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Falar anima… às vezes até demais!

Por Idnórcio Muchanga

O país vive um raro momento de tranquilidade, pormenor que propicia também o registo, vez outra, de algumas pepitas dignas de figurar no museu do absurdo. Vem este solilóquio a propósito de uma “dica” do deputado da Assembleia da República Juliano Picardo pelo círculo eleitoral de Tete. Picardo disse alto e bom som que a Renamo não vai “entregar” as suas escopetas nem os homens que estão enfornados nas matas.

Bula-Bulaficou palerma quando o mesmo disse que os tais homens seriam a última barreira nas eleições gerais aprazadas para Outubro próximo. Se ouviu isso, o líder histórico da Renamo deve ter mudado cofiado na sua cabeça… afinal ele havia acordado, antes de partir para o além, que o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos homens da “Perdiz” devia ser concluído antes das eleições.

À luz desse acordo, a Renamo devia entregar ao Governo a lista dos seus homens para serem integrados socialmente, bem como reencaminhados em diferentes ramos das forças de defesa e segurança, até porque em troca e em resposta às exigências da “perdiz” o Executivo aceitou a revisão pontual da Constituição da República, aceitando a eleição dos governadores provinciais, a partir das eleições de 15 de Outubro próximo.

Antes e já no ano passado, o Governo deu um passo gigantesco ao aceitar igualmente o novo modelo de eleição dos dirigentes dos conselhos autárquicos, através do cabeça-de-lista do partido mais votado.

O deputado Picardo parece estar à margem desses processos. Usar espera-poucos para ganhar vantagens não parece coisa de gente que quer o bem da maioria. É, acima de tudo, vulgarizar os entendimentos entre o Presidente Nyusi e o líder da Renamo, Ossufo Momad. É líquido que ninguém precisa de ir às eleições armado até aos dentes. Em décadas da democracia moçambicana o pacote eleitoral sempre foi alterado para salvaguardar as exigências da “perdiz”.

Há quem defenda que a ideia de Picardo não é tão isolada assim. Que ela revela o pensamento circulante nas hostes da “perdiz”. Verdade? Mentira? Ninguém sabe ao certo, mas há ainda quem alvitre que como o DDR irá beneficiar a ala militar ‒que, entretanto, sempre serviu de moeda de troca ‒com claros benefícios da malta de camisa branca e gravata que vive nas cidades e que quer manter essa condição, há que manter a corda esticada.

Vale dizer que se os homens saírem do mato, a malta do AC ficará sem um argumento de peso para chantagear o partido no poder. Bula-Bulaprefere pensar que a liberdade de expressão está a ser sugada a belprazer de quem pode falar… soa a libertinagem, mas se se disser o contrário alguém dirá que se está a coartar essa mesma liberdade.

E lá vamos nós rindo e cantando ao sabor do vento…

 

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