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Casal de atletas espanca-se em plena prova de atletismo

Por admin

Um casal, que participou na prova de 100 metros para portadores de deficiência, integrada nas cerimónias centrais de encerramento da Semana Nacional do Desporto, na cidade de Inhambane, dia 26 de Setembro, quedou-se ao chão da Avenida Marginal, junto à Praça da Marinha.

A corrida era de indivíduos portadores de cegueira. Como regra desta especialidade desportiva, cada atleta faz-se acompanhar de um guia, o que foi cumprido pelos organizadores das actividades desportivas que marcaram o fim da Semana Nacional do Desporto, celebrada em todo o país de 19 a 26 de Setembro.

Virgínia José, acompanhante do atleta Adonias da Cruz, seu marido cego, teve que receber assistência médica devido aos ferimentos contraídos no incidente da prova em causa, com culpas para os organizadores do evento.

É que, mesmo para portadores de deficiência o género deve ser obedecido e respeitado. Não se pode admitir que uma mulher seja acompanhante de um homem. Esse foi o erro de Inhambane.

Como aconteceu esse insólito? Já perfilado, Adonias da Cruz saltitava como que a dizer “eu sou o melhor”, deixando prever que a corrida seria fácil para ele. Ninguém imaginava que seria a sua própria mulher a lhe prejudicar em pista. Arrancou com uma rapidez incrível, imprimindo uma velocidade que deixou a sua mulher à rasca mas bem agarrada a ele, o que originou a queda.

Ambos se levantaram do chão. Adonias (que nos pareceu não ser cego total) inconformado com o insucesso se virou para a mulher com punhos cerrados. Ela soube defender-se de imediato. A briga não foi mais além porque os organizadores do evento acabaram com os ânimos de ambas partes.

Foi um episódio espantoso para os presentes, embora quase todos se gargalhassem à fartura. Os “fotógrafos” do Ministério da Juventude e Desporto (MJD), com a missão de registar todos os movimentos da cerimónia, tão admirados, não conseguiram captar imagens da queda do casal, porque queriam ver com olhos próprios aquilo que, talvez, nunca se viu em alguma pista do mundo.

Finda a confusão, que paralisou a Praça da Marinha de Inhambane Céu, Adonias foi repescado para a final. Foi indicado um rapaz para lhe acompanhar. Ficou em segundo com o prémio de DVD, que vinha precisando, como o próprio referiu.

Ficou a lição: numa prova de atletismo, mesmo que seja para cegos, não se deve misturar homens com mulheres. 

NO DESPORTO TUDO ACONTECE

“Não gostei da primeira fase da prova. Mas no desporto tudo acontece. É cultura humana”, referiu Adonias da Cruz, que se tornou numa autêntica estrela no encerramento do evento. 

“Foi pela primeira vez que participei numa prova desportiva. Nós cegos podemos fazer tudo, incluindo futebol. Basta o Governo não deixar de contar connosco e não nos esquecer”, referiu.

Aos 47 anos de idade, Adonias não tem emprego. “Eu sou desempregado. Não trabalho. Posso ser recepcionista, atendendo visitas e telefonemas.

A sua esposa, Virgínia José, justificou-se afirmando que “alguém me rastejou e caí na companhia do meu marido. Cair faz parte do desporto”.

Quero ser como Lurdes Mutola

– Vaneza Manuel 

Vaneza Manuel é nome a fixar no atletismo. É de Inhambane. Foi a vencedora da légua, uma das provas organizadas para assinalar o encerramento da Semana Nacional do Desporto. Cortou a meta de forma espectacular, deixando muito atrás as adversárias. Foi seguida de Delfina Geraldo e Madalena Filipe. Recebeu de prémio um plasma de 32 polegadas.

No fim da légua domingo conversou com ela. Tem 18 anos de idade. Frequenta a 12ª classe. É praticante de atletismo federado, inscrita pelo Núcleo de Inhambane.

Vaneza, para além de légua, compete nas provas de 400, 800 metros e de lançamento de peso. Em 2013 foi campeão nacional dos jogos desportivos escolares nas especialidades de 400 e 800 metros.

“Meu sonho é ser campeã nacional e me tornar na rainha do atletismo. Luto para isso. Exercito-me e treino todos os dias. O espaço de treinos não é tão bom, mas dá para não ficar parada. No atletismo de Inhambane não está tudo bem”, assinalou.

Da pergunta se trocaria Inhambane por uma outra cidade do país, Vaneza não hesitou em dar resposta.

“Maputo. Na cidade de Maputo teria facilidades de progredir; teria equipamentos de treinos e muito mais.” Mas não quer sair de Inhambane à toa, mesmo tendo irmãos que vivem e estudam na capital do país.

“Comecei a praticar atletismo depois de ter experimentado o futebol, modalidade do meu pai. Já participei em vários campeonatos nacionais. Neste momento gostaria de saber como a Lurdes Mutola conseguiu ser o que é. Quero seguir os passos dela. Sei que sou capaz de ser rainha do atletismo”.

Medalhas se ganham

apostando na formação

– Egas Lourenço

Egas Lourenço foi o vencedor, em masculinos, da légua. Foi seguido por Polto Ticongolo e Nelton Carlos. É atleta federado inscrito pelo núcleo local de atletismo. Tem 22 anos de idade. Frequenta a 11ª classe.

Sua maior preocupação é de associação provincial de atletismo não ser capaz de organizar mais que uma prova por ano.

“Sinto que a associação não se faz sentir. É mau ter uma só prova por ano. Mesmo assim, em 2013 consegui o segundo lugar no Estádio Nacional do Zimpeto, em légua dentro da pista”, afirmou no primeiro contacto com a nossa reportagem.

“O que falta aqui em Inhambane é um programa de competições. Tem havido muito interesse pela prática de atletismo por parte dos atletas, treinadores e dirigentes, mas faltam competições regularmente. Hoje assim matamos fome de competir”.

Ao nível nacional, Egas Lourenço considera que “há sinais de desenvolvimento.  Mas eu entendo que é preciso direccionar muito incentivo às camadas de formação. As medalhas só se ganham quando se aposta na formação.”

Ele, para além de légua, corre nos 5000 e 10000 metros, sempre com ambição de chegar longe.

“Minha ambição é ir longe. Sair do país para me aperfeiçoar lá fora, como na África do Sul ou no Quénia. Internamente gostaria de viver em Manica. Espero que o factor idade não crie barreira”.  

Manuel Meque
malembalemba@gmail.com

 

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