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Alta competição só para clubes organizados

Por admin

Filipe Cabral, vice-presidente da Federação Moçambicana de Futebol para área das finanças, no mandato de Mário Guerreiro, hoje observador atento do desporto moçambicano, considera que há crescimento do número de clubes sem devida organização a aventurarem-se para o desporto federado.

O antigo dirigente da FMF está preocupado com a possibilidade da  reintrodução do Campeonato Nacional de Divisão de Honra, porque, no seu entender, a maioria dos clubes não está preparada para esse tipo de campeonato.

Questiona quais os clubes que vão disputar a prova e em que critérios serão selecionados. Defende que o assunto não foi devidamente discutido pelos filiados da FMF, as associações provinciais, em assembleia geral.

Quanto ao Moçambola defende que a Liga Moçambicana de Futebol (LMF), entidade que  organiza, devia ter fundos próprios para no dia em que os patrocinadores recuarem o campeonato não parar.

“…E deve-se fazer sentir  que é uma organização de futebol com salto positivo no fim de cada época”, sublinha.

Filipe Cabral ficou mais conhecido pela sua pretensão de ser presidente da FMF, o que não passou da simples manifestação de ser candidato por duas vezes.

Quando perguntado o que queria fazer como presidente que não conseguia fazer como vice-presidente, não tardou em responder.

“Quando me desintegrei do elenco de Mário Guerreiro, onde ocupava a pasta de vice-presidente para área das finanças, um grupo de associações provinciais quis que me candidatasse a presidente da FMF, o que aceitei. Depois achei que melhor seria chamar para o meu lugar de candidato alguém que desse maior visibilidade ao nosso futebol, que era Mário Esteves Coluna, ideia que teve nove associações a favor.”

Curiosamente, Filipe Cabral não fez parte do elenco de Mário Coluna. Porquê?

“ Notei que algumas pessoas em volta da figura de Mário Coluna queriam fazer da federação um clube”, explica.

Mas o que queria fazer como presidente da FMF?, insistimos.

“Queria corrigir algumas coisas, como tornar o desporto coisa séria. Há muita brincadeira no futebol. Nos campeonatos aparecem clubes sem dinheiro, o que resulta em constantes desistências. Devíamos organizar campeonatos distritais, o que aproximaria as massas do futebol e aumentaria o número de atletas federados. O empresariado local teria motivo para patrocinar o futebol. Passaríamos a ter campeonatos provinciais mais envolventes, mais desejados e mais apoiados.”

Cabral acrescenta dizendo que “são necessários competições entre selecções distritais, donde seriam buscados os melhores jogadores para as selecções provinciais e daqui para as selecções nacionais. O seleccionador nacional teria maior espaço de observação, o que permitiria ter uma selecção mais coesa e forte.”

ARRUMAR O FUTEBOL

Cada vez mais o nosso futebol vai ficando sem referências. Nas equipas não há estrelas, só há jogadores. O que diz Filipe Cabral da situação?

“Nós como desportistas não sabemos decifrar o futebol. Juntamos a alta competição com a recreação e massificação. Qualquer clube do bairro, sem organização, sem dinheiro, sem sede nem campo, sem estatutos, aparece filiado na associação e por via disso na federação, o que só aufere quantidade e não qualidade ao futebol de alta competição. A alta competição é para quem tem e pode. Quem não tem e não pode fica no recreativo. Não se pode sacrificar o futebol em nome de unidade nacional. Cabe aos clubes devidamente organizados ir ao recreativo trazer de lá o que pode ser bom para o futebol.”

Cabral repisa dizendo que a alta competição não se compadece com o futebol do bairro. Deve haver regras  por  cumprir que são, por exemplo,  o estabelecimento  de vencimento mínimo de jogadores do clube que soube para o escalão do  Moçambola; que as inscrições não sejam ao preço de bagatela, têm de ser de cem mil meticais para cima, para o sustento da Liga e dos próprios clubes que a corporizam; haver maior controlo na venda de bilhetes de jogos, para que num campo cheio de público não se diga que não houve receita.

Quanto a massificação, Filipe Cabral defende que “é onde o Governo deve olhar mais. Criar condições para tornar os jogos escolares uma verdadeira marca de fabrico de atletas. Dar mais apoio aos BEBEC´s. E não é bom pegar nos miúdos que despontam nos jogos escolares directamente para as selecções nacionais. Antes devem conhecer o balneário do clube. Não é da turma escolar que se buscam jogadores para as selecções, mas sim dos clubes. E não exigir títulos aos miúdos dos iniciados, porque a estes se deve primeiro exigir saber jogar. Se os jogos do Moçambola fossem antecedidos por jogos das camadas de formação, os campos passariam a receber mais público, dentre pais e encarregados de educação.”

Cabral acha que o Governo devia deixar de financiar clubes da alta competição que estejam a competir interna e internacionalmente, porque “quem não tem dinheiro não se deve aventurar em participações como Afrotaças. Dinheiro que se gasta para esses clubes pode ser para construção de mais infra-estruturas desportivas que sirvam para a promoção desportivas nas vertentes de recreação e massificação.”  

Fotos de Inácio Pereira

Texto de Manuel Meque

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