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População aposta no trabalho apesar das ameaças da Renamo

Uma semana depois dos ataques a viaturas protagonizados por homens armados da Renamo ao longo da Estrada Nacional Número (EN1), no posto administrativo de Muxúnguè, distrito de 

Chibabava, província de Sofala, a calma voltou à zona e a população diz estar firme a voltar ao trabalho, de modo a gerar rendimentos para o auto-sustento, enquanto supera paulatinamente o medo resultante da tensão política que se vive no país.

 

A nossa Reportagem esteve esta semana em Muxungué e constatou que a calma voltou à zona. Nos últimos dias, as barracas, pequenas lojas, e o comércio em geral abriram normalmente e as instituições públicas e privadas voltaram a funcionar para servir a população, como se nada tivesse acontecido na semana passada. Nas principais ruas, da sede de Muxungué, apesar da presença militar e da Polícia de Intervenção  Rápida (FIR) que garante a segurança de pessoas e bens naquela urbe, circula-se à vontade.

Aqui, as noites começam a ser diferentes das da semana. Dias depois dos ataques, a movimentação nocturna era feita com restrição, mas hoje, o cenário é outro. Mulheres, homens, crianças e adultos já se fazem alegres à via pública e as barracas ficam abertos até noite dentro. Em tudo o que é canto, ouve-se já música alta, vomitada a partir dos bares e outros locais de diversão. É o Muxungué a erguer-se e a querer voltar à vida que sempre o caracterizou.

Quando amanhece, logo cedo, as pessoas desenvolvem as suas actividades, principalmente, o comércio, que é praticado por cerca de 60 por cento da população residente neste posto administrativo, estimada em 64.039 habitantes, distribuída em três localidades. O que consola os populares é o facto de acreditarem que enquanto produzem, o Governo está a trabalhar no sentido de resolver as diferenças que o opõem à Renamo, dialogando com o objectivo de devolver a tranquilidade para Muxúnguè e para o país em geral. As pessoas aqui continuam a ter fé na paz definitiva e também sabem que o trabalho é o principal instrumento para o combate à pobreza.

Muitas mulheres ocupam-se pela actividade doméstica. Grande número de  homens ao negócio. Assim sendo, a vida vai seguindo o seu ritmo e nada pode parar por causa da discórdia política que se verifica no país.

Porém, algumas medidas cautelares, a nível da segurança foram tomadas, até que seja, definitivamente, resolvido o problema. Uma delas relaciona-se com o trânsito de viaturas de Muxúnguè, em Sofala, para o rio Save, na província de Inhambane, que continua condicionado.   A movimentação naquele troço de cerca de cem quilómetros é feita mediante escolta da força conjunta FIR/FADM. São quatro colunas por dia. No período da manhã faz-se, Muxungue-Save e vice-versa. O mesmo acontece à tarde. A última frota de viaturas chega a Muxúnguè por volta das 18 horas, contrariamente, ao que acontecia, que era até às 20 horas.

FALAM MOTORISTAS

PASSAGEIROS E RESIDENTES

A nossa Reportagem conversou com alguns automobilistas e passageiros que dia-a-dia usam aquele troço rodoviário, devido às suas actividades. Igualmente ouviu alguns residentes do local.

Manuel Magalhães, motorista da transportadora Linhas Terrestres de Moçambique (LTM), disse que a falta de segurança na zona que obriga à existência de colunas de escolta retarda a vida das pessoas e ao mesmo tempo faz lembrar os vinte anos de guerra civil. Acrescentou que o número de passageiros que, por exemplo, fazem viagem da província Tete para Maputo baixou consideravelmente. “Antes dos recentes ataques da Renamo, o autocarro ficava lotado em cada viagem. Agora viaja com seis ou sete passageiros. Numa semana, antes fazia três carreiras. Agora só é possível uma, o que tem se traduzido em elevados prejuízo para a companhia”, referiu Magalhães.

A situação está difícil. Não temos movimento, porque as pessoas têm medo de viajar. Está tudo complicado, porque as pessoas não aparecem. Continuamos a fazer estas viagens, porque temos família que precisa de nós para viver, senão teríamos abandonado. Tenho uma idade que já não ajuda para procurar outro emprego para sustentar os meus filhos”, disse o nosso entrevistado.

Sandra Fernando, umas das passageiras que viajava da Beira para Maputo, que pernoitou em Muxúnguè, explicou que dormiu em péssimas condições no carro, votado ao frio e aos mosquitos. “Dormi nas escadas do carro, porque não tinha outra hipótese. Quando chegámos aqui já era tarde demais. Para mim, o Governo tem que encontrar uma forma para acabar com as ameaças da Renamo porque estamos a sofrer. Isso não é vida. O país não pode desenvolver enquanto isto continuar. Queremos a paz, porque com ela podemos realizar várias actividades sócio-económicas, consequentemente gerar riqueza“.

Aquela cidadã lembrou que cada moçambicano tem o dever de preservar a paz  para que esta Pérola do Índico continue a registar crescimento e a tornar-se uma referência para o mundo. Ela apontou como referências a construção de várias infra-estruturas sociais e económicas, nomeadamente, a expansão da rede escolar, sanitária e eléctrica, a construção e reabilitação de vias de acesso, produção agrícola, a descoberta de recursos naturais, entre outros feitos como sendo ganhos que têm um impacto directo na vida dos moçambicanos.

Estas conquistas não podem ser destruídas num só dia, porque custaram o sacrifício do povo que durante muitos anos trabalhou para tê-la. “Para que isso continue, temos que olhar para a paz como sendo um bebé que precisa, a todo custo, de ser acarinhado. Se isso não acontecer, havemos de regredir e afugentar os investimentos que ganharam espaço no nosso país“.

Negócio vai bem

Em conversa com os comerciantes de Muxúngue, ficamos a saber que, não obstantes as ameaças dos homens armados da Renamo, o comércio vai bem em todas frentes. Alguns vendedores de ananás, por exemplo, afirmam que a permanência de viaturas com passageiros  que esperam pela escolta tem ajudado a aumentar seus os lucros.

Samuel Amone, vendedor de ananás, disse que “tenho feito aproximadamente mil meticais por dia. Antes, vendia 500 meticais. Como os carros permanecem muito tempo aqui à espera da escolta, os passageiros querem comer alguma coisa, por isso compram ananás. Quando a pessoa é esperta, consegue vender muito mais. Antes era um pouco difícil fazer estes lucros, porque as paragens eram de curtas”, disse.

Johane Machava, proprietário duma banca fixa onde confecciona comida, corroborou com Amone, referindo que ultimamente vende muito, principalmente, à hora do almoço e jantar, porque as pessoas ficam ali muito tempo e algumas pernoitam, para seguir viagem no dia seguinte. “Vendo muito. Até fico sem espaço para receber mais clientes, porque a casa é pequena. Muita gente procura este local para comer. Os preços são acessíveis e preparamos a comida com alguma qualidade. A paragem de viaturas está a ajudar-nos, embora essa não seja nossa vontade. Queremos paz para continuarmos a trabalhar à vontade.   Espero que nos próximos dias, o problema fique ultrapassado”, acrescentou Machava. 

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