“De quem é o futebol?”, com esta frase interrogativa de Rui Tadeu, começaram os debates da II Conferência Nacional de Futebol, realizada nos dias 16 e 17 de Outubro de 2013, na capital do país, Maputo, inaugurada pelo Ministro da Juventude e Desportos, Fernando Sumbana Jr.Da plateia figuravam os fazedores de futebol de todo o país.
Todos preocupados com o estado, algo debilitado, desta modalidade de multidões em Moçambique e na procura de como sair desta critica situação.
O primeiro tema debatido foi a “Estruturação e profissionalização do futebol em Moçambique: mito ou realidade?” e a apresentação coube a Rui Tadeu. As primeiras contribuições recaíram na necessidade de revisão do calendário futebolístico nacional no seu todo. Que o tempo de férias dos jogadores fosse encurtado, assim como o da pré-época, para que se pratique mais futebol. E que a Liga Moçambicana de Futebol (LMF) fosse reestruturada para permitir que o Moçambola fosse mais competitivo e duradouro, podendo recorrer -se aos play-offs.
Reconheceu-se que “o nosso quadro competitivo é muito pobre, que só tem duas provas nacionais, a Taça de Moçambique e o Moçambola. E que os campeonatos provinciais na sua maioria só duram quatro meses, ficando-se de Julho a Dezembro sem competição.
“A minha dúvida é: o que é um clube e o que é uma equipa? Há clubes com Estatutos publicados no Boletim da República, mas que não se apresentam com nenhuma estrutura de clube. Há equipas que se comportam como verdadeiros clubes. E há clubes que se comportam como simples equipas, sem departamentos e que a sua direcção funciona apenas com o presidente”, disse Fernando Dias, um dos representantes de Sofala.
Júlio Chimodzo, presidente da Associação de Futebol de Manica, disse que a base do futebol “está nas províncias” onde os clubes devem ter boa estruturação, cumprindo na íntegra as leis da FMF e da FIFA”. Para ele os clubes “mal estruturados não servem para o futebol.”
A intranquilidade dos árbitros, quer por ignorância, quer por parcialidade, foi muito pronunciada. Portanto, sobre a estruturação e profissionalização do futebol moçambicano, a discussão deve começar da base, trabalho que as associações devem encará-lo com muita seriedade.
Sobre o “tema gestão de futebol”, apresentado por Muahammed F. Sidat, se recomendou muita coisa para se fazer nos clubes, que, infelizmente, na sua maioria não têm departamento técnico, departamento de administração e recursos humanos, departamento de marketing, departamento de património, nem financeiro. Sugeriu-se que os clubes sejam centros sociais, onde todos, atletas, adeptos, treinadores e dirigentes possam ir confraternizar com os amigos e familiares. Isso permitirá que os mesmos tenham uma dimensão maior, dentro e fora.
Sidat frisou que o sócio “é dinheiro garantido para o clube” e tem de ser visto como tal. “Servir uma empresa qualquer, não é mesma coisa que dirigir uma empresa desportista”, sublinhou o prelector do tema. E, mais uma vez, se destacou que o país tem défice de bons gestores desportivos, sobretudo ao nível dos clubes, para onde por várias motivações caem “pára- quedistas ” à busca de sobrevivências pessoais.
Um clube, um campo
Quanto aos “recursos financeiros para a modernização de infra-estruturas”, tema apresentado pelo arquitecto José Dava, durante os debates recomendou-se que “cada clube do Moçambola deve ter campo próprio e sede”, porque não se pode andar a brincar com o futebol ao mais alto nível. Ficou-se a saber, por exemplo, que a cidade de Maputo só tem três campos aceitáveis para o seu respectivo campeonato, o que é muito pouco.
Campos com relva sintética ou com relva natural?, eis a questão muito discutida na conferência.
“O campo sintético é uma alternativa. A exigência é a relva natural. Se é para se implantar pelo país a relva sintética igual à do Estádio da Machava e do Costa do Sol, por favor, deixem a relva natural. O problema é de os nossos gestores desportivos não terem sensibilidade de cuidar os campos. O dono do Atlético Muçulmano sabia cuidar dos seus dois campos. Como é que estão sendo cuidados esses campos pelo novo dono?”, perguntou António Gravata (Tony), ex-jogador, presidente do Sindicato de Jogadores da Cidade de Maputo. Tony não se terá apercebido que estava a falar para uma plateia em que se encontravam os potenciais interessados no negócio lucrativo de relva sintética para o país.
“Felizmente, na Zambézia, teremos um campo com relva sintética. Temos um campo em Mocuba, cujo dono não conheço, que é uma vergonha. O Benfica vendeu o seu campo ao Município de Quelimane, que primeiro o transformou em local de barracas. Agora não sei o que serve. Ao futebol é que não serve”, disse Mariza de Rosário, presidente da Associação de Futebol da província da Zambézia.
“Podemos formar muitos técnicos, mas se não tivermos campos em condições aceitáveis para a prática de futebol, condição básica de formação, vamos continuar a ter futebol deficiente”, referiu por sua vez Shafee Sidat, depois de Abdul Abdulá, do gabinete técnico federativo, ter apresentado as listas de treinadores e árbitros formados pela FMF.