Bula-bulanão dorme. Não quer dizer que seja só noctívago. Também anda de olhos bem abertos assim que o sol raia. E foi numa bela manhã de sábado que foi interpelado por um bem uniformizado elemento da polícia de trânsito. Camisa branquinha e calças azuis. Tudo muito bem engomado.
Único sinal discordante do nosso homem era, apenas, a cara de quem mal agarrou a noite e madrugada dentro. Certamente a disciplinar os intolerantes jovens automobilistas que ao fim de semana entornam álcool goela abaixo como quem chupa um gelo doce quando os termómetros de Maputo apontam 43 graus. Como foi o caso de ontem.
Mas continuemos com o nosso zeloso polícia. Bula-bula mostra Cartão de condução, livrete, título de propriedade, inspecção, taxa de radiodifusão, manifesto. Tudo limpinho. Bula-bula já sorri de orelha a orelha quando lhe cai a bomba: “Os faróis de travão não acendem. Podes ser “subido” por quem vem atrás. Isso dá direito a multa. 1000 Meticais”.
Bula-bulasente colar-lhe o céu da boca. Porém, adopta uma estratégia de defesa. Permanece sentado, calado, com as duas mãos presas no volante, com o carro em ponto morto.
Nesse ínterim em que dura a espera, passa a toda velocidade um carro fantasmagórico. Isso mesmo. Sem um único sinal luminoso. O agente também olha mas a sua cara não mostra nenhuma indignação nem espanto. Parece conhecer o carro-fantasma, porque logo em seguida, abanando a cabeça, diz que não acredita no que está a ver; que há pessoas sem um pingo de juízo e remata: como pode uma pessoa circular sem luzes no carro?
Depois, ante o olhar reprovador de Bula-bula, faz ecoar a sua voz meio roufenha mas já soando como música: “Pode seguir viagem”.
Bula-bulacorre-corre-corre, sempre nos limites de velocidade, mas num único sentido. A meta é a casa. Lá chegado pede a esposa para confirmar a reacção dos faróis. E pisa o pedal de travão com sofreguidão. A esposa grita (aposto que esta da esposa não sabiam!): “Os faróis acendem, mor!”. Uff. Não será desta que o electricista-auto vai beber uma geladinha. Desfez-se o nó que tinha inchado na garganta. Para que não seja achado na próxima esquina, pondera comprar “um motor sobressalente”.
Então, já meio enrolado pelo sono, vem uma pergunta que não quer calar: o que é que o PT queria afinal? A esposa parece adivinhar e avança: “com o calor que faz estes dias, o polícia queria um simples refresco.”
Contudo, Bula-bula reconhece o esforço que está sendo feito pela autoridade para minorar a sinistralidade viária no país