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Alimento para eles veneno para nós outros

Por Idnórcio Muchanga

Juntar 250 pessoas – em nome do povo – é um exercício e tanto. Bula-Bula quer entender porquê aqueles ilustres engravatados e devidamente ataviados, investem o tempo que têm para discutir coisas sérias, a atirarem piropos, insultos e outras farpas uns aos outros.

É que, parece que o mais importante para muitos deles é mostrar o repertório de insultos ao invés de discutirem e procurar soluções para os muitos problemas que o nosso país enfrenta. Nós – povo que dizem representar – quando ouvimos que se vão reunir, ficamos antenados. Prontos para ouvir debates sérios… desgraçadamente o que ouvimos são leituras de textos previamente elaborados. A pergunta que não quer calar é: como é possível discutir, seja lá o que for, com base na leitura de um texto elaborado de antemão? E se o rumo dos acontecimentos for para a esquerda, o ilustre continuará a ler o seu texto que indica a direita… é discutir isso?

Outrossim, os deputados discutem a vida particular de cada um, insultam a torta e a direito e para piorar ainda mais a situação perdem-se completamente sem falar do que é essencial. A malta já sabe que quando fulano pede a palavra, vem chumbo ardente… palavrões e mais palavrões. É bom ser conhecido como aquele que só fala mal dos outros?

As perguntas são tantas mas saibam que não gostamos dessa cena. Somos 30 milhões de pessoas com os olhos colocados em vocês e o que fazem… insultam-se. Queremos que falem de coisas sérias. Negócios de barraca ou de escola ou ainda de alfas não nos interessam. Falem de coisas sérias e – sinceramente – parem com essa cena de leitura (alguns mais gaguejam do que lêem) e discutam com profundidade. Estamos cansados dos votos contra só porque foi a outra bancada. Se realmente estudassem os documentos e esquecessem um bocadinho que os outros são “inimigos” ficaríamos todos a ganhar.

Há ainda uma longa estrada para o nosso Parlamento percorrer até atingir os níveis que vemos noutras partes do mundo, onde os argumentos são colocados com responsabilidade e não se perde tempo a ver homens e mulheres sentados por mais de oito horas para, no lugar de discutirem a vida do povo, falarem da vida de colegas. Na “discussão” de um documento importante como o Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) não vimos nada de especial. Insulto aqui, piropo ali e voto contra. E o povo? Alguém se lembrou dele? Queremos um Parlamento que nos dignifique como moçambicanos.

Debate de ideias é suposto ser algo livre e espontâneo. No nosso Parlamento acontecem leituras no lugar de debates… de resto, quase toda a estupidez de nosso comportamento decorre da imitação daqueles a quem não podemos parecer.

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