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Encantos a partir da palha

Por admin

Na avenida da marginal, bem nas bermas da praia da Costa de Sol, em Maputo, encontra-se um grupo de homens que, há décadas, se dedica ao artesanato. Trata-se de cerca de 50 artesãos que com simples ferros e palhas fazem verdadeiras obras de arte, capazes de encantar qualquer alma com bom gosto.

Vasos, cestos, malas, cómodas, cadeiras, mesas, guarda-fatos, estantes, camas e candeeiros, são alguns dos objectos produzidos por aqueles artesãos que se dedicam a arte de esculpir a palha.

Muitos, hoje verdadeiros pais de família, começaram a trabalhar a palha ainda em tenra idade e nunca experimentaram actividades diferentes desta. Segundo contam, não foi por falta de opção. Foi sim pelo amor do resultado que obtêm a cada final de um trabalho.

Para preparar aqueles utensílios os artesãos chegam a levar um a sete dias, dependendo da complexidade do produto. “Coisas como candeeiros, cestos para cabazes levam menos tempo em relação a mesas que saem com cadeiras, pois são mais complexos”, disse um dos artesãos, Mário João Sitoe.  

Mário João Sitoe, 45 anos de idade, começou esta actividade nos anos 80. O seu cunhado, esposo da irmã, foi o responsável pela paixão que invadiu o seu coração. Actualmente é pai de família e garante: é daqui que vem o meu pão de cada dia.

Em conversa com o domingo, referiu que no início trabalhavam em casa e só posteriormente deslocaram-se à praça do destacamento feminino. No entanto, no ano de 2001, foram transferidos, pelo conselho municipal, para o espaço que actualmente ocupam.

Em 2010 organizaram-se em grupo e fundaram a Associação Artesanato de Palha. Entretanto, antes desta, tinham um grupo o qual designavam Cooperativa. Segundo nossa fonte, “a Cooperativa era na verdade uma espécie de associação criada por volta dos anos 80. A sede situava-se no bairro da Polana Caniço”.

No início apenas 10 indivíduos faziam parte da Cooperativa e só anos mais tarde o número de membros aumentou. “Actualmente a associação está com cerca de 50 membros”, disse.

Questionado sobre como está a venda das mobílias por eles produzidas, referiu que actualmente as coisas já não vão de vento em pompa como antigamente, é que “esta actividade já não é muito rentável. Agora, sobretudo neste ano, produzimos muito mas os clientes estão escassos”, afirmou.  

Acrescentou quea estas alturas do ano, por exemplo, era suposto estarmos a receber muitas pessoas à procura de cestinhos de cabazes mas isso não está a acontecer. Está tudo parado.

PAIXÃO PELO TRABALHO

Os artesãos precisam de dois materiais essenciais para preparar as mobílias. Trata-se da palha e do ferro. O primeiro item é para os acabamentos e embelezamento dos produtos e o último é responsável pela forma.

O mercado do Xipamanine é o local onde adquirem a palha vindo principalmente da Província de Inhambane e da Ponta do Ouro, província do Maputo. Já o ferro é adquirido nas diferentes ferragens da cidade de Maputo.

De acordo com o artesão, uma vez adquiridos os ferros são levados, com os respectivos modelos, para os serralheiros. O nosso trabalho é muito apaixonante. Antes de fazer as mobílias criamos os esqueletos de modo que possamos por fim decorá-las com palhas. Muitas vezes temos de coordenar com serralheiros.

Refira-se que os clientes da associação são de diferentes partes do país e não só. No entanto, actualmente, os que mais compram os productos são cidadãos nacionais, quando no passado os maiores clientes eram estrangeiros.

Segundo o nosso entrevistado, ao longo destes anos, uns saíram e outros entraram na associação. No entanto, avançaque “o segredo desta convivência é a irmandade. Aqui cada um tem suas mobílias mas todos vendem um para o outro, somos todos irmãos e todos estamos à procura do nosso sustento e das nossas famílias”.

DIFICULDADES

O espaço que a associação ocupa foi disponibilizado pelo município. No entanto, os membros ressentem-se da falta de algumas condições básicas. Trata-se de armazéns, que suportem todos os produtos, casas de banho condignas e água.

Gostaríamos que o município erguesse-nos uma feira de artesanato, que possa acolher os nossos matérias pois o que temos actualmente é improvisado e nem todo material cabe, disse.

Para perpetuar a actividade, os artesão tem trabalhado com alguns jovens familiares, entre filhos, sobrinhos e aqueles que desejam aprender. Mesmo quando não pudermos trabalhar queremos ver esta actividade a avançar por isso estamos a passar os nossos conhecimentos aos mais novos.

Refira-se que os preços dos produtos são determinados muitas vezes pela escolha do cliente, sendo o tamanho um factor crucial para a definição da quantia a pagar. As cadeiras tipo sofás, por exemplo, variam de 7 a 12 mil meticais. O guarda-fato custa 6 mil meticais. Já os candeeiros partem de 300 até 1500 meticais.

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