As crianças estão cansadas de esperar pela conclusão das obras de reabilitação e construção do Centro de Excelência Desportivo de Gondola, na província de Manica, iniciadas em Outubro de 2012, cuja primeira fase terminaria em 2013.
Já não acreditam no que ouvem dizer dos adultos que dirigem o desporto nacional, que pelas viagens de visita ao complexo já devem ter gasto mais dinheiro que os fundos destinados às obras em atraso.
A inquietação dos menores foi registada há dias quando escalamos àquela vila, saídos de Chimoio a caminho da Beira, com o propósito de ver o que já tinha sido feito e o que ainda ficou por fazer.
Nas duas fases, primeira e segunda, deviam ser reabilitados nas instalações do Clube Ferroviário de Gondola, os campos de futebol, ténis, basquetebol, voleibol de praia, bancadas. Contemplava-se também a reabilitação do edifício sede, piscina, pista de atletismo, residências para atletas e o edifício administrativo, construção de balneários de raiz, sistema de esgoto, revisão do sistema ecléctico, de edifício comercial e canalização da água. Algo já foi feito mas ainda falta muito por fazer, em função dos fundos que terão sido reembolsados pelo Fundo de Promoção Desportiva (FPD).
Quem não tiver conhecimento profundo do projecto da Construção do Centro de Excelência Desportiva de Gondola, quando passar pela vila de pode com espanto dizer: estes tipos pegaram no pouco do dinheiro dos fundos disponíveis, pintaram os muros limparam os solos dos campos de jogos e puseram o resto nos seus bolsos.
É que, a imagem que é transmitida pelas ruínas da piscina e do esqueleto do edifício sede dilui tudo que já foi feito. É por isso que todos que passam por Gongola acabam concluindo que a construção do Centro de Excelência Desportiva de Condola é um fracasso, uma mentira, quando na verdade não é exactamente isso, pois algo já foi feito por detrás das ruínas do edifício sede. Pode não ter custado 86 milhões de meticais, mas alguma coisa foi reabilitada e outra foi construída.
Depois de termos visitado as ruínas da piscina e respectivos acessórios, como prancha, casa de máquinas e balneários, andamos a procura da entrada de acesso aos campos. Fomos parar ao edifício principal do que foi o Ferroviário de Moçambique, em Gondola. Sem portas, entramos para o seu interior. Encontramos crianças jogando futebol num chão que terá sido limpo por elas, com sujidade diversa muito próxima, numa mistura de fezes e urina.
A rapaziada jogava a bola de farrapos de um lado para o outro, o que nos despertou atenção de ali se forjam futuros futebolistas moçambicanos. Mesmo com cheiro, um tanto quanto insuportável, parámos para uma conversa com aqueles pequenos jogadores de ninguém. Era foto aqui, foto ali, até que um jovem (envelhecido pelo álcool) tentou nos impedir de “bater papo” com os miúdos. Ele, aquele jovem que deambulava de um lado para o outro, levado pela bebedeira, podia ser o treinador daqueles meninos da bola de farrapos!
O clamor de desespero
dos jogadores do futuro
– “Sejam céleres, senhores”, gritam as crianças de Gondola
Nas conversas que fomos tendo com os pequenos jogadores cedo nos apercebemos que precisam de campinho e bolas verdadeiras (ou modernas) só para eles, já que não são elegíveis para a utilização do campo do Centro, já reabilitado e pronto para jogos.
Mas não é só de futebol que as crianças esperam aprender e praticar no Centro de Excelência de Gondola, aguardam, por exemplo, da reabilitação da piscina de 50 metros, hoje lixeira. Aliás, entendem elas que também merecem outras modalidades desportivas, como a natação. É isso que pediram para que fizéssemos chegar aos ouvidos dos donos do Centro de Gondola.
Todas elas foram inânimes em afirmar “ que se concluam rapidamente estas obras. Nós também queremos jogar em lugares limpos.” Algumas receiam que até a conclusão das obras tenham já sido roubados pelo álcool e drogas, já que nem todas estudam, para além de que há quem gostaria de ganhar a vida praticando desporto, como se sabe de Lurdes Mutola, Domingues…Cristiano Ronaldo, Messi, Usan Bolt e tantas outras estrelas ricas.
Augusto António, 12 anos, quinta classe, por ser o primeiro a conversar connosco, pouco disse, nas deixou claro ao afirmar “ Isto não está bom. Pedimos aos chefes para serem rápidos.”
Mateus Albano disse não gostar de jogar futebol naquelas condições, mas não tem outra maneira de se ocupar senão aquela de brincar com a bola naquele chão impróprio à espera que um dia lhes seja permitido o campo do Centro.
“Não gosto de jogar aqui. Para além daquele campo grande deviam construir um campinho para nós. Nós queremos jogar futebol num campo limpo e com bola verdadeira. E queremos ser grandes de futebol, natação e basquetebol. Diga aos chefes para não esquecerem a piscina”, Mateus Albano, 14 anos, sétima classe.
Para Manecas Cortejo, menino de 14 anos, aluno da sexta classe, as infra-estruturas desportivas da sua vila devem ser renovadas com rapidez. Acha ele que as obras já deviam estar prontas.
“ Agente só vem carros a chegarem com dirigentes e a saírem sem que se diga quando será inaugurado este complexo que parece estar longe de conclusão. Queremos ver isto concluído para agente praticar bem desporto. Eu gosto de futebol.”
Quando Manecas trepa o muro e espreita o outro lado vem um campo de futebol já bonito, mas sabe que não é para ele e sua malta. Então, gostaria que por ai perto fosse construído um campinho para a pequenada, sem portões de acesso a ele.
Dinis António, 11 anos, sexta classe, é um rapaz tímido. Da sua boca as palavras custam sair, mas diz algo:“Isto está mal. O Governo deve fazer algo para estas obras não atrasarem mais. Agente quer jogar, correr e nadar. Aqui não é lugar próprio para agente brincar com bola. Vá dizer lá no Maputo que estamos cansados de esperar destas obras.”
Aqui fica a preocupação de Dinis António, uma das tantas crianças que não gostariam de envelhecer a ouvir falar que a sua terra vai ter Centro de Excelência Desportiva, cujas obras já consumiram muito dinheiro e se vai dizendo que os fundos não chegam para a sua conclusão.