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Bom de papo mas a bexiga está a ficar sem ar

Por Idnórcio Muchanga

Uma vez contaram a Bula- -bula a estória da raposa e as uvas. Coisa pouca, mas de muita valia. Diz-se em segundo: “Uma raposa passou em baixo de um pé carregado com lindas uvas. Ficou com muita vontade de comer aquelas uvas. Deu muitos saltos, tentou subir na parreira, mas não conseguiu. Depois de muito tentar foi-se embora, dizendo: ‘Eu nem estou ligando para as uvas. Elas estão verdes, mesmo…’”.

Muitas lições podem tirar-se desta curta fábula. Mas, para Bula- -bula, fora todas as lições de moral, ela lembra um dos arguidos no “Caso das Dívidas Não Declaradas”. É que o tal “craque e ‘maningue’ estiloso” andou dias a fio a desfiar um rosário de fazer crer que ele era o cérebro por detrás da golpada. Que ele conhecia todos os contornos do assunto. Que ele isto, que ele aquilo. Que este era veículo e o outro viatura. Que os segredos disto e daquilo só estavam na sua cachimônia.

Nalgumas vezes, alardeando uma dose de arrogância – e por isso foi admoestado vezes sem conta pelo Tribunal –, praticamente desvalorizou os outros arguidos. Ali só dava ele. Fazia lembrar o CR7, dado que o seu acrónimo (ACR) faz lembrar o do jogador português.

Entretanto, pelo que se pode perceber pelos depoimentos que o tribunal vai colhendo, as uvas não estavam tão verdes assim… a raposa é que não estava à altura do desafio, mas, para não dar uma de fraco, preferiu de forma altaneira estufar o peito e mandar bala para todo o lado. As uvas, essas, ficaram ali…

“Estamos a perder tempo… o povo quer saber das dívidas; eu quero falar”, disse vezes sem conta. Agora estamos a ouvir que pressionou aqui e ali. Que o documento- -mãe foi pensado por outras mentes; que a ideia mesmo, no fim do dia, era ficar com algum; que foram outras mãos e cérebros que guiaram a peça teatral de dar inveja ao próprio Samuel Beckett, um dos nomes maiores do teatro do absurdo.

Mas, para o bem ou para o mal, a história vai cunhar a expressão “veículo operativo”… a juntar a outras tantas que vamos ouvindo. Sem pretender ensinar o pai nosso ao vigário, vale a pena lembrar a bela frase segundo a qual “se o malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”.

Foto de Carlos Uqueio

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