Desporto

(Também) não queria Abel Xavier!

Moçambique teve na sua história por aí 20 seleccionadores nacionais de futebol, entre permanentes e interinos. Quer alguns nomes? Ai estão:

Ramalhito, João Carlos da Conceição, Martinho de Almeida, Cremildo Loforte, Mário Coluna, João Albasini, Belmiro Manaca, José Geneto, Hilário da Conceição, José Castro, Rui Caçador, Ayman Elyamany, Arnaldo Salvado, Víctor Bondarenko, Augusto Matine, Artur Semedo, Mart Nooij, João Chissano, Mano Mano e Boris Pusic.

Agora a direcção da federação entregou o martelo a Abel Xavier e os apóstolos da desgraça esticaram os pescoços para augurar um futuro sombrio quanto o presente.

O argumento comum é de que os “Mambas” merecem ser treinados por alguém mais experiente, com um CV convincente para melhor embalar as nossas expectativas para um amanhã melhor.

Até vi na TV senhores responsáveis lá do ministério já a exigirem resultados ao novo seleccionador nacional, com o argumento de que todas condições estão criadas para o sucesso.

Mea culpa para o próprio Abel Xavier que afirmou na conferência de imprensa da sua apresentação que Moçambique tem matéria-prima bastante para jogar de peito aberto com qualquer adversário. É mentira!

Os actuais jogadores da selecção nacional são maioritariamente medianos, vencedores de campeonatos com excessos erros dos árbitros. Os actuais jogadores da selecção nacional têm baixa qualidade comparativamente às de muitas selecções nacionais doutros países de África.

O argumento de fraca experiência não pode matar Abel Xavier porque o mundo tem exemplos vários de treinadores que singraram em grandes clubes ou selecções nacionais com um CV ainda em branco.

Sthepen Keshi, o Big Boss nigeriano, estreou-se como treinador à frente da selecção do Togo e apurou-a ao Campeonato do Mundo, antes de ganhar um CAN pelo seu país.

Mart Nooij teve em Moçambique a sua segunda experiência de treinador depois da selecção Sub-20 do Burkina Faso. Paulo Bento chegou a seleccionador de Portugal depois de treinar apenas o Sporting a alto nível. André Villas Boas, ainda menino, ganhou títulos pelo FC Porto. Jurgen Klinsman iniciou a carreira treinando a selecção alemã. Zidane assumiu recentemente o Real Madrid. 

Que experiências tinham João Albasini, Artur Semedo, Augusto Matine,  Ayman, José Castro ou João Chissano quando assumiram os “Mambas”? Alguns deles tinham muitos bons jogadores do que propriamente longos anos de experiência e vitórias.

Por isso tudo, entendo que Abel Xavier merece a confiança daqueles moçambicanos que lhe exigem um CV de mil páginas de vitórias. Daqueles que julgam que temos bons jogadores e falta-nos apenas um treinador à altura desses jogadores.

Eu não queria Abel Xavier por outro motivo: me parece não ser uma pessoa idónea e equilibrada com capacidade de comandar um grupo nacional. Enquanto jogador, foi protagonista de episódios demonstrativos duma personalidade problemática e amiga da confusão.

Sim, as aparências, às vezes, enganam. Desejo sinceramente que me enganem também desta vez.

Também desconfio de Abel por causa dos penteados, suas roupas e estilos. Mas isso até é exigir demais e eu próprio já identifiquei dois culpados lá do Chibuto, em Gaza, dessa minha desconfiança. São os meus pais que passaram a vida a dizer-me não faz isso e aquilo.

Portanto, eu só não queria Abel Xavier por causa da sua extravagância e distância com a disciplina. O CV não me preocupa. Mais do que o CV e a excentricidade do novo treinador, estou angustiado com a falta dos ovos para fazer as omoletes…

Custódio Mugabe

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo