Moments of Jazz trouxe a Maputo o guitarrista norte-americano Earl Klugh. Músico de quatro costados e uma carreira recheada de êxitos, Klugh aceitou, em exclusivo, falar para o semanário domingo. Simples, bem-disposto, o músico que é considerado um dos maiores guitarristas do mundo de todos os tempos, abriu o seu coração e falou da sua história e daquilo que a música significa para a sua vida!
Klugh é um mestre alquimista, transformando cordas de nylon em ouro musical puro!Duke Ellington dizia para os artistas que admirava que a sua música estava para além de qualquer categoria – e, em muitos aspectos, essa frase capta exactamente o espírito do virtuoso Earl Klugh(pronuncia-se klu) quando afirma que a “a música não tem fronteiras nem etiquetas; eu não sou um músico de Jazz ou outra coisa; sou apenas um tipo que faz música".
Desde que Klugh lançou o seu álbum inaugural em 1976, intitulado simplesmente Earl Klugh, ele tornou-se um dos ícones mais da guitarra, com uma grande legião de admiradores em todo o mundo. Não é por acaso que já foi nomeado vezes sem conta para os Grammys.
O mais interessante é que o seu primeiro instrumento foi o piano: “minha mãe, que cantava no coro da igreja, ofereceu-me um piano quando eu ainda era pequenino. Aos 5 anos eu já tocava piano. Aliás, aina faço as minhas composições todas no piano… mas eu queria mesmo era tocar guitarra”, diz Klugh.
Aos 7 anos, ganhou da mãe a sua primeira guitarra. O resto, como sói dizer-se, é história…
Nascido em 16 de setembro de 1953, Klugh era um adolescente quando o saxofonista Yusef Lateef o ouviu a tocar numa pequena loja de música onde o jovem guitarrista trabalhava, enquanto ainda era estudante.
“Yusef confessou-me o seu espanto ao ver um jovem negro a tocar guitarra clássica… disse-me que era primeira vez que via isso mas, mais importante, mal acreditava que aqueles sons saiam da minha guitarra. Imediatamente convidou-me para participar no seu disco”, diz Klugh.
Assim, Klugh participou na gravação da música “Michelle” do disco Suite 16.No ano seguinte, já com 17 anos, Earl Klugh participa na gravação em estúdio do disco “White Rabbit” do já consagrado George Benson. Aliás, Benson acabou convidando o nosso entrevistado para juntar-se ao seu grupo onde permaneceu por mais de um ano antes de juntar-se ao projecto Return to Forever.
Em 1976, lança então o seu primeiro disco de originais intitulado simplesmente Earl Klugh. Dai para frente a história foi sendo tecida a custa de sons lindos produzidos pelas cordas de nylon. E não é por acaso que ele é muitas vezes referenciado como um dos progenitores do chamado Jazz Contemporâneo. Aliás, quando lançou o seu primeiro disco, George Benson disse: “Klugh tem completo domínio do seu instrumento e os seus reflexos são tão suaves como os sons que destila”
“Eu prefiro pensar que sou apenas um bom músico”, diz rindo-se a bandeiras despregadas.
FALO ATRAVÉS
DA GUITARRA
Earl Klugh quer seja em palco, quer fora, é pessoa parca em palavras. Curiosos, perguntamos porquê nunca gravou a sua própria voz em nenhum dos seus muitos discos.
“Eu falo através da guitarra. As pessoas percebem os sentimentos que procuro transmitir. São coisas que eu nunca conseguiria traduzir em palavras”, disse mas perante a insistência revelou que “na realidade quando tinha 14, 15 anos, comecei a ter problemas muito sérios na fala; a ter dificuldades de falar mesmo… então disse para mim mesmo: a guitarra falará por mim”.
E não haja dúvidas. O homem maneja a guitarra como ninguém. Klugh não é um músico explosivo. A suavidade é a sua marca registada. Os dedos namoram as cordas da guitarra de caixa com uma limpeza incrível.
Os discos que vêm registando ao longo dos últimos anos assim o atestam. Desde que lançou o disco Earl Klugh, há quase 40 anos, a sua magia continua a encantar plateias quer seja actuando num quarteto, ou com a sua banda eléctrica ou com uma orquestra sinfónica.
"A emoção é essencial na criação musical e deve se renovar em cada estúdio ou palco.Quando vou tocar uma determinada canção, eu sempre recuo para a altura em que a escrevi e revivo as razões que me levaram a faze-la. Procuro ter sempre a mente aberta e nunca tentar repetir o que foi gravado em disco. Um espectáculo é sempre um espectáculo… e eu toco como se aquele instante fosse sempre o primeiro”, diz o músico que mesmo aos 62 anos continua a praticar diariamente um mínimo de 5 horas por dia.
Acrescenta que "o meu prazer é procurar coisas novas, maneiras novas para tocar todos os dias.Há tanta coisa que eu quero fazer ainda. Se não houvesse mais nada para aprender e fazer, não haveria razão para tocar”.
Na esteira das suas produções, em 1989, Klugh lançou o seu primeiro álbum solo de guitarra, intitulado simplesmente Solo Guitar. Dezesseis anos mais tarde, o seu segundo disco solo, Naked Guitar,levou-o a ser indicado para os grammys. Ambos os discos foram não só populares, mas também receberam altos elogios da crítica. Hand Picked, disco que Earl Klugh dedicou a mãeestá também no caminho certo para ganhar outros tantos prémios interncionais a juntar ao já conquistado galardão para o Melhor Disco de Jazz Contemporaneo. Em Hand Picked, lançado em 2013, 13 das 16 faixas apresentam a assinatura ma mestria no violão solo de Klugh. As restantes faixas são duetos com três músicos muito diferentes: o famoso guitarrista de jazz Bill Frisell; o mestre deukulele Jake Shimabukuro; e o guitarrista e vocalista de Vince Gill.
“Minha mãe escreveu parte da minha história quando me ofereceu aquele piano aos 3 anos de idade. O disco é uma homenagem aquela mulher que me introduziu no mundo mágico da música”, diz Klugh
TOCAR ATÈ NÃO MAIS PODER
Klugh não é um músico que se isola numa redoma. Tem colaborações com vários artistas. O seu perfume pode ser encontrado em mais de 40 discos, entre colaborações e originais. Com Bob James, por exemplo, registou One on One e Two of a Kind and Cool, e com George Benson fez Collaboration. São discos que ficaram nos anais da história do Jazz.
“A ideia é tocar, tocar sempre diz”, secundado pelo tecladista David Lee, seu companheiro nas lides musicais há 23 anos.
E essa vontade não tem fronteiras. Na frente sinfônica, Klugh já produziu mais de 50 temas para orquestras clássicas, cujas peças foram dirigidas pelos multi- Don Sebesky, Dave Grusin, Johnny Mandel e Clare Fischer.E há uma década, o guitarrista levou o jazz de volta para o Broadmoor Hotel and Resort em Colorado Springs com seu projecto Weekend of Jazzevento que já contou com grandes artistas como, Al Jarreau, Chris Botti, Joe Sample, Roberta Flack, Arturo Sandoval, Bob James, Patti Austin, Chuck Mangione, Peabo Bryson, Kirk Whalum, Spyro Gyra e uma série de outros.
"Os fãs sempre me surpreendem", diz ele."Muitos têm histórias e memórias do que a minha música tem significado para eles. É o elogio mais maravilhoso que eu poderia receber", confessa.
Conta também que para além dos eventos de Jazz e digressões (esteve nos últimos tempos no Malawi e Zambia, África do Sul, Japão e Indonésia), participou no Crossroads Guitar de Eric Clapton realizado no Country Music Hall of Fame em honra de Chet Atkins como parte de a exposição Chet Atkins: Certified Guitar Player.
Como compositor e compositor, os créditos de Klugh aparecem em uma ampla gama de gravações de artistas como Aretha Franklin, Jamie Foxx, Roberta Flack, Mary J. Blige, Kenny Loggins, Al Jarreau, Miles Davis, McCoy Tyner e muitos outros.Klugh tem também música produzida especialmente para o cinema.
“Tenho tocado também como músicos como Buffett, Loggins, Brenda Russell e Stevie Wonder”, acrescenta.
Criado num caldeirão musical, Klugh diz que bebeu muito de músicos como Atkins e Wes Montgomery, Sérgio Mendes, Laurindo Almeida e música de violão do Brasil, Argentina e Espanha.As melodias pop de Burt Bacharach e os Beatles, assim como a banda de estúdio Funk Brothers, da lendária Motown, e o piano jazz lírico de Bill Evans.
"Eu amo as emoções que a música evoca, e as histórias que narra", diz ele."Não importa o género, ou estilo, eu posso sempre encontrar algo para desfrutar”, diz antes de revelar que os seus hobbies são a literatura e o cinema.
George Benson em Maputo
O celebrado guitarrista norte-americano George Benson, irá escalar a cidade de Maputo em Junho de 2016 para um espectáculo musical no âmbito do projecto sociocultural “Moments of Jazz”.
O anúncio foi feito no calor do espectáculo realizado na última sexta-feira na Tenda da Fortaleza de Maputo que teve como figura de cartaz o guitarrista Earl Klugh e o moçambicano Cremildo Caifaz.
Belmiro Adamugy
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