Artes & Letras

Murais de Naguib oferecem nova paisagem a Songo

Dois mega-monumentos gémeos, com pintura e design do artista plástico Naguib, configuram cenário de sonho à vila de Songo, agora renascida sob o signo da liberdade. Trata-se de murais com história de tempos idos, mas com testemunho dos tempos actuais, marcados, 

assim pelo cruzamento de mitos, pinceladas de História e sobretudo pela ânsia do devir.

 

O primeiro monumento, o mais impotente e imanente, retrata, segundo o autor, a história da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) sob o ponto de vista cultural, reflectindo igualmente o contexto histórico do país desde a escravatura até a sua reversão a favor do Estado moçambicano.

De referir que a construção destes murais assentou na simulação de estruturas da barragem, sem descurar o retrato da serpentina visitada e revisitada pelas águas da albufeira.

A unidade nacional, desta feita destilada no quadro do que a HCB representa pela reserva de potência destinada a todos os moçambicanos, é outro tema que Naguib explora nesta obra.

O tema “unidade” está mais presente no segundo monumento, chamado propositadamente Monumento da Unidade, já considerado o primeiro comunitário no país.

Historiadores da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) foram ouvidos tanto na produção do primeiro como do segundo monumento, este último marcado pela figura de Senduana, uma espécie de cobra que aparece de mil em mil anos, anunciando algo nobre.

Naguib explica que este animal tinha sido aprisionado por colonos portugueses quando souberam que anunciava o empreendimento de Cahora Cassa  na vila de Songo, em Tete.

O seu regresso, hoje, encimando o monumento erguido, traz uma revelação óbvia: a Hidroeléctrica de Cahora Bassa está ali imponente e pertence aos moçambicanos. “Os portugueses devolveram a senduana”, explica Naguib ao domingo.

Mais não é tudo: uma gigantesca estátua, de sete metros de altura, bem ao lado do monumento, consagra a unidade, revelando o busto de uma mulher em passadas largas rumo ao futuro.

Com um bebezinho bem apertado ao peito, ela foge apressadamente do passado de escravidão e aponta aos moçambicanos um futuro que pode ser risonho se prevalecer o sentido de união. Nesta obra, o futuro é representado pelo recém nascido bebé.

Naguib, que ainda se encontra em Songo, para as pinceladas finais da sua obra, explica que levou 121 dias a trabalhar, com apoio de 21 artistas, dos quais 8 foram graduados pelo Instituto Superior de Artes e Cultura (ISArC).

O primeiro monumento ocupa uma área de dois hectares e o segundo tem 120 metros de comprimento e sete de altura, representando uma experiência única no país.

Falando sobre estas obras, o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, disse que a vila de Songo, onde está a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, deixará de ser apenas destino para turismo ou para a compra de energia eléctrica, passando igualmente a figurar no roteiro cultural do país.

Naguib disse que desenhou e pintou por vontade de deixar algo perene e notável na província que o viu nascer. “Sou daqui. Sou nhungue”, sublinhou.

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