O jornalista Belmiro Adamugy, nosso colega de Redacção, referiu semana finda em Maputo, quando ministrava uma aula de jornalismo cultural no Teatro Mapiko, na Casa Velha, que a função específica daquele ramo é a crítica, uma vez que escreve análises críticas e comentários sobre determinada obra ou artista.
Na ocasião, Adamugydirigia-se a alguns jornalistas, aos fazedores de teatro e ao público em geral, tendo referidoque geralmente o crítico especializa-se em determinada arte ou estilo e procura ter sólida formação teórica (ou académica) para sustentar as suas opiniões. O texto da crítica é usualmente subjectivo, mas com alicerces sólidos. Pela informação técnica que o crítico coloca nos seus textos, o receptor terá mais dados para fazer a sua própria avaliação, frisou.
Paralelamente isso, o jornalista destacou ainda a crítica no campo teatral. Para si,a crítica acompanha o exercício quotidiano da criação teatral. Deixa sinais de seus passos em uma ou outra direcção, mas estes sinais por sua vez, não devem ser vistos como referências inequívocas ou infalíveis, uma vez quesão registos que foram e continuarão sendo resultado dos olhares pessoais daqueles que a partir de diferentes posições, leram, concluíram, instrumentalizaram, descobriram os possíveis alcances das imagens teatrais, não importando seu suporte nem a forma concreta com que são apresentadas ao espectador ou ao leitor.
Fazer crítica é um acto solitário de ler e assistir teatro e uma forma de participar do discurso, construído uma cena, onde actores e espectadores façam visível o encanto das narrativas que ambos constroem, como representações de outros universos criativos ocultos e pulsantes, acresceu.
Por outro lado, avançou que ao desenvolver a crítica no teatro, o que o jornalista faz nada mais é que ler através dos espectáculos, dos espectadores, dos textos dramáticos, da história do teatro, das poéticas e dos livros, e até mesmo de muitas outras fontes, do imaginário subjacente a todo o momento e nas dimensões da teatralidade que a cada um lhe são contemporâneas e, a partir dessa perspectiva, interpretar, reinterpretar e inventar várias noções do teatro no futuro.
Eric Bentley dizia algo como cada teatro tem a crítica que merece. Temos que saber dividir responsabilidades. A qualidade do produto pode servir de catalisador para que se escreva sobre o teatro, rematou.
Refira-se que a aula apresentada por Belmiro Adamugy enquadra-se nos eventos paralelos agendados pela Associação Cultural Girassol para a presente edição do Festival Teatro de Inverno, que é também organizador do mesmo.
