Política

Perdas económicas estão fora de controle

A Organização das Nações Unidas (ONU) emite hoje, Domingo, uma advertência à comunidade de negócios do mundo na qual indica que as perdas económicas causadas por desastres “estão a ficar fora

 de controlo e vão continuar a crescer, a menos que a gestão do risco de desastres se torne uma parte essencial das estratégias de investimento das empresas”.

A emissão deste posicionamento será feita em precedência da realização do IV Fórum Global para a Redução de Risco de Desastres que inicia nesta terça-feira na cidade suiça de Genebra, na qual vai tomar parte uma delegação moçambicana, composta por representantes do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD), Universidade Técnica de Moçambique (UDM) e do jornal domingo, único órgão de informação nacional convidado pela Organização das Nações Unidas para a Redução de Risco de Desastres (UNISDR). 

Segundo o Secretário-Geral, Ban Ki-moon, os governos têm a responsabilidade para a redução do risco de desastres. Mas o nível de risco também está relacionado com os locais e a forma como o investimento é feito pelo sector privado, que é responsável por 70 a 85 por cento do investimento mundial em novos edifícios, indústria e infra-estruturas críticas para o desenvolvimento.

“Nós realizamos uma revisão de perdas de desastres em 56 países e descobrimos, de forma surpreendente que as perdas directas resultantes de inundações, terremotos e secas têm sido subestimadas em pelo menos 50 por cento. Até agora, neste século, perdas directas de desastres estão na faixa de dois triliões e 500 milhões de dólares.  Isto é inaceitável, quando temos o conhecimento para reduzir as perdas e incrementar os ganhos”, disse.

Para Ban Ki-moon , as perdas económicas causadas por desastres estão fora de controlo e a sua redução só pode ser possível com o estabelecimento de uma forte parceria entre o sector público e o sector privado, incluindo bancos de investimento e companhias de seguros.

O Secretário-Geral das Nações Unidas aponta ainda que por muito tempo, os mercados têm colocado ênfase na busca de retornos de curto prazo do que na sustentabilidade e na capacidade de resistir aos fenómenos naturais mas, dada a forma cíclica e cada vez mais severa com que os desastres ocorrem, já começa a haver o entendimento de que a redução da exposição ao risco de desastres não é um custo, mas uma oportunidade para tornar os investimento mais atraentes no longo prazo.

No quadro da realização da IV Plataforma Global sobre a Redução de Risco de Desastres, Ban Ki-moon lança hoje um relatório tido como inovador que contém novos dados, incluindo bancos de dados sobre perdas resultantes de desastres, respostas da pesquisa feita em 1300 Pequenas e Médias Empresas (PME´s).

Nesta componente, foi descoberto que três quartos das 1300 PME´s sofreram interrupções nos negócios resultantes da danificação de linhas de transporte de energia eléctrica, telecomunicações, serviços públicos de água, entre outros, o que demonstra a interdependência entre os sectores privado e público, quando se trata de gestão de risco de desastres.

No entanto, apenas uma minoria das empresas pesquisadas (cerca de 14,2 por cento), com menos de 100 funcionários, tinha uma abordagem de base para a gestão de calamidades na forma de planificação de continuidade de negócios.

Trata-se do Relatório Global de Avaliação da Redução de Riscos de Desastres (GAR13) intitulado “Criação de Valor Compartilhado: o Caso dos Negócios para Redução de Risco de Desastres” que destaca como a transformação da economia global nos últimos 40 anos levou a um rápido aumento do risco de desastres em países de baixa, média e alta renda.

No GAR2013 são analisados três sectores-chave de investimento globais, nomeadamente o desenvolvimento urbano, agronegócio e turismo costeiro, e são revelados os modelos de negócios existentes em cada sector capazes de continuar a conduzir ao risco de desastres.

Neste documento, foi incluída uma revisão da gestão de risco em 14 grandes empresas, nomeadamente a ABB, ARUP, BG Group, Citigroup, General Electric, HCC Group, HIRCO Group, Hitachi Group, InterContinental Hotels Group, Nestlé E, NTT East Corporation, Roche, Shapoorhi Pallonji & Co. Ltd., e Walmart.

Joseph Rizzo, representante de uma empresa de consultoria ligada às Nações Unidas, afirma que “trabalhar com estas 14 permitiu identificar elementos críticos para a boa prática na redução do risco. “Ficou claro, a partir de nossas discussões que altos executivos estão cada vez mais conscientes da vulnerabilidade de seus negócios e já começam a priorizar o fortalecimento de sua gestão de risco”.

O relatório também identifica sinais encorajadores de mudança no que se refere às parcerias público-privadas na gestão de riscos que estão a provar a sua importância durante vários desastres ocorridos na última década em diferentes partes do mundo.

Um novo modelo de avaliação de risco global, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para a Redução de Risco de Desastres (UNISDR) e seus parceiros, demonstra que as perdas médias anuais provocadas por terremotos e ventos ciclónicos podem estar na faixa de 180 mil milhões dólares neste século.

O relatório constitui um forte argumento de que a globalização, a busca por redução de custos, maior produtividade e entrega na hora estão a conduzir a negócios em locais de risco propensos ao risco e com pouca ou nenhuma consideração pelas consequências sobre as cadeias de abastecimento globais.

Segundo a chefe da UNISDR, Margareta Wahlstrom, o mundo está a registar um contínuo crescimento da população, rápida urbanização, mudanças climáticas e uma abordagem de investimentos que não toma em conta o risco de desastres, e essa combinação gera um elevado potencial de perdas futuras.

“Na esteira da crise financeira global, do risco de desastres se destaca como uma nova classe que gera triliões de dólares de activos tóxicos e de passivos não realizados. As perdas económicas catastróficas provocadas por terremotos e tsunamis no Japão, inundações na Tailândia, e a tempestade Sandy mostram claramente a extensão do que está em jogo”, refere.

Wahlstrom diz ainda que o início da mudança de atitudes no sector privado agora precisa transformar-se numa abordagem mais sistemática para a gestão do risco de desastres em parceria com o sector público para tornar o mundo um lugar mais seguro.

No quadro da realização do IV Fórum Global para a Redução do Risco de Desastres, os diferentes membros da delegação moçambicana, vão dissertar em diferentes painéis sobre a evolução dos programas do Governo com vista a uma melhor gestão das calamidades que se abatem sobre o país, consciencialização e envolvimento do sector privado na redução de risco de desastres e formação de quadros nas universidades nacionais sobre matérias afins.

 

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