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Núcleo de Arte: anos a pintar e esculpir Moçambique

Por admin

A Casa n° 194 da Rua da Argélia, Cidade de Maputo, é um depositário da história de Moçambique em artes plásticas. Acolheu os maiores mestres da arte de pintar e esculpir como Malangatana Valente Nguenha, Alberto Chissano e Gonçalo Mabunda. Actualmente, novos cérebros despontam entre as paredes daquele histórico edifício.

Trata-se do Núcleo de Arteuma organização de carácter cultural vocacionada a promoção, valorização e desenvolvimento das artes plásticas em Moçambique. É a associação de artistas mais antiga e desempenha, desde 1921, um papel importante na vida cultural do país.

Pintores e escultores agrupam-se naquele local onde tem oficinas para desenvolver o seu trabalho e regularmente expõem suas obras.

Alguns artistas trabalham a pintar e outros a esculpir. Aos fim-de-semanas, normalmente, existe uma exposição permanente, visitada por potenciais compradores de obras, como diplomatas, cooperantes, jornalistas, amantes de arte e outros interessados.

O Núcleo foi criado também com o intuito de proporcionar aos artistas um espaço onde tenham acesso a redes e recursos para construírem a sua carreira, e também onde encontrem a sua inclusão e diversidade na maneira como encarar as suas criações artísticas. O mesmo espaço serve também para dar aos amadores, coleccionadores e consumidores das artes plásticas a diversidade, aguçando o seu interesse pelas mesmas.

 

ARTISTAS ESPERAM GRANDES CONQUISTAS EM 2016

O ano de 2015 terminou. Para trás ficaram conquistas, fracassos, alegrias e tristezas que marcaram a vida de cada um de nós. No campo artístico, o país assistiu a realização de grandes concertos, lançamentos de livros e discos, exposições, festivais, entre outros eventos.

A Associação Núcleo de Arte não esteve à margem das boas realizações que marcaram o findo ano. Acolheu uma palestra ministrada pelo académico Severino Nguenha, realizou uma homenagem ao escritor Eduardo White, e hospedou ainda o lançamento de dois livros, para além da realização de vários workshops.

A nossa equipa de reportagem visitou aquela que é uma das melhores casas das artes plásticas moçambicanas para medir o pulsar da organização. Ao meio dia, nas oficinas, encontramos homens a trabalharem e outros embalados numa boa conversa sobre planos diversos.   

 

O balanço do ano 2015 era um tema incontornável. Demos o mote. Foram unânimes em afirmar que as actividades que aquela associação realizou no ano passado foram deveras importantes, porque significaram a consolidação de realizações do passado. Portanto, a continuidade foi o facto.

Por exemplo, houve encontro das artes num mesmo espaço e isso fortifica as relações entre artistas de diferentes especialidades.

O primeiro a falar ao domingo foi Falcão, artista e membro do Núcleo. Encontramo-lo seriamente concentrado no seu trabalho. Estava a esculpir mais uma obra e o sândalo era a madeira sobre a qual esgrimiatoda sua criatividade.

Falcão, 40 anos de idade, é membro da Associação Núcleo de Arte há sensivelmente 20 anos. Quando ingressou para o mundo artístico foi através da música, ramo que mais tarde abandonou após descobrir que tinha pouco talento. Sua inclinação era lidar com madeiras e telas.

Ao Núcleo de Arte juntou-se ainda no início da sua carreira e “aqui aprendi muito, os artistas como Titos Mabote e Gonçalo Mabunda ajudaram-me bastante.”

Para si, o ano transacto foi positivo. No entanto, a nível individual, não teve grandes registos em sua carreira artística. Participou de algumas exposições colectivas com os seus companheiros e não realizou nenhuma individual, pois ainda não se sentia preparado, porque, tal como referiu, “esta é uma tarefa que exige muito”.

Num outro momento afiançou que a venda de seus trabalhos foi apenas suficiente para o seu sustento. Não houve oportunidades para fazer poupança e investimentos elevados.  

Em suas obras usa diversos materiais como tintas, óleos, madeiras de sândalo e pau-preto. A aquisição de tintas tem sido um bico-de-obra, uma vez que no país não há fornecedores de materiais de qualidade. Por isso, recorrem ao estrangeiro ou solicitam apoios de amigos e companheiros de profissão fora de Moçambique.

Já as madeiras de sândalo e pau-preto são de fácil aquisição e adquirem-nas em mercados como Xiquelene e Xipamanine, localizados em Maputo.

 

WORKSHOPS INTERNACIONAIS

Mais adiante, Falcão referiu ter tido pouco intercâmbio com artistas internacionais, uma vez que não saiu do país e não vieram muitos artistas para cá. Segundo ele, o facto da pouca vinda de artistas plásticos de outros quadrantes para o país é causado pela escassez de eventos como workshops internacionais moçambicanos.

Para si, os organizadores e produtores, deveriam estar preocupados em organizar este tipo de iniciativas uma vez isso ajudar a enriquecer a cultura de qualquer povo.

– Há muita coisa a acontecer à volta da arte no mundo que em Moçambique ainda não acontece devido a esta falta de intercâmbio regular, referiu.

Acrescentou que osworkshops permitiriam que a nossa cultura crescesse e fosse até mais conhecida no mundo fora.

Num outro momento ficamos a saber que Falcão gosta de realizar trabalhos colectivos, mas dedica-se mais para os individuais. Faz escultura e pintura.

No presente ano, o artista espera dar continuidade ao projecto de exposição designado “transportes”. Para tal, espera firmar parcerias para o suporte da iniciativa.

Por seu turno, Samuel Djive avançou que economicamente o Núcleo de Arte teve vendas normais e também uma boa afluência do público. Apelou ao Estado a olhar mais pela classe artística no que concerne a apoios financeiros.

Se nos apoiassem na íntegra isso poderia igualmente alavancar a cultura. O que acontece muitas vezes é que quando o artista busca meios para sobressair no nosso país não encontra, então este sai para fora e encontra uma realidade diferente: tem tudo o que 

aqui é uma miragem. Nestas condições ele acaba ficando onde é acolhido.

Acrescentou ainda que assim o nosso país também perde uma massa intelectual, porque a historia destas mesmas pessoas ficará onde elas trabalham.

O artista, que deseja que o presente ano traga-lhe muitas felicidades, muitas actividades e amor, conta que 2015 foi positivo, pois participou de exposições colectivas, projectos com crianças. Actualmente é estudante no Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC). Também é design gráfico e tem uma certa paixão por música.

Por fim conversamos com o artista plástico Mucavel. Bem-humorado, estava descamisado, com um charuto na mão e a produzir mais uma obra para encantar os olhos de seus fãs. Mucavel referiu que 2015 foi um ano de trabalho. Conseguiu vender suas obras normalmente.

Questionado se tem em vista alguma exposição, afirmou que já não é fácil realizar exposição“pois ainda a preparar as obras pessoas que interessam-se pelas mesmas compram e isso faz com que não tenha material completo para expor. Como vivo de arte também não posso impedir as pessoas de comprar”.

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