Fama é definida pelo dicionário de língua portuguesa como “reputação, notoriedade, glória”. Os homens – uns mais, outros menos – buscam a fama. No caso de Bula Bula, a fama é a menor das
preocupações… mas não é assim para todo o mundo.
Há uma nova expressão – na sua forma tradicional é nutritiva – que está a tomar conta do nosso universo. É a “sopinha”. Desengane-se se já estava a pensar num tacho fumegante com nacos de carne e vegetais. A “sopinha” de que se fala é um subsídio que se paga para aparecer. E é pagar (não é pegar) ou largar.
Explico-me: “sou um candidato ou mesmo um artista mais ou menos firmado, mas ninguém me conhece de verdade. Penso. Penso outra vez. E chego à conclusão de que aparecendo num e noutro programa televisivo, vou ganhar notoriedade… melhor dizendo, vou ser famoso.”
Solução mágica: procurar produtores de programas televisivos e garantir-lhes uma “sopinha”. Não interessa qual é o canal ou grandeza do mesmo. A “sopinha” funciona mesmo. Bula Bulatestemunhou ao vivo e a cores essa vil prática. Aconteceu que Bula Bula foraconvidado para participar num determinado canal televisivo e, enquanto esperava, pasme-se, viu um produtorzeco a receber por baixo do pano uma nota de mil meticais. A conversa foi assim…
Produtor: ah. És tu afinal? Ok. Vais entrar às 16:00 horas. Não atrases…
Provedor de “sopinha”: Não, não vou atrasar. Eu quero cantar nesse programa.
Produtor: Vê-la o que fazes… onde está a música?
Provedor de “sopinha”: Está aqui nesta maquete.
Produtor: Este disco está bom?
Provedor de “sopinha”: Está bom sim… então até às 15:50.
Produtor: eh. E aquilo?
Provedor de “sopinha”: Está aqui (entregando discretamente mil meticais)
Produtor: Ok. Depois não é para andar aí a falar que cobramos taco, senão não apareces mais aqui.
Bula Bulaficou burro. O pobre rapazote que soltou os mil meticais vestia-se modestamente. Aqueles valores devem-lhe ter custado tanto a juntar. Via-se que era um jovem carente, mas a necessidade falava mais alto. A cena repetiu-se mais duas vezes diante dos olhos de Bula Bula. E tudo isso aconteceu numa grande estação televisiva com responsabilidades sociais. Aquilo viola todos os princípios de ética. Cobrar para que os miúdos tenham os seus segundos de fama é algo repugnante. Noutras partes do mundo, os canais televisivos é que pagam para ter determinadas pessoas nos seus programas… aqui o pé descalço tem de economizar para pagar aos produtores – diz-se, que há apresentadores que também cobram. É uma vergonha nacional.
É verdade que nem todos os produtores e apresentadores cobram “sopinhas”, mas – deve ser mesmo por isso – que volta e meia somos bombardeados por cantorzecos e outros artistazecos com os seus “duns duns” e roupas “multicolores” a debitarem um chorrilho de insultos nos nossos tímpanos. É que não há seriedade nenhuma nalguns programas… há é mola a circular por baixo dos cenários.
Bula Bulaestá já a reunir mola para obter um caldeirão e fazer uma super-sopa de legumes… quem sabe, por ai também apareça até nos horários nobres!