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Moçambique no “Women Theatre”

Por admin

A peça teatral “Psicose 4:48”, adaptação e direcção de Maria Atália Cambane, participa esta semana no “Women Theatre Festival” na cidade sul-africana de Johannesburg, evento cultural de prestígio internacional que tem o condão de apresentar espectáculos dirigidos e interpretados essencialmente por mulheres.

Com interpretação da actriz Milsa Ussene e acompanhamento musical de Rolando Alexandre, a peça conta a história de uma mulher que vive no limiar da sanidade e da loucura devido a uma grande insatisfação com a vida, com o amor e tudo que a rodeia.

A história original (texto da dramaturga inglesa Sarah Kane – 1971 – 1999) possui duas personagens, porém, a en­cenadora moçambicana optou por fazer um monólogo. A primeira actuação do grupo de Moçambique será no dia 24 de Outubro.

Segundo Belmiro Adamugy co-produtor, a encenadora trabalha com a (des)fi­guração como um dos elementos-chave que atravessa o corpo da personagem e se repercute, de maneira violenta, na es­trutura dramática do texto. Na desfigu­raçãoda personagem, o corpo é levado a estados intensos, como o transe e o gozo, até à figuração mínima onde há apenas voz e gestos.

A música, executada fundamental­mente com base em instrumentos tradi­cionais, joga um papel de particular importância. Ela, a música, não é apenas uma trilha sonora; faz parte do mundo insano em que a personagem vivida pela actriz está mergulhada.

A fala, seca e precisa, por vezes gu­tural, funciona como uma extensão deste “corpo” cuja voz e discurso são explorados até à exaustão. As identida­des desfeitas ou não fixas também são características presentes neste trabalho de Maria Atália, em que o lugar de onde a voz fala é constantemente desestabiliza­do. Estruturalmente, os elementos como o tempo e o espaço também sofrem de­sestabilizações.

O tempo – que é tratado ora de modo impreciso, ora obedecendo a um ritmo rigoroso – é (des)construído por elemen­tos diversos como a repetição, a desar­ticulação da fala, as respirações pontu­adas, os gritos quase demoníacos, etc. O espaço, igualmente instável, é também violentado. O espaço, ao invés de ponto de apoio, ganha mobilidade. A noção de “enredo” também é desconstruída de maneira progressiva ao longo da propos­ta que Maria Atália nos apresenta nesta sua versão de Psicose 4:48.

Refira-se que o grupo moçambicano irá apresentar dois espectáculos – sendo um o do encerramento do festival no próximo Domingo – para além de que a encenadora Maria Atália irá orientar uma oficina sobre dramaturgia e encenação.

O festival arrancou na última sexta-feira com o espectáculo “Distant Faces”, interpretado por actrizes sul-africanas sob direcção da encenadora moçambicana Maria Atália. Distant Faces é da autoria da sul- africana Ntshieng Mokgoro, por acaso directora do Festival.

 

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