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Museus: fontes de conhecimento pouco reconhecidas

Por admin

O homem está sempre preocupado em preservar sua história e sua memória. Tem acesso ao seu passado através de relatos ou depoimentos de testemunhas oculares, documentos, textos, ou imagens que habitam num museu. Com isso, não significa que o museu é um caminho em direcção ao passado, é sim um veículo ao serviço do conhecimento e da informação que contribui para o desenvolvimento da sociedade.

Na cidade de Maputo, capital e a maior cidade Moçambique, existem vários museus tais como Museu Nacional de Arte, Museu da geologia, Museu das Pescas, Museu dos Caminhos-de-Ferro, Museu da Moeda, Museu da História Natural, Museu da Revolução (actualmente encerrado ao público).

Cada um destes guarda um conjunto de informações que nos transportam ao passado, presente e nos conduzem a uma profunda reflexão sobre o futuro.

O Museu Nacional de Arte, por exemplo, tem o património artístico cultural, na vertente das artes plásticas; o Museu da Moeda retrata a história das moedas representativas dos tempos passados e actuais do país; o Museu da geologia expõe as nossas riquezas minerais, o Museu das Pescas salvaguarda o património cultural pesqueiro; o da Revolução retrata a história da revolução nacional, entre outros.

No entanto, há poucas pessoas que dão a devida importância e exploram estas instituições que se dedicam à preservação, à análise e à procura de objectos valiosos para o público. R

domingofoi visitar alguns destes locais com vista a inteirar-se do funcionamento dos mesmos, seu quotidiano, e constatou que quase todos andam às “moscas”.

Foram quatro museus que a nossa equipa de reportagem visitou. Em três destes verificou-se quase o mesmo cenário: falta de público. Isso significa que alguns ao dia chegam a receber pouco mais de cinco pessoas, isso para não dizer nenhuma.

Pelo que constatamos, este facto verifica-se mais na época das férias escolares, devido ao facto daqueles espaços serem mais visitados pelo público estudantil, que na maior das vezes o faz por imperativos académicos, e não meramente voluntários. De outro modo não teria explicação tamanha ausência desta massa nos períodos de Novembro a Janeiro. 

Os museus têm variados materiais para serem apreciados e não só. Visitas a estes locais fazem sempre bem ao ser humano. Enriquecem o intelecto. Ali é possível ver como o mundo funciona ao longo do tempo, as suas mudanças, ganhos, perdas, entre outras realidades.

MUSART PRIVILEGIA ESTUDANTES

A nossa equipa de reportagem visitou o Museu Nacional de Arte, Museu da Moeda, Museu da História Natural e o Museu dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique.

O Museu Nacional de Arte foi o primeiro. Existente desde 1989 tem o objectivo de trazer ao público o património artístico moçambicano, na vertente das artes plásticas. No seu interior tem duas salas no rés-do-chão e outras duas no primeiro andar.

Nas primeiras salas são sempre feitas exposições temporárias e nas do primeiro andar encontra-se a exposição central e permanente, de 114 obras de grandes monstros moçambicanos como Malangatana, Naguib, Naftal Langa, Noel Langa, Chissano, Chichoro, Reinata Sadimba, entre outros.

Eram onze da manhã, de uma quinta-feira, quando chegamos. Não estava lá ninguém para visitar o MUSART, como também é conhecido o museu. As salas apenas estavam carregadas de obras esplêndidas, que poucos dão valor. No entanto, ficamos a saber que nem sempre o cenário é aquele. Por vezes, recebem turistas vindos de diferentes cantos do mundo, e também há um fluxo maior nos meses de Fevereiro até Outubro, época escolar.

Tutelado pelo Ministério da Cultura e Turismo, o MUSART, funciona num edifício onde anteriormente funcionou o Instituto Goano, da Associação Indo-Portuguesa. Herdou o espaço para responder a nova função de preservação, estética, educação e valorização cultural com base numa colecção de arte.

Os estudantes são o maior público-alvo da instituição. Segundo a directora, Julieta Massimbe, os estudantes são a camada mais privilegiada para que possam conhecer com toda profundidade aquilo que é a história das artes e posteriormente transmitam a história, seja onde for, com toda fidelidade.

Outra classe que é igualmente privilegiada no MUSART é de turistas, que também constitui um público frequente naquele espaço, sobretudo no período de férias.

Actualmente, o Museu cobra uma taxa de 20 meticais de entrada. No entanto, este valor não é extensivo a estudantes devidamente identificados.

“Também fazemos visitas guiadas as escolas para transmitirmos aos alunos todos conhecimentos relacionados com o que temos aqui”,disse a directora.

As escolas que pretendem visitar os museus devem enviar atempadamente propostas de visita através de uma carta que contem as respectivas datas. Desta forma a instituição também prepara-se para receber estudantes.

Num outro momento, Julieta Massimbe referiu que os estabelecimentos de ensino que mais têm marcado presença no MUSART anualmente são a Escola Primária de Boane, Instituto Nelson Mandela, Escola Primária 3 de Fevereiro, Escola Primária 16 de Junho e Escola Primária 7 de Setembro.

Com algumas destas escolas temos um convénio de no período do verão fazermos as aulas de iniciação artística e workshop com os seus alunos. E no final faz-se uma exposição com os trabalhos que as crianças foram produzindo durante as aulas, disse.

O Museu Nacional de Arte abre as portas de terça a sexta-feira das 11:00 às 18:00 horas. Aos sábados, domingos e feriados funciona das 14:00 às 18:00 horas. Às segundas-feiras está sempre encerrado.

O PATRIMÓNIO DA MOEDA

O Museu da Moeda, localizado no cruzamento da rua Consiglieri Pedroso e da Praça 25 de Junho, na baixa da cidade, é outra instituição que nossa equipa visitou. Tem como tema principal a numismática (ciência que trata, classifica, procura, investiga as moedas, incluindo notas).

Chegamos ao meio dia. Entramos pela porta da rua Consiglieri Pedroso, onde encontram-se duas salas que têm expostas moedas coloniais, o metical em todas as sérias, e as moedas existentes em alguns países africanos e não só.

Jorge Anselmo é o Curador do Museu. Recebeu-nos e predispôs-se a conversar com a nossa equipa. Como o dia era de muito calor, sentamo-nos no jardim do museu. Lugar estava muito fresco. De estatura baixa, o curador do museu é um homem de muita simplicidade. Um historiador impecável. Falou-nos do dia-a-dia daquele museu e guiou-nos nas exposições.

Normalmente, o horário de atendimento ao público varia consoante os dias de semanas. De terças a sextas-feiras, funciona das 11:00 às 17:00 horas (sem interrupção), aos sábados, dias de mais adesão, as portas abrem das 9:00 às 15:30 horas (sem interrupção), aos domingos e feriados as portas abrem as 14:00 e encerram as 17:00 horas. Às segundas-feiras o Museu fecha.

Segundo Jorge Anselmo, o Museu da Moeda chega a receber num mês 200 visitantes de várias origens, estratos sociais, idades. Destas camadas, a juvenil é que mais frequenta o local, sobretudo os estudantes de vários níveis.

Os estudantes, a maior parte, vêm por imperativos académicos e não por iniciativas próprias. Os do ensino superior, por exemplo, muitas vezes vêm porque estão preocupados em fazer trabalho científico, afirmou o nosso interlocutor. 

À semelhança do Museu Nacional de Arte, o Museu da Moeda também cobra uma taxa de 20 meticais e os estudantes devidamente identificados e a instituições não pagam. De acordo com o curador nem sempre foi assim mas notou-se que algumas pessoas entravam no museu não mais para contemplar a beleza existente. Era só para dormir. Para solucionar aquele problema passou-se a cobrar.

Na entrada do lado da praça 25 de Junho, encontra-se uma sala contendo uma exposição sobre a evolução das formas de pagamento. Tem instrumentos como argolas, enxadas, que eram usados para troca. É possível ver também algumas andas, missangas que foram mais usados quando chegaram a Moçambique os árabes e posteriormente portugueses, também para troca.

Na outra sala do lado direito tem uma exposição de moedas que foram criadas para circular nas colónias. Igualmente existem notas que foram emitidas pelo banco ultramarino para circularem apenas em Moçambique. Trata-se das moedas das companhias majestáticas (companhia de Moçambique, Niassa, Zambézia).   

A Casa Amarela é um outro atractivo de público para este Museu que herdou o símbolo da cidade. A Casa Amarela é uma das mais antigas da cidade. Construída no século XIX, é resultado de diversas transformações e adaptações funcionais. Viu crescer a cidade de Maputo. E por isso é também considerado um património nacional.

A Escola Primária Completa de Fiche, localizada em Boane, Colégio Nilía, entre outras, são algumas das escolas do ensino primário que conduzem seus alunos àquele local.

É geralmente na época escolar que também o número de visitantes aumenta por aqui. Chegamos a receber cerca de 400 pessoas ao mês, disse Jorge Anselmo.

PÚBLICO PRESENTE NO MUSEU DA HISTÓRIA

Tutelado pela Universidade Eduardo Mondlane, o Museu da História Natural foi criado em 1913 e tem a função de expor o património faunístico de Moçambique.

Por aqui o cenário é um pouco diferente dos museus acima mencionados. Há sempre afluência do público, independentemente do período do ano.

Recebem maioritariamente estudantes, mas também há um grande fluxo de turistas, sobretudo nos meses de Janeiro e Dezembro. Gradualmente até o período escolar o número destes reduz e aumenta de estudantes.

“Nunca temos faltas de visitas. Apenas registamos diferentes públicos em cada período do ano. Mas sempre temos pessoas interessadas em vir para aqui. Aos domingos as entradas são gratuitas para quem não tem condições de pagar a taxa de 50 meticais”,avançou Lucília Chuquela, directora do Museu.

Esta instituição carrega uma história de um século, provando, assim, a sua resistência à passagem do tempo. Também realiza actividades de educação e investigação e estas por sua vez fornecem material para o património do museu.  

O Museu da Historia Natural contém diversas espécies de grande e pequeno porte, todos trazidos da Natureza. Segundo a directora, com os problemas da caça furtiva que se têm verificado no país e que trazem perda de espécies da biodiversidade, tem havido dificuldades para trazer novas espécies.

Actualmente temos trazido mais informação, usamos vários métodos de alcançar o público, uma vez que este não só está interessado em ver os espécimes como também quer mais detalhes dos mesmos, disse.     

O Museu abre de terça a sexta-feira das 8:30 as 15:30 horas sem interrupção. Aos sábados e domingos das 10:00 as 17:00. As segundas-feiras as portas são encerradas. Para o acesso, cobra-se uma taxa de 50 meticais por pessoa de terça-feira a sábado. Menores de 18 pagam 10 meticais. Aos domingos, o acesso é gratuito.

MUSEU DOS CFM CRIA ACTRATIVOS

O Museu dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM) funciona de terça a sexta-feira das 10:00 às 17:00 horas. Aos sábados, domingos e feriados abre às 10:00 horas e fecha às 16:00 horas. Às segundas-feiras fica encerrado.

O público paga uma taxa de ingresso de 50 meticais. No entanto, para menores de 12 anos e maiores de 60 anos bem como estudantes devidamente identificados a entrada é gratuita. Já a grupos de mais de 15 pessoas é feito um preço especial.

O museu funciona desde 2012, mas só em Junho do ano transacto teve uma inauguração oficial. Segundo Elsa Dimene, chefe de serviço de documentação, estudo e investigação, com a abertura oficial o museu dos CFM passou a receber mais pessoas.

Antes recebíamos visitas mas tinham de ser previamente marcadas. E nem todos tinham conhecimento da existência do museu, disse.

O museu tem três salas. Uma contém toda a história e datas importantes do CFM, objectos de sinalização, carro bombeiro, alavancas, diferentes tipos de pedras que a empresa exporta, diferentes carris, antigamente usados pelos trabalhadores dos CFM.

A outra sala tem material de circulação como carruagens, zorras, locomotivas a vapor, e até um comboio. Já a última tem materiais de comunicação, entre outros utensílios.

Apesar de todo património que o museu apresenta, no dia que a nossa reportagem fez-se ao local encontrou apenas duas pessoas, acima de 50 anos a abrilhantarem-se com toda aquela riqueza.

No dia anterior parece que o dia tinha sorrido um pouco: estiveram no local pouco mais de 10 pessoas contra as duas que, até nossa retirada, vimos no museu.

A nossa entrevistada referiu que só aos finais de semana e feriados o museu tem recebido um número razoável de visitantes. Maior afluência regista-se no período escolar. Muitos alunos e estudantes comparecem. Turistas também, sem deixar de lado embaixadas e singulares.

À entrada, na estação central, encontra-se uma exposição temporária que já dá uma visão do que se pode ver no museu e de forma a atrair mais público.

Com vista a chamar atenção do público, o museu criou alguns atractivos como proporcionar passeios de comboio para fazer com que as pessoas, para além de visitar a exposição, tenham ideia do que é viajar de comboio.

Vamos até onde as pessoas querem. Isso faz-se mediante um pagamento para o trajecto desejado.No entanto, as viagens de comboio só são feitas quando há um mínimo de 200 pessoas, afiançou Elsa Dimene.  

Refira-se que, ainda no Museu dos CFM, tem à venda alguns artigos como canecas, bonés, camisetas e sacolas com estampas desta empresa. Segundo constatamos, estes produtos têm sido mais adquiridos por estrangeiros.

Maria de Lurdes Cossa
habsulei@gmail.com
Fotos de Inácio Pereira

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