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Samuel Dabula relembrado na Rádio Moçambique

Por admin

A Rádio Moçambique , família Dabula e a Fundação Fernando Leite Couto, juntaram-se para prestar homenagem a um homem cujos feitos ainda marcam presença. Professor Samuel Dabula.

O primeiro acto teve lugar estúdio auditório da Rádio Moçambique. Teve como oradores os decanos da Rádio Moçambique, João de Sousa e Luís Loforte. Falou ainda o  investigador Rui Laranjeira.

O segundo momento estava programado para a última quinta-feira, no Centro Cultural Ntsindya.

Filho de  Dabula Nkumbula, pastor da Igreja Presbiteriana e de Marta Lidica Massinga, doméstica nasceu a 23 de Maio de 1915. Foi formado na Escola de Habilitação de Professores Indígenas, em Alvor, na Manhiça. Em 1943 passa para  o Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique. No Centro ele marcou, com seu talento de professor primário e dinamizador cultural jovens da época da gesta e do devir moçambicano.

A escola do Centro era uma das poucas do chamado ensino de adaptação, no contexto do Moçambique colonizado, onde o ensino para indígenas, na época, estava sob a égide da Igreja Católica. 

Das suas salas de aula passaram estudantes que se notabilizaram na vida política, económica e social tais como Eneas Comiche, Mariano Matsinhe, Manuel Magaia, Armando Guebuza, Jorge Tembe, Janet Maximiano, Lúcia e Rosa Tembe, Isabel e Carlota Manguene, só para citar alguns, dentre muitos outros que  foram seus discípulos.

Sendo o Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique uma associação de negros, Dabula não se limitou apenas a cumprir com o mero papel de professor da escola, mas debruçou-se como um dos elementos da direcção, na difícil tarefa de formação do Homem na dimensão sócio-cultural. Com efeito na qualidade de dinamizador das actividades da juventude, nesta associação, criou e dinamizou, no ano de 1943, o grupo dramático, tendo sido também patrono do NESAM: Núcleo de Estudantes Moçambicanos que foi presidada por Joaquim Chissano e Armando Guebuza.

Dentre as várias actividades que este grupo realizou, destacam-se os saraus culturais, que englobavam canto, poesia, música e teatro. Nos anos 50, apresentou três peças de teatro de temática africana (Marrumbo freguês, Mahantsassa e Xigubo) viradas para a educação cívica através da critica dos costumes.  Estas peças de teatro foram escritas, encenadas e apresentadas por si nos palcos do Centro Associativo.

 O Grupo dramático subdividia-se em várias disciplinas, nomeadamente: o  canto, poesia, dança e teatro. No capítulo do canto e dança o grupo, denominado pelos  portugueses de folcrórico, sob a sua direcção, debruçou-se na pesquisa de ritmos e danças para resgatar e desenvolver as danças da região Sul de Moçambique. Estas danças, que antes eram feitas à roda da fogueira e à sombra de uma árvore, designadamente a Marrabenta, o Xingomana, o Xigubo, o Nfena, Makwaela dentre outras, passaram a serem interpretadas e acompanhadas por instrumentos convencionais, nos palcos e nos salões em eventos sociais, onde se popularizaram. Esta atitude veio a quebrar o preconceito de que só praticavam danças nativas os incultos pois, jovens do secundário dançam com brio, o que veio a acontecer com a gravação de um disco interpretado pela Orquestra Djambo com as canções “Elisa gomara saia; Xiwuanana xanga e Bambatela Sábado”, canções já mundialmente conhecidas.

 Aconteceu que, tendo se quebrado este preconceito, vários grupos foram convidados a apresentar espectáculos na cidade de cimento, no auditório da Rádio Clube de Moçambique e em outras casas de espectáculos, para auditórios formados por portugueses, que se deliciavam, quer com a graciosidade da Marrabenta ou com a  virilidade do Xigubo, manifestações culturais a que apelidavam de “folclore”.

FORMAÇÃO COMO PILAR DO DESENVOLVIMENTO 

Samuel Dabula defendia, vezes sem conta, que era preciso estudar pois era importante adquirir conhecimentos que nos iriam facultar a capacidade de discutir a Independência com os portugueses. 

Defendia também que com a ida dos primeiros estudantes a Portugal, para prosseguir com estudos superiores, já se estavam a desenhar os primeiros passos para a obtenção da Independência Nacional. A sua visão era de que se deveria formar 50 advogados, 50 engenheiros, 50 médicos, 50 economistas e assim por diante, para assegurar a existência de quadros para a Independência Nacional.

Foi igualmente Homem do desporto. Aliás, poucas são as vezes que se dissocia o Desporto da cultura. Praticou o futebol como jogador, treinador, presidente da direcção e mais tarde da Mesa Assembleia do Sporting Nacional Africano. Presidiu a direcção da Associação do Futebol Africano de Moçambique.

 PRIMEIRO LOCUTOR NEGRO

Ainda nos meados dos anos 50, Samuel Dabula foi convidado a trabalhar no Rádio Clube de Moçambique com a missão de criar uma emissora de rádio em línguas nacionais, a Hora Nativa, tendo então se tornando no primeiro locutor negro moçambicano.

Na qualidade de locutor da rádio, produziu e apresentou vários programas radiofónicos, de âmbito educativos e  recreativos, sendo de destacar o programa Keti Keti, pelo impacto e grande popularidade que ganhou. O programa realizava-se nos salões do Centro Associativo e era transmitido na Rádio Clube de Moçambique- Sector da  Hora Nativa, já que era falado em línguas nacionais. A Orquestra Djambo abrilhantava este  programa que lhe grangeou muita popularidade, tornando-o num grupo muito apreciado e concorrido. Era um programa de entretenimento que buscava e divulgava novos talentos no canto, dança e música. Artistas de nomeada, como João Wate, João Cabaço, foram descobertos neste programa. São de destacar os momentos de muito bom humor que este programa proporcionava. 

Como locutor de rádio, entrevistou várias figuras famosas, tais como Eusébio, Mário Coluna, Pelé, a cançonetista brasileira Ângela Maria, entre outras figuras de destaque no mundo da arte, cultura e desporto, no quadro do trabalho que executava na área de comunicação social. 

Samuel Dabula faleceu  há 37 anos, no dia 17 de Junho de 1978, e pode se dizer que ele soube marcar um lugar na vida deste país, pelas obras que em vida incansavelmente realizou no ramo do ensino, no âmbito do proto-nacionalismo, na área de arte e cultura, na área de comunicação social, merecendo a sua vida e obra melhor divulgação para servir de referência as novas gerações.

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