, como forma de tornarem-se num pólo de tráfego do público e assim tornarem-se auto sustentáveis”, começou por dizer.
Lembrou que durante a fase da construção do Estádio Nacional do Zimpeto, o Ministério da Juventude e Desporto fez deslocar alguns quadros e técnicos para Portugal, China, Tanzânia, entre outros países, a fim de colher experiências sobre a gestão de empreendimentos do género.
Por outro lado, o Ministério da Juventude e Desporto encomendou numa empresa de consultoria o estudo de viabilidade económica e financeira de gestão do Estádio Nacional.
– Tanto das visitas efectuadas como do realizado, ficou claro que empreendimentos do género devem ser maximizados, com a realização não só de eventos desportivos como sócio-culturais, de modo a robustecer a capacidade de arrecadação das suas receitas e tornarem-se auto sustentáveis. O Complexo Desportivo do Zimpeto foi projectado e construído nessa perspectiva.
José Pereira argumentou que não existe qualquer propósito de tornar o Complexo Desportivo do Zimpeto num espaço privilegiado de consumo de álcool, mas apenas valorizar e explorar as possibilidades existentes de rentabilizar o património, sob o risco de torná-lo num elefante branco.
“Este tipo de empreitadas visa incrementar a arrecadação de receitas para tornar o empreendimento sustentável e aliviar o Orçamento do Estado com os custos de manutenção do Complexo Desportivo do Zimpeto já de si exíguo até para dar resposta aos sectores prioritários de desenvolvimento económico do país”, anotou.
Rebateu que jogos do Moçambola tem tido lugar no Estádio Nacional e regularmente a Associação de Atletismo da Cidade de Maputo realiza provas.
– A selecção nacional de atletismo adaptado tem-se preparado na pista de atletismo do Estádio Nacional. Em Março de 2014, a Associação de Natação da Cidade de Maputo abriu uma escola de Natação nas piscinas olímpicas e a época de 2015 iniciou a 5 de Setembro. Decorre neste momento nas piscinas aulas de natação ministradas pelo Ministério do Interior.
Por isso, no entender do dirigente, em nenhum momento o tipo de gestão e rentabilização do Complexo Desportivo do Zimpeto conflituou com a realização de eventos desportivos.
Aclarou que “as avarias de funcionamento das piscinas olímpicas são exógenas à sua gestão interna e não têm nenhum relacionamento com o facto de estar a funcionar uma discoteca e um lounge no local. Decorrem das frequentes oscilações e cortes de fornecimento de energia eléctrica com que se debate a Cidade de Maputo e não só. O sistema electrónico de tecnologia de ponta ali instalado não se compadece com este género de situações”.
Reforçou ainda que a direcção do Estádio Nacional do Zimpeto tem estado em coordenação com a Electricidade de Moçambique e tem conhecimento de existir um plano, já em curso, para a estabilização da corrente eléctrica não só naquele complexo como noutras zonas da capital do país.