A escassez de provas internas e externas está a condicionar o desenvolvimento dos atletas moçambicanos, conforme defende Azarias Samuel, treinador de atletismo do Ferroviário de Maputo e da selecção nacional.
No arranque de um novo ano, o treinador Azarias Samuel deseja que 2014 seja um ano de progresso e com mais provas internacionais, pois, em entrevista ao domingo, lamenta o numero de provas inscritas e realizadas no calendário moçambicano.
Sugere a alteração do actual figurino e a adopção do sul-africano, o qual, segundo sustenta, permitiria que atletas nacionais pudessem melhorar as marcas de 2-13.
Que avaliação faz do desempenho do atletismo ao longo do ano 2013?
O ano de 2013, como treinador, considero que foi positivo, porque das poucas competições internacionais realizadas, os atletas que trabalharam comigo subiram ao pódio. Creve Machava conseguiu medalha de bronze no Campeonato Africano de Juvenis e Salomé Mugabe duas medalhas. Só lamentar que durante o ano só conseguimos duas competições internacionais, o que é muito pouco e mau para aquilo que pretendemos. Não tendo competições internacionais, não conseguimos ter boas marcas, por isso o meu apelo é que próximo ano a federação e a associação tentem encontrar soluções trazendo mais competições para o país ou enviar mais atletas ao estrangeiro para poderem competir mais.
Creve Machava e a Salomé Mugabe atingiram o seu pico de forma? Ou podem dar mais?
Com mais provas, podiam melhorar muito mais. Creve Machava é jovem de 17 anos. Com apoio do clube e federação, ou do Comité Olímpico pode ir longe. Repare que fomos ao campeonato africano, na Nigéria, sem qualquer prova internamente, e ele conquistou uma medalha com mérito.
IMPORTANTE MUDAR O CALENDÁRIO
Foi um campeonato mal preparado.
Também temos problema do calendário, sempre que vamos a uma participação internacional acontece sem provas ainda no país, isso nos coloca em desvantagem. Gostaríamos que a federação mudasse a época, começamos o ano em finais de Fevereiro, devíamos iniciar em Dezembro ou início de Janeiro, com provas de pista, como acontece na África do Sul, que, sendo um pais vizinho, podíamos aproveitar as provas deles para melhorar o desempenho dos nossos atletas, porque eles têm um calendário bastante competitivo.
As marcas dos nossos atletas permitem competir na África do Sul?
Temos também o problema de não ter fotofinish, por isso as marcas não servem para as qualificações e para uma avaliação pormenorizada do atleta. Não usamos o fotofinish, é uma situação que a federação deve resolver.
Não nos falou da performance de Salomé Mugabe
A Salomé está próxima dos tempos mínimos para Jogos Africanos ou competições olímpicas, se a nível da zona ganha ouro, pode atacar África, é preciso potenciar mais suas capacidades para chegar longe.
Como avalia as condições de treino para as provas de pista?
As condições são péssimas, como sabem a pista do Parque dos Continuadores está com problemas sérios, a pista de Zimpeto de fora só tem três corredores para todos clubes de Maputo, isso não pé suficiente. Para ter acesso a pista principal é preciso muita ginástica, temos atletas que se preparam para os Jogos da Lusofonia e não tem acesso a pista.
Afinal é difícil treinar-se na pista do Zimpeto?
É muito complicado, é um processo burocrático, devia ser facilitado. Os Jogos da Lusofonia são em Janeiro, mas ainda não treinamos lá. Atletas de nível nacional deviam ter facilidades, não se pode ter uma pista e equipamento daquela qualidade e não fazer nada. O Governo investiu muito naquela infra-estrutura, e com isso não quero dizer que não deve haver regras de acesso ao Zimpeto.
Como foi a época no geral?
Não houve melhoria de marcas, tudo isso porque os atletas só se treinam não competem. Por exemplo, nas provas técnicas, de barreiras, temos só duas atletas em Moçambique, a Telma Cossa e a Sílvia Panguane, se tivessem competição teriam melhorado muito, se falta uma delas não há competição, não podemos continuar assim. Desde que essas atletas correram a sério em 2011, nos Jogos Africanos, até hoje ainda não competiram. Isso é mau para uma modalidade olímpica, na qual queremos um melhor desempenho dos nossos atletas.
Há escassez de competições…
Faltam competições, os seniores praticamente não competiram ao longo de 2013, esta situação desmotiva os atletas porque treinar sem competir não faz muito sentido. Atletismo assim não anima.
Custódio Mugabe