Internacional

QUESTÃO NUCLEAR COREANA: Jong-Un rejeita o bandwagoning?

O realismo explica as relações internacionais e, por essa via, o comportamento dos Estados com recurso ao argumento central de que a estrutura do sistema internacional é anárquica. E, por essa razão, os Estados que podem mandam e os que não podem obedecem. Portanto, num sistema anárquico como o descrito pelos realistas, onde a ameaça é permanente, os Estados relativamente pequenos enfrentam sempre uma escolha difícil entre o bandwagoning[1] ou aliança[2].

No caso vertente, da questão nuclear coreana, importa realçar que no dia 28 de Fevereiro de 2019 realizou-se a Cimeira de Hanói entre Donald Trump e Kim Jong-Un, que terminou sem o tão almejado acordo de desnuclearização. O fiasco da Cimeira de Hanoi deveu-se ao que Jong-Un apelidou de atitude unilateral e de má-fé. Em contra partida, no dia 25 de Abril de 2019, dois meses mais tarde, Jong-Un esteve na cidade de Vladivostok, na Rússia, onde manteve um encontro com Vladmir Putin, que qualificou-o como amistoso. Para além de ter feito um convite a Putin, que aceitou prontamente.

Os dois eventos acima apresentados descrevem as opções da Coreia do Norte diante de duas potências globais, uma que a ameaça (os Estados Unidos de América) e outra  (a Rússia), que até ao encontro do dia 25 de Abril era, aparentemente, neutra. Se por um lado a pressão unilateral dos EUA visa cooptar ou forçar a Coreia do Norte para, de forma servil, obedecer aos Estados Unidos em troca da retirada da ameaça (bandwagonig). Por outro lado, a atitude amistosa da Rússia reforça a possibilidade de Jong-Un formar uma aliança que vai estabelecer o equilíbrio de poder necessário para neutralizar a ameaça americana à Coreia do Norte. Esta atitude de Jong-Un enquadra-se num sistema internacional não apenas anárquico, mas, sobretudo, multipolar inclusivo. Realce-se que, os EUA gostariam de ignorar a multipolaridade inclusiva, mas que os factos, incluindo a renovação da amizade Rússia-Coreia do Norte, se encarregam de confirmar.   

 


[1]Bandwagoning é o acto de um Estado relativamente pequeno se juntar a potência que ameaça a sua soberania e evitar, por essa via, a materialização da ameaça.

[2]Aliança é o acto de um Estado relativamente pequeno se juntar a outros para enfrentar o Estado que lhe impõe uma ameaça, estabelecendo-se assim o equilíbrio do poder e evitando-se a emergência da hegemonia.

Por Paulo Mateus Wache*
PWache2000@yahoo.com.br

 

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