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Um pedaço de pão comido em paz é melhor que um banquete comido com ansiedade

Por admin

Toda a gente conhece o pão. Tem pão francês, pão integral, de forma, de água, pão chinês, pão para baguete, para hamburger, pão de sal, pão de alho, de lenha, italiano, enfim. Também tem pão de queijo. Mas, Bula-bula é do povo. Vive lá no bairro e por isso se alimenta daquele pão comum.

Vendido ali na esquina, exposto a tudo o que um dia oferece, transportado em camionetas e txovas… se bem que outros transportam-no debaixo do sovaco… mas isso é lá longe pela França dentro!

Como a maior parte dos comuns mortais nativos deste imenso e belo país, Bula-bula sabe que existem muitos tipos de pão, mas não tem fundos e muito menos capital para comprá-lo. Receia que seja bastante caro. Aliás, nem se atreve a perguntar quanto custa. Só o requinte das padarias onde é vendido, mostra que não é para Zé Povinho.

Por causa disso, vive do “pão-nosso de cada dia”, aquele que rima muito bem com badjia da tia Katija ou salada de alface com carapau frito, sentado no fundo do quintal, numa esteira e de pernas esticadas, na companhia de uma garrafa térmica de cinco litros e chávenas cujo rótulo é a bandeira da África do Sul e um rodapé que diz “Bafana Bafana” ou “Pequim” enquanto ali ao largo, uma chaleira guincha de tanto ferver para a próxima rodada!

Quis o diabo (?) que um certo grupo de pais, irmãos, tios, primos e avôs nossos, um pequeno grupo mesmo, diga-se de passagem, se reunisse numa decidir agravar o preço do pão. Sentem-se apertados com os custos de produção.

Mas, qual pão? Questionou-se Bula-bula.

É que há muito que os moçambicanos vão ao mercado e regressam desapontados, com os cestos e sacolas cada vez mais vazios porque quase tudo o que é produto alimentar está pela hora da morte. Exemplo, o arroz. O saquinho passou de 700 meticais para 1300 meticais e, pelos vistos, parece disposto a chegar bem mais longe. E ninguém veio à rua alardear fosse o que fosse.

Vais a mercearia e nunca sabes se as notas cobrem a despesa. Até mesmo – vejam só a heresia –  a cerveja. Lá se foi o 3/100. A caixa de “xicotelas” passou de 650 para 870 meticais. Ninguém negociou, ninguém perguntou se os clientes querem, gostam, pensam, acham, entendem, etecetera. Foi acordar e dar com os burros na água.

Espanto dos espantos. Chegou a vez do pão. E é um vê se te avias. Telejornais, primeiras páginas, entrevistas, análises, reuniões, concertações e até financiamento estrangeiro, de chancelarias ocidentais (as mesmas de sempre). Só faltou chegar a vez de se convocar uma passeata, com dísticos, camisetes e megafones, com início na estátua de Eduardo Mondlane e fim na Praça da Independência.

Uma certa imprensa, lá das terras de Donald Trump, mas com membros e simpatizantes por cá, até fez um inquérito no seu site para saber se “Tem uma padaria ou conhece quem tem?”, “Qual é a realidade diária?” “E para si que é cliente? Vai comprar menos pão?” entre outras questões.

O pão, esse alimento sagrado (até Jesus partilhou-o com os seus apóstolos e discípulos) parece agora ao serviço de interesses obscuros. Há quem queira usar o nosso pão de cada dia como Cavalo de Tróia, para incendiar as nossas cidades e subúrbios.

Felizmente parece que o Zé Povinho adivinhou a tramóia e é vê-lo a usar os últimos tostões para comprar o raquítico pão para alimentar os seus e não andar ai em vuku-vukus que só servem aos que em gabinetes perfumados e a temperatura regulável procuram alcançar objectivos inconfessáveis através do estômago vazio.

O problema é que agora nem migalha vai ficar nas nossas mãos! Quer dizer é o que nos querem fazer acreditar… aqueles dali ou de lá reunidos e ou financiados por uns pardos de lá longe.

E lá se vão os tempos em que se acreditava que se um homem tivesse pão nas duas mãos, ele devia trocar um deles por algumas flores de narciso, pois o pão alimenta o corpo mas as flores alimentam a alma!

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