Economia

APOIO AO IPEME: JICA desembolsa 27 milhões de meticais

É este o montante que a Agência Japonesa de Cooperação (JICA) desembolsou para a capacitação de técnicos do Instituto para Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME) com vista a garantir uma maior assistência às Micro, Pequenas e Médias Empresas. A iniciativa está inserida no âmbito do programa One Village One Product (OVOP) que no nosso país foi baptizado por CaDUP, segundo nos afiançou Simões Victorino, oficial de Programas da JICA. O projecto termina já no mês de Janeiro de 2017.

AJICA em Moçambique tem como acções prioritárias, entre outras, a activação da economia local e regional, acções para o meio ambiente e mudanças climáticas e o desenvolvimento humano e fortalecimento institucional. Na conversa que se segue com o oficial de Programas da JICA colocamos o acento tónico no apoio ao sector industrial.

O que é One Village One Product (OVOP)?

O Japão tem um movimento que dura há mais de 30 anos denominado One Village One Product (OVOP) e o Governo de Moçambique solicitou que fizéssemos a réplica deste programa que, aliás, também foi feita em outros países de África.

Em que consistiu essa réplica?

No Japão, por exemplo, foram seleccionados produtos específicos para certas províncias e distritos para que fossem melhorados e, ou, comercializados. Em Moçambique, a JICA foi solicitada para replicar o modelo que o baptizámos como CaDUP, isto é,

Cada Distrito Um Produto.

Perguntava sobre os ingredientes dessa réplica sobretudo no suporte ao sector industrial.

Neste caso específico o programa foi dividido em duas fases. A fase-piloto decorreu de 2010 a 2012 e foram selecionadas sete Pequenas e Médias Empresas (PME) em três províncias, nomeadamente Gaza, Inhambane e Maputo. A segunda fase, que termina em Janeiro de 2017, tendo iniciado em 2013, abrange as mesmas províncias, mas com um maior número de PME. Agora são trinta empresas abrangidas.

Mas o país conta com milhares de PME…

De facto, o último censo de empresas, feito em 2014, apontava para a existência no país de 32 mil micro-empresas, das quais 95 por cento eram consideradas como Pequenas e Médias Empresas (PME). Logo, havia a necessidade de apoiá-las para que os seus produtos pudessem ter acesso ao mercado nacional e internacional.

E como está a ser feito isso no terreno, tendo em conta que foi ultrapassada a fase-piloto?

Trouxemos assistência técnica e peritos para que juntamente com o Instituto de Promoção de Pequenas e Médias Empresas (IPEME) pudéssemos apoiar as direcções provinciais de Indústria e Comércio, bem como os serviços distritais. Foram colocados nessas instituições pontos-focais para apoiar as PME. Mas faltava-lhes capacidade técnica. Nós trouxemos a componente "know how" para os quadros das três províncias.

Quais foram os resultadose como é que os avaliam?

Foram satisfatórios porque cremos que o sistema está lá. Antes não havia um fluxo, um sistema, que indicasse como é que devia ser realizado o apoio às PME. Então através da assistência do IPEME para os pontos-focais das direcções provinciais da Indústria e Comércio e estes para os serviços distritais, depois para as empresas implantadas nas províncias, num total de 27 distritos, podemos nos dar por satisfeitos. Hoje os técnicos das direcções provinciais e distritais têm conhecimentos mais do que sólidos para prestar apoio às PME.

Que capacidades adquiriram os técnicos?

Por exemplo, capacidade de prestar apoio no melhoramento de embalagens e rotulagem dos produtos. Algumas empresas não tinham cartões-de-visita para que quando fossem vender os seus produtos pudessem deixar os seus contactos. No presente, os pontos-focais ajudam estas PME a produzir a sua apresentação bem como a encontrar mercado ao nível local e internacional.

Ajudam a identificar mercados?

Isso mesmo. Por outro lado, observávamos que até há pouco tempo a maioria das PME, por exemplo, que se dedicam à comercialização de piripíri, de licores, utilizava embalagens recicláveis como garrafas de mayonese, o que não era brilhante para a afirmação das empresas no mercado e até mesmo em termos de saúde pública. Ultrapassada esta dificuldade, algumas dessas empresas conseguiram mercado no estrangeiro.

Por exemplo?

Posso citar a empresa Viveiros Caetano, que se dedica à produção de hortícolas, e que está localizada na Manhiça. Esta empresa conquistou mercado na Malásia e Portugal. Agora exporta para estes dois países. Em Inhambane, temos uma empresa que produz sal iodado, que está a exportar para Índia. Tudo isto são mais-valias para a própria empresa, por um lado, porque é obrigada a melhorar os seus próprios processos e, por outro, é um desafio para as direcções provinciais e distritais, porque os pontos-focais têm de estar à altura de apoiar as micro, pequenas e médias empresas, além de que é um ganho para o próprio país, pois quanto mais exportarem mais divisas entram para o país.

CÓDIGO DE BARRAS

Pelo que pudemos notar as PME têm código de barras nos seus produtos. Também resulta do trabalho feito pelos técnicos do IPEME?

Sim. A maioria das 30 empresas quando iniciámos não tinha código de barras, que serve para a identificação de cada produto, entre outros. Agora todas têm. Não porque a aquisição desse código seja um processo difícil. Acontecia que muitas empresas não tinham informação sobre como fazer, como adquirir. Hoje, e em resultado de todo esse trabalho, algumas já estão registadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Se alguém quiser saber, por exemplo, onde é feito o piripíri da dona Rachida ou da dona Minerva localiza. É só aceder à net e fica informado. É um ganho para o país porque é mais uma marca industrial que fica conhecida.

Que outras realizações se podem apontar no exercício de 2016, muito embora os vossos programas não sejam de cariz anual?

Uma parte de acções relevantes de 2016 foi a contínua formação na gestão de negócio, porque sabemos que muitas empresas têm essa dificuldade e, ou, quando acedem ao crédito depois fica-lhes difícil gerir. Por exemplo, temos ajudado algumas empresas que acederam ao Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD).

Como?

Temos um guião e um kit de apoio e esses instrumentos estão sendo usados justamente para auxiliar estas PME na melhoria dos seus negócios. E não são apenas as 30 empresas abrangidas pelo projecto. As direcções provinciais de Indústria e Comércio bem  como os governos distritais exigem que as PME que vão aceder ao FDD se submetam, primeiro, a uma formação, e isto está a ajudar muito no processo de reembolso do dinheiro emprestado, contrariamente ao que vinha sucedendo no passado em que muitos não reembolsavam.

E…?

De forma mais directa temos concedido apoio técnico a algumas PME para levar os produtos para análise laboratorial para aferir, entre outras, questões de higiene, por exemplo. Em alguns casos, chegamos a oferecer equipamento. Certa vez deparámo-nos com uma empresa que produzia licores, as chamadas bebidas espirituosas, mas não tinha equipamento de medição do teor alcoólico de modo a saber se são 25, 30 ou 40 por cento para poder constar dos rótulos ou embalagens. Ultrapassaram essa limitante quando lhes oferecemos equipamento de medição.

Objectivo?

Quando desenhámos este programa não era no sentido de que vamos apoiar todas as PME do país. Era no sentido de criar um sistema, uma capacidade interna. Acreditamos que tanto o IPEME como as direcções provinciais e distritais de Maputo, Gaza e Inhambane já têm essa capacidade de não só esperar que as PME vão ter ou auxiliem somente aquelas que nós apoiamos, mas elas próprias também possam ir ao encontro das outras para ver quais são os problemas e de que forma eles podem ser resolvidos.

Tem exemplos?

Temos alguns bons exemplos nas províncias de Manica e Nampula. Mesmo sem o nosso apoio aproximaram-se do IPEME, visitaram outras províncias e estão a conseguir melhorar os seus processos de produção. Para nós isso é um ganho.

Quais são os desafios imediatos?

O grande desafio que persiste é a crise económica que o país está a enfrentar porque sem as condições económicas, sem orçamento para que estes pontos-focais possam se deslocar às PME não vão ter como apoiá-la e dotá-las de mais conhecimento. Vai ser difícil. Mas acreditamos que as PME, aquelas que já estão a produzir, os grandes desafios que poderão enfrentar talvez seja no campo da importação, porque se ele cobra uma garrafa reciclada a 20Mt com esta questão cambial já altera porque passará a ter custos mais elevados.

Texto de André Matola
matolinha@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo