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Renamo estilhaçada?

Por admin

   

Dizem que o moçambicano é sonhador por excelência. Deve ser mesmo isso. É que, mesmo com ameaças – que duraram precisamente 21 anos – continuamos a levar a vida normalmente. É verdade…

Tempos houve em que Bula Bula se quis convencer que Afonso Dhlakama, líder da Renamo, poderia transformar o seu movimento num verdadeiro partido democrático, que respeitasse regras de jogo democrático, com programas bem planeados, emergindo potencialmente como alternativa de poder para também indicar outros caminhos e condições adequadas para o desenvolvimento do país .

Um partido com acções e metas, construídas por etapas e com objectivos bem definidos, mobilizado para as grandes tarefas nacionais, a começar pelas mais urgentes, como é o caso da erradicação da pobreza absoluta e da educação.

Tudo isso estaria cimentado numa convivência sã e fecunda, assente na multiculturalidade que nos caracteriza e no respeito pela liberdade, que exige tolerância constante. Estaríamos a falar de um partido com cabeça, tronco e membros, unido e com uma única direcção.

Se o arrependimento matasse… onde estaria Bula Bula , nesta altura?

É que nada disso está a acontecer. Bula Bula soube de alguns amigos (que são tantos) que dentro da “perdiz” há fragmentação, mais ou menos como peça de porcelana depois de se escangalhar no chão de granito. Cabeça num canto, o tronco noutro e os membros noutro canto ainda. Da Renamo tradicional, terão emergido pelos menos quatro grupos com interesses bem distintos…

O primeiro é de reputados deputados da Assembleia da República e de membros das assembleias municipais e provinciais que vêem os seus interesses ameaçados com a auto-exclusão da Renamo das eleições. A não inscrição da “perdiz” nas eleições autárquicas significará perda de salários e rendimentos por parte dos seus membros que agora se encontram em diversas assembleias municipais espalhadas pelo país. E se a Renamo mantiver o boicote para as gerais e provinciais, ilustres deputados perderão mordomias a que estão habituados, por causa desta casmurrice.

O segundo grupo é o de académicos e intelectuais ligados à Renamo que vêem os seus projectos de vida também ameaçados e na eminência de irem água abaixo. Estão aqui acampados elementos com expectativa de serem ministros disto e daquilo, o que parece uma miragem.

O segundo partido mais votado poderá deixar de sê-lo proximamente, emergindo para este escalão o MDM, que tem estado a fazer, diga-se, um trabalho de casa notável para suplantar a “Perdiz”… fala-se inclusive de uma “migração” perdiziniana para o galináceo altaneiro!

O terceiro grupo é dos radicais, próximos do líder da Renamo, constituído maioritariamente por generais, como Hermínio Morais, Ossufo Momade, Jerónimo Malagueta (ora nos calabouços), Arlindo Maquivale e o finado Armindo Milaco. Este teria alguns apêndices sensíveis de Afonso Dhlakama nas suas mãos, induzindo-o a enveredar por actos belicistas, terroristas e de chantagem ao Governo, acreditando que pode tomar o poder pela força, e a partir daí satisfazer os seus interesses, como ala militar da Renamo.

Este grupo dos radicais está a ser contestado por outros e é acusado de estar a desestruturar o partido e afundar a Renamo. Induziu (e continua a induzir) o líder a efectuar ataques na Estrada Nacional Número Um (EN1). Afonso Dhlakama, um sonhador visceral e umbiguista por excelência, deixa-se arrebatar facilmente por emoções incontidas ao serviço da sua sofreguidão pelo poder. Nele a ponderação vem sendo sol de pouca dura e pensa-se que, depois deste raiar em ténues porções de luz o grupo pode acabar por silenciá-lo, assaltar o poder no partido e radicalizar ainda mais as suas posições, na esperança de assumir o poder em Moçambique.

Esta ala radical da Renamo é ainda acusada de continuar a manter-se como instrumento da extrema-direita sul-africana e outros sectores ocidentais interessados na desestabilização do país.

O quarto e último grupo é constituído por simples membros e simpatizantes da Renamo, que após sucessivas derrotas do partido nas eleições, perdeu a perdiz a constituir-se numa formação séria, com uma liderança séria, e por isso, começaram a “emigrar” para outras formações políticas, maioritariamente para a Frelimo e para o MDM.

Segundo apurou Bula Bula,elementos do primeiro e do segundo grupo, constituídos essencialmente pelos primeiros 16 deputados da AR, que tomaram posse à revelia de Afonso Dhlakama, apelam ao seu líder no sentido de voltar ao convívio social, mesmo que para tal, use a igreja ou as missões diplomáticas para se apresentar, pois defendem que as condições geoestratégicas não são favoráveis à Renamo, principalmente na perspectiva de se desenvolver uma guerra de desestabilização, sabido que a nível regional , não há nenhum país que se possa constituir em retaguarda segura para um movimento armado. Esta preocupação tornou-se mais evidente, quando a própria Renamo, através do seu porta-voz no Parlamento, Arnaldo Chalaua, anunciou sexta-feira última a morte do general Armindo Milaco, nas montanhas de Gorongosa, na sequência de ferimentos contraídos na tomada da base de Santungira pelas Foças de Defesa e Segurança.

Bula Bulapreza a paz . Lembra-se de Brecht quando diziam que o mundo condenava as águas do rio transbordante, mas ninguém se lembrava das margens que o aprisionavam… é mais ou menos do tipo dás-me uma bofetada e eu sorrio; dou-te um tabefe e tu conclamas pelos Direitos Humanos .

Como dizia um cantor moçambicano, querem transformar a nossa terra num sítio onde, primeiro, morre-se e só depois perde-se a esperança!

Lá dizia a velha sabedoria : quem tem telhas de vidro não deve atirar pedras para a casa do vizinho, pois arrisca-se a apanhar com uma saraivada de calhaus e a ter que se refugiar em alguma montanha…

 

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